Bombeiros do MT reforçarão combate a incêndio que já dura 12 dias e destruiu mais de 5 mil hectares em Jacareacanga
Um incêndio que já dura 12 dias em Jacareacanga, no sudoeste do Pará, vem afetando animais, refúgios e, nesta sexta-feira (2), chegou a alterar o funcionamento de uma pousada. Hóspedes e funcionários foram evacuados por segurança. Já são mais de cinco mil hectares queimados, de acordo com análise técnica das imagens do satélite Sentinel-2.
Segundo informações da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação (Rede Pró UC), o fogo teve início em uma área particular e fugiu do controle. O proprietário da área já foi autuado e multado por infrações ambientais outras vezes, de acordo com a Rede.
O fogo atinge o Refúgio de Vida Silvestre “Rios São Benedito” e “Azul” e também outras áreas particulares. A queimada já chega no Onçafari e no Instituto Raquel Machado.
Na tarde desta sexta-feira (02), o fogo atingiu a Pousada São Benedito. Ao g1, o gerente administrativo do estabelecimento, Sandro Paukoski, informou que a suspensão do atendimento seguirá até que o fogo cesse. Havia 14 turistas na pousada.
“Meu negócio praticamente acabou. Estou sem hóspedes, mas estou mais preocupado com a floresta, com a vida selvagem que está se perdendo”, diz Sandro.
De acordo com a Rede Pró UC, a torre de comunicação da região também foi queimada e há tentativa de defender a estrutura de madeira. Há registros de animais silvestres correndo perdidos em meio à área devastada, segundo a organização não governamental.
A região atingida pelo fogo fica na divisa do Pará com o Mato Grosso, cerca de 100 km da cidade de Paranaita (MT) às margens do Rio São Benedito, na bacia hidrográfica dos rios Teles Pires e Tapajós, e tem como atrativo o ecoturismo, o turismo de pesca esportiva, além de possuir unidades de conservação, que atrai pesquisadores.
A diretora-executiva da Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, Angela Kuczach, diz que há descaso com a região.
“Faz dias que essa área tá queimando, faz dias que estamos pedindo socorro para essa região para que o fogo seja combatido e nada aconteceu. Não foram enviados bombeiros em número suficiente, a Brigada Nacional não foi acionada e agora chegamos nesse ponto. Floresta tropical não pega fogo sozinha”, diz Angela.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) informou que uma equipe esteve no Refúgio da Vida Silvestre dos Rios São Benedito e Azul e realizou autuações a fim de punir os responsáveis pelos crimes ambientais cometidos.
“Durante a permanência da equipe no local foram lavrados autos de infração e de apreensão”. A Secretaria informou ainda que monitora a situação e que continua apurando os fatos. Policiais do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) e do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) integraram a ação.
Ajuda vem do Mato Grosso
Bombeiros do estado do Mato Grosso estão em deslocamento para a cidade de Jacareacanga. De acordo com o coronel, Ranie Sousa, o apoio é devido à complexidade do incêndio.
“A princípio o fogo é de grandes proporções, mas só teremos certeza quando a equipe chegar no local”, disse o coronel do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso ao g1.
O Corpo de Bombeiros Militar do Pará e Coordenadoria Estadual de Defesa Civil informaram que há uma guarnição da Operação Fênix atuando ativamente no local desde a semana passada com apoio do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) no transporte de efetivo e sobrevoos na área, e que outra aeronave está em deslocamento para auxiliar no combate às chamas no local.
Região possui biodiversidade rara dentro do bioma amazônico
De acordo com Rede Pró UC, a biodiversidade do sul da Amazônia é uma biodiversidade rara dentro do bioma amazônico e a região afetada pelo incêndio representa o último cordão verde, que tem papel de proteger contra o desmatamento.
“A gente tem ali uma abundância de espécies que não tem outras partes, porque Amazônia e cerrado se encontram nessa região, então tem um número alto de espécies que só se encontra ali. Ela significa o último cordão verde, impedindo que o desmatamento invada do sul para o norte. Então quando a gente fala de perda dessa área, a gente fala de perda de espécies que só existem ali, de uma área cada vez mais sendo exposta para outros tipos de uso, como soja e pastagem, o que traz consequências graves para a questão climática. Um exemplo disso é que a água que evapora da floresta chove no centro-oeste e no sudeste e isso tá sendo perdido”, explica a diretora da Rede.
Ela lembra que há dois anos, era o Pantanal que pegava fogo, mas houve uma grande mobilização para controlar as chamas, o que não tem acontecido no caso de Jacareacanga.
“Naquele momento houve um esforço gigantesco da sociedade civil que se prontificou a ajudar a apagar o fogo. Dessa vez, a gente não tá tendo apoio de governo algum, e na verdade, cada vez mais interessa que o fogo se propague porque uma vez queimada, essa área pode ser ocupada com pasto e depois com soja”.
Fonte: G1
Foto: Sandro Márcio Paukoski