Crime ambiental na Matinha e Juá

As áreas de maior concentração da biodiversidade em Santarém (PA) continuam a ser alvo de degradação. Denúncias de moradores das proximidades relatam a retirada de barro e pedra em diferentes setores na área urbana. “A extração ocorre durante o dia, para todo mundo vê. É um entra e sai de caminhão de uma empresa. Todos saem lotados com o barro do pé da serra da Matinha”, disse a denunciante. Ela narra revoltada a ação na base da serra, o local dessa atividade fica às margens da BR 163, na Rodovia Santarém/Cuiabá, no bairro da Matinha. No local existe uma empresa funcionando nessa linha de comercialização.

A moradora que não quis se identificada, diz que fica com medo com a chegada das chuvas. Medo de desabamento, a exemplo do ano de 2010, quando ocorreu um princípio de desmoronamento na área. “Isso é crime ambiental, a Serra da Matinha está toda modificada com essa prática de extração do barro. A mata que envolve a serra também vai sumindo junto. Não vemos nenhuma ação dos órgãos competentes. Aí, quando ocorre a tragédia, todos se mexem e querem achar os culpados. Mas, a prevenção não é feitas pelos órgãos”, denuncia a moradora.

Nesse mesmo tom de reivindicação, a coordenadora do Movimento dos Trabalhadores na Luta por Moradia (MTLM), Margarete Ferreira, afirma que as leis ambientais só foram feitos para os ricos. “No setor que fomos retirados por três vezes por meio de força policial, fomos identificados como os vilões do meio ambiente e por ser uma área de uma família tradicional da cidade. Agora, a ação que está sendo feita na área segue tranquila, todos os dias ocorrem retiradas de pedra. Agora, cadê a fiscalização? Não vemos nenhuma. No local da escavação ficam crateras e a vegetação também é atingida com a escavação das pedras”, denuncia Margarete. Ela se refere à área que foi ocupada, às margens da Rodovia Fernando Guilhon. Tanto pela margem esquerda como pela direita. A última retirada das famílias ocorreu no mês de outubro de 2011.

A coordenação do movimento critica a falta de fiscalização das instituições ambientais. “Quando nós fizemos o movimento de ocupação na área, foi por uma causa justa, estávamos em busca de um lugar para morar. Em nosso movimento temos famílias que vivem de aluguéis ou encostados em casas de parentes. Nós lutamos dentro do próprio movimento para as pessoas não ultrapassassem o limite. Vetamos a ocupação a 150 metros antes da praia. O motivo era preservar ao redor do Lago do Juá. Agora vamos continuar a lutar pela preservação. De injustamente denunciados como os destruidores da área do Juá. Agora vamos denunciar essa lei que só existe para quem tem o poder, enquanto, o pobre sofre. Saímos do local por ordem judicial e pela promessa verbal do Secretário de Habitação, Beto Frazão, que iria liberar as casas do Programa Minha Casa, Minha Vida para 300 famílias do movimento. E vamos cobrar o prometido”, disse a coordenadora do MTLM.

Nossa reportagem procurou a gerência da empresa para esclarecimentos sobre a denúncia dos moradores do bairro da Matinha. Mas, até o fechamento da edição não recebemos resposta. Procuramos, também, a chefia de fiscalização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente sobre os dois casos, da retirada de pedras nas proximidades do Lago do Juá e na extração de barro ao pé da Serra da Matinha. No entanto, não recebemos informações sobre o caso.

Por: Alciane Ayres