Pesquisadora da Uerj reuniu lista de músicas de Rita Lee que foram censuradas durante ditadura militar
Rita Lee foi uma das cantoras com maior número de músicas censuradas durante a ditadura militar no Brasil. Segundo Norma Lima, doutora em literatura e professora da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), são dezenas de músicas vetadas, inclusive um disco inteiro, o “Bombom”. Norma pesquisa a vida da rainha do rock brasileiro há mais de 30 anos. Rita Lee morreu na noite da última segunda-feira (8), aos 75 anos.
De acordo com a pesquisadora, Rita Lee trazia críticas à moral e aos bons costumes da época, se mostrando uma mulher à frente do tempo.
De Rita, saíram letras como “Me faz de gato e sapato, e me deixa de quatro no ato” e “mulher é bicho esquisito, todo o mês sangra”, trecho questionado pela censura por fazer menção ao ciclo menstrual.
Segundo a pesquisa de Norma Lima, não há como mensurar, mas estima-se que dezenas de músicas de Rita tenham sido alvo de censura.
Algumas das músicas censuradas:
- Barriga de mamãe
- Afrodite, que se chamaria Banho de Espuma
- Cor de Rosa choque
- Lança Perfume
- Bobagem
- Papai, me empresta o carro
- De leve, que cantou com Gilberto Gil
- Gente fina é outra coisa
- Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock n’ roll
- Perigosa, que cantou com As Frenéticas
- x-21
- Arrombou o cofre
- Top Top
- As duas faces de Eva
- Muleque Sacana
Ditadura censurou música por ‘incitar à rebelião’
Biógrafo de Rita Lee, o jornalista Guilherme Samora teve acesso a documentos do Arquivo Nacional que mostram os argumentos usados pelos censuradores da Ditadura Militar para impedir que as músicas da cantora fossem divulgadas. Ele destaca duas músicas que foram alvo de censura: “Arrombou o cofre” e “Degustação”.
Um dos arquivos obtidos alega que Rita Lee infringiu a Lei de Segurança Nacional ao citar políticos da época. Por esse motivo, os censuradores decidiram vetar “Arrombou o cofre”.
“Trata-se de composição contendo críticas de cunho político que descambam para o insulto de personalidades públicas como suas excelências os deputados Ivete Vargas, Paulo Maluf, Ministros Beltrão, Mário Andreazza e Delfin Neto, do General Golbery do Couto e Silva, do vice-presidente Aurelino Chaves e dos senhores Jânio Quadros e Solange”, diz o documento do Arquivo Nacional.
E continua:
“Nos versos finais:
‘Cabeças vão rolar, que tal a gente apostar?;
Incêndio, incêndio, incêndio!;
Pegou fogo o berço esplêndido!’
A música faz parte do álbum Bombom, que foi alvo dos censuradores. Segundo Guilherme Samora, o álbum censurado é “um dos discos mais lindos da Rita”.
“Proibida a rádio difusão e a execução pública das faixas ‘Arrombou o cofre’ e ‘Degustação’. Venda proibida a menores de 18 anos. Ele [o disco] vinha lacrado da loja. E a primeira leva do disco veio riscado. Tem duas músicas riscadas, as pessoas passavam gilete porque não podiam ser tocadas. Isso era a mando do governo da ditadura, através do órgão de censura. Mas, é um dos discos mais lindos da Rita”, disse Guilherme.
Fonte: G1
Imagem: Divulgação