Uso desenfreado de remédios na pandemia pode desenvolver doenças mais resistentes

Por Thays Cunha

No último mês de novembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou uma campanha de conscientização e mobilização em relação a resistência microbiana, que é “a capacidade de microrganismos resistirem aos efeitos dos antimicrobianos”, pois com isso ocorre a redução ou eliminação da eficácia desses medicamentos em prevenir ou curar infecções.

A preocupação é válida uma vez que estamos passando por uma pandemia na qual um vírus vem infectando e causado muitas vítimas. Desse modo, como medo de ficarem doentes ou de irem a um hospital em busca de tratamento, muitas pessoas acabam por ingerir diversos medicamentos por conta própria sem saberem quais os efeitos, a dosagem correta, duração do tratamento e até mesmo se aquilo que utilizam é realmente o indicado para o seu problema.

Esse uso incorreto e desenfreado de medicamentos sem acompanhamento pode gerar problemas de saúde como intoxicações, alergias e efeitos colaterais, assim como mascarar sintomas sérios, fazendo com que o doente adie uma terapia adequada. Porém, um problema ainda mais grave advém desse comportamento: a probabilidade de que as doenças já conhecidas acabem ficando ainda mais resistentes e difíceis de curar, fazendo assim então mais vítimas.

AUTOMEDICAÇÃO

A automedicação ocorre, como o próprio nome diz, quando uma pessoa administra em si mesmo algum medicamento. Isso é bastante comum quando surgem alguns problemas que parecem mais leves, como dores de cabeça, por exemplo. Desse modo o indivíduo não se preocupa o suficiente para procurar ajuda médica. No entanto, tal prática pode vir a ocultar doenças graves, impedindo um diagnóstico precoce.

Outro ponto preocupante que pode ocorrer a quem se automedica é a interação medicamentosa, que ocorre quando vários remédios são ingeridos juntos. Há então o perigo de que essa “mistura” venha a potencializar efeitos colaterais ou causar intoxicação.

ANTIMICROBIANOS

Dentre todos os medicamentos mal utilizados, a maior preocupação se dá em relação aos chamamos antimicrobianos, uma classe e fármacos ampla que inclui antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários usados para prevenir e tratar infecções em humanos, animais e plantas, ou seja, além do uso para tratamento de doenças em humanos, os medicamentos antimicrobianos também são usados em larga escala na saúde animal, como em criações de bois, vacas, porcos, galinhas, cavalos, peixes e camarões, entre outros. Também são utilizados em animais de estimação, como cães e gatos. A agricultura é outro setor da economia que utiliza produtos antimicrobianos na produção de alimentos. Portanto, o combate ao problema deve ser feito de forma organizada em várias frentes, nos campos da saúde humana, animal e vegetal.

RESISTÊNCIA

A Organização Mundial da Saúde (OMS), referência global em questões de saúde pública, lista as bactérias, os fungos, os vírus e os parasitas como microrganismos com capacidade de adquirir resistência aos medicamentos que são utilizados para eliminá-los. Exemplos de doenças que podem ser tratadas com medicamentos antimicrobianos são: tuberculose, pneumonia, amigdalite, sinusite, infecção urinária, meningite, gonorreia, sífilis, hanseníase, febre maculosa e tétano, entre outras.

A resistência pode ocorrer naturalmente, mas o uso indevido e excessivo de antimicrobianos em humanos, animais terrestres e aquáticos, plantas e colheitas está acelerando bastante esse processo. Assim, os microrganismos acabam desenvolvendo formas de “driblar” os efeitos desses medicamentos. Quando conseguem fazer isso e escapar da ação dos fármacos, eles se tornam resistentes, ou seja, os tratamentos se tornam ineficazes.

Para evitar que isso aconteça, uma das ações a serem adotadas é não tomar antimicrobianos por conta própria, ou seja, não praticar a automedicação. Isso porque, para que esses medicamentos atinjam o efeito desejado, eles exigem uma administração adequada e indicação correta. Então, aspectos como dosagem, período recomendado para o tratamento e os intervalos de tempo entre uma dosagem e outra devem ser seguidos à risca, pois são importantíssimos para atingir o objetivo de eliminar o microrganismo que está causando a doença.

Não praticar a automedicação tem relação direta com outra recomendação das autoridades e profissionais de saúde: medicamentos antimicrobianos devem ser recomendados e receitados por um profissional de saúde. Ou seja, é preciso ter uma prescrição. Mas atenção: nunca exija medicamentos se o profissional de saúde disser que você não precisa deles. Siga corretamente as orientações recebidas em serviços de saúde. E nunca compartilhe sobras de medicamentos antimicrobianos.

Por último e não menos importante, prepare os alimentos de forma higiênica, seguindo as cinco chaves da OMS para uma alimentação segura (manter os produtos limpos, separar os crus e cozidos, cozinhá-los bem, mantê-los em temperaturas seguras, usar água e matérias-primas seguras). Escolha alimentos produzidos sem o uso de antibióticos para a promoção do crescimento ou prevenção de doenças em animais saudáveis.

CONSCIENTIZAÇÃO

O combate à resistência microbiana aos antimicrobianos pode evitar mortes, invalidez e reduzir a necessidade de cuidados mais intensivos e internações mais longas nos hospitais. Também pode ajudar a preservar os medicamentos que já existem, reduzindo a necessidade do uso de fármacos mais caros ou que causem mais reações adversas como alternativas para o tratamento de doenças em humanos, animais e plantas. Além disso, apesar da necessidade de novos antimicrobianos ser urgente, as pesquisas e o desenvolvimento desses medicamentos leva anos, o que torna ainda mais importante a preservação dos antimicrobianos existentes.

Além da redução de riscos e danos à saúde, a conscientização e o enfrentamento da resistência microbiana aos antimicrobianos diminuiria gastos para todos os setores envolvidos, especialmente na área da saúde, reduzindo despesas para o Sistema Único de Saúde (SUS) e demais afetados.  (Com informações da Avisa)

RG 15 / O Impacto

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