Hemofílico é impedido de fazer exames após ter documentos furtados

“Aposentadoria foi adiada, pois o laudo médico para perícia também foi levado”

Na manhã de segunda-feira (7/2), o carpinteiro identificado como José Stone Pereira da Silva, 52 anos, procurou a redação do Jornal O Impacto após ser vítima de furto na madrugada do dia 12 de janeiro, na Avenida Barão do Rio Branco, entre Marechal Rondon e Presidente Vargas, as proximidades do Centro de Referência da Saúde da Mulher, situado no bairro Santa Clara, em Santarém.

De acordo com a vítima, era por volta das 2h da madrugada quando foi abordado pelo indivíduo conhecido pela alcunha de “Jambinho”. Na ocasião foram levados uma pasta com documentos contendo carteira de identidade, CPF, título de eleitor, certidão de casamento, laudos médicos, além de três relógios de pulso, duas caixinhas de som, um óculos de grau, um óculos de sol, duas peças de roupas femininas e uma quantia em dinheiro no valor de 260,00 reais.

“O meliante chegou a confessar para mim! Após eu estar na delegacia ouvi alguns comentários e as pessoas me deram alguns conselhos que  não cabia na minha cabeça, e não vai caber de forma alguma, de fazer mal a ninguém, me fez esse mal, mas eu não tenho intenção de fazer mal à ele. Levei ele até na delegacia, inclusive, cheguei lá. Não tinha delegado para prender dele, então eu acabei ficando a mercê, mas eu estou aqui! Não estou querendo falar nada da polícia, ela faz o trabalho dela, infelizmente eu não tive  sorte”, contou.

Segundo José Stone, o furto da pasta com todos os documentos e laudos médicos adiou sua aposentadoria no INSS, a qual faltava realizar a última etapa, que seria a perícia médica e dificultou também seu atendimento para realização de dois exames: o de endoscopia digestiva (esofagogastroduodenoscopia) e colonoscopia (coloscopia), marcados nos dias 11 e 14 de janeiro no  Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA).  Conforme relatado pelo carpinteiro, mesmo em posse de documentos e antes de ser vítima do furto, a tentativa de realizar os exames já se prolonga a cerca de um ano, ele teve até que entrar com uma ação judicial contra a unidade de saúde, pois não chegava o prontuário especificando há quanto tempo está tomando sangue.

“Fiz uma procuração para descobrir porque que eu tomo sangue há cerca de  quatro anos. E nunca me deram um laudo para saber qual essa doença que tenho, porque não é normal eu tomar sangue esse tempo todo. E os médicos dizem que eu tenho muita sorte de estar vivo. Quero descobrir porque de 120 a 120 dias tenho que tomar 6 bolsas de sangue, mesmo sendo hemofílico. Não tenho carteira, não tenho nada, não posso viajar, não posso sair daqui pra nenhum lugar, corro risco de com 120 dias eu morrer, o máximo que dura. O pedido de exame era com 30 dias, eles passaram 5 meses para dá uma primeira resposta”, lamentou.

Natural da comunidade rural de Arapacu, situado no  município de Óbidos, o carpinteiro se mantém há 3 anos em Santarém para realizar os procedimentos de hemodiálise que devem ocorrer no período de 120 a 120 dias para melhorar a coagulação sanguínea. “Muito difícil para eu me locomover para lá e para cá, e agora com tudo isso eu fiquei com as mãos atadas. Por esse motivo decidi ficar em Santarém mesmo, onde eu tomo sangue”.

Embora passe por algumas limitações em decorrência do seu estado de saúde, José Stone busca uma oportunidade de emprego para melhorar as condições de vida de sua esposa e três filhos, além de atender as suas necessidades básicas que é poder se alimentar sem depender da ajuda de terceiros e sair da moradia a qual atualmente mora de favor.

“Minha maior vontade é não deixar minha família passar fome. Hoje eu vivo pedindo ajuda na rua por ter perdido minha aposentadoria, fui no INSS, remarquei para daqui a 7 meses para retornar  novamente, para ver se eu consigo me aposentar. Infelizmente eu pedi esse período, se não tivesse pedido, mas eu já pedi, devido ser difícil de tirar documento. Nós só encontramos vaga no INSS para daqui esses meses, mas ainda bem que está  remarcado já”, finalizou.

O boletim de ocorrência foi  registrado na 16° Seccional Urbana de Polícia Civil com identificação do fato que configura furto simples especificado nos crimes contra o patrimônio público do Código Penal Brasileiro. Os documentos pessoais furtados, até o fechamento desta reportagem não haviam sido encontrados e o suspeito continua em liberdade.

Nota de esclarecimento HRBA

A assessoria de comunicação do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), ao ser questionada sobre o impedimento na realização de exames do paciente, nos informou que José Stone compareceu à unidade para realização de exame no dia 11 de janeiro, mas estava sem acompanhante, o que impossibilitou a realização do procedimento, que é invasivo e feito com sedação, conforme protocolos.

De acordo com a nota, o HRBA argumenta que a equipe explicou ao paciente sobre a necessidade de um acompanhante e remanejou o procedimento para o dia 26 de janeiro, porém, o paciente não compareceu. A assessoria destaca também que a informação de não execução do procedimento por falta de documentos não procede, apesar de ser obrigatória a apresentação de documentos de identificação (com foto) e cartão SUS para quaisquer procedimentos no hospital, conforme normativa do Sistema Único de Saúde.

O Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) por fim esclarece que em caso de furto ou extravio, o usuário tem a alternativa de apresentar boletim de ocorrência policial para a equipe de atendimento. A identificação correta do paciente no momento da admissão é a 1ª de seis metas internacionais de segurança, estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e praticadas pelo HRBA.

Por Diene Moura

O Impacto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *