Falta de água em Santarém: um problema antigo
Por: Marcos Lago Pires
Um Sistema de Abastecimento Hídrico, por alto, trata-se de um compilado de ações para a captação, tratamento e distribuição de água potável para o uso humano. Quem fica responsável pelo acesso da população a esse bem fundamental é o sistema de distribuição, sendo formado por um conjunto de tubulações e bombas hidráulicas que permitem levar água desde a estação de tratamento até os ramais domiciliares.
O Brasil possui uma das mais altas disponibilidades hídricas do mundo; em contrapartida, a distribuição por região no país é bastante desigual. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA), a região Sudeste possui uma densidade demográfica de 86,92 hab/km² e apenas 6% dos recursos hídricos totais do país. Já o Norte brasileiro,possuindo 68,5% dos recursos totais, tem a menor densidade demográfica dentre as regiões, com 4,12 hab/km². Santarém – conhecida como a Pérola do Tapajós – é a terceira maior cidade do Pará e ponto turístico internacional, e mesmo localizada na região Norte, ainda sofre com a falta de água constantemente. Mas por que isso acontece?
Frequentemente o cidadão santareno acorda recebendo a notícia de que haverá interrupção no fornecimento de água em algum ponto da cidade, problema esse que algumas vezes ultrapassa 24 horas. A Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará), responsável pelo abastecimento da cidade, periodicamente informa que suspende o fornecimento de água para fazer manutenções ou troca de tubulações na maioria dos casos. Se fosse feita de maneira organizada e efetiva, a manutenção em si não seria um problema, visto que melhoraria a qualidade de vida da população; no entanto, o que veiculam nos portais de notícias são manutenções que duram dias e chegam a deixar dezenove bairros sem água durante o período, por exemplo. Isso expõe uma gestão precária por parte da companhia e do governo, especialmente no que tange à questão da logística.
A trajetória da Cosanpa até os dias atuais é um caminho conturbado. Usada por sucessivos governos, enfrentando o sucateamento e afundada em dívidas, a companhia se vê a um passo da privatização. Segundo Estudo da GO Associados que analisou 20 companhias estaduais brasileiras de saneamento, a Cosanpa, após não passar nos critérios financeiros do teste (baseado no Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento), mostrou despesas contínuas maiores que a sua receita. Como se não bastasse a situação financeira precária, ela ainda teve seu nome citado em escândalos de corrupção envolvendo o atual governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), bem como o senador Paulo Rocha (PT). Em 2014, houve uma abertura de inquérito para averiguar um pedido de 30 milhões de reais em propina à Odebrecht para financiar a campanha eleitoral dos políticos que, segundo delatores, agiram juntos em troca de viabilizar uma possível privatização da companhia.
No final das contas, quem paga o preço por tanto descaso e balbúrdia é a população. A despesa ao providenciar galões de água por conta própria em momentos de suspensão do fornecimento é um dos maiores exemplos disso. Inclusive, vale ressaltar que raramente a Cosanpa disponibiliza caminhões-pipa para suprir o abastecimento durante a interrupção. A situação se agrava ainda mais nas famílias de baixa renda, uma vez que com pouquíssimo poder aquisitivo se veem obrigadas a utilizar água de fontes alternativas – muitas vezes até imprópria para o consumo – o que acarreta diversos problemas de saúde.
Uma boa gestão do sistema de abastecimento hídrico – especialmente nas fases de tratamento e distribuição – reflete na melhora da qualidade de vida da população, reduzindo os índices de proliferação de doenças. Só assim os investimentos (leia-se “gastos”) atuais nesse serviço seriam economizados em outros setores públicos futuramente – tal como na saúde – e poderiam, então, ser remanejados para outras repartições a fim de ofertar à população uma vida melhor, mais digna e saudável, frente às responsabilidades e possibilidades do Poder Público.
O Impacto