CRM vai investigar médicos citados no caso Jordy
O Conselho Regional de Medicina (CRM), órgão que fiscaliza a atividade dos médicos, vai investigar a citação dos nomes de dois ginecologistas nas conversas entre o deputado federal Arnaldo Jordy e uma ex-namorada que, grávida, é orientada sobre as possibilidades de um aborto. O pedido de apuração partiu de um dos citados no diálogo, o médico Amaury Braga Dantas, apontado por Jordy como um dos profissionais a quem poderia pedir informações sobre uma possível interrupção da gravidez.
O documento com pedido de apuração foi protocolado nesta semana no conselho. Segundo a assessoria do CRM, o caso é sigiloso. O prazo para que a apuração seja concluída é de 30 dias, podendo ser prorrogado por mais 30. “Tenho sido citado, incomodado e tenho uma vida pública, um nome”, diz o médico, afirmando ser “natural e até necessário que o órgão que fiscaliza a profissão tome providências”. Braga Dantas voltou a afirmar que, embora tenha relações de amizade com o deputado Jordy, não foi sequer procurado para tratar do assunto. “Não conversarmos sobre isso, nem antes, nem depois do vazamento dos áudios”.
NA INTERNET: Três áudios de conversas entre o deputado federal e uma mulher identificada como Josy foram postados no site de vídeos YouTube e têm gerado polêmica. Nos diálogos, em clima sempre tenso, a mulher argumenta contra a possibilidade de interromper a gravidez. “Tu estás pensando que a minha vida é fácil, que eu vou pegar, chegar contigo e dizer Tá bom, eu vou fazer o aborto?”.
O deputado responde que embora a decisão não seja fácil, “é uma decisão”. Em outro trecho, o parlamentar se compromete a pagar as despesas com um psicólogo para que a moça supere o trauma.
Os médicos são citados na segunda parte das conversas, que vazou na semana passada. “Eu posso chegar com o doutor Valdir Mesquita ou posso chegar com o doutor Amaury Braga Dantas: doutor Amaury, o senhor que é especialista, o que é que o senhor pode dizer de um lugar tranquilo, seguro, clinicamente definido… Ele já me disse: Jordy, isso aí não tem problema. Isso aí acontece… Eu já vivi situações desse tipo com outras pessoas. Não tem nenhum problema. É a mesma coisa. Interromper uma concepção. A pílula do Dia Seguinte interrompe uma concepção. Dez dias depois tem um processo que interrompe uma concepção”.
Em entrevista coletiva logo após o primeiro vazamento, o deputado confirmou que a voz nos áudios é sua e admitiu também os diálogos com Josy, mas negou que tenha incentivando o aborto.
O vazamento das conversas dividiu opiniões. Defensores de Jordy argumentam que trata-se de assunto privado que não deveria chegar a público. De outro lado, há os que defendem a divulgação, já que trata-se de um parlamentar supostamente incentivando um crime previsto no código penal.
Quando deputado estadual, Jordy presidiu a comissão parlamentar de combate à pedofilia e publicamente é um defensor dos direitos humanos.
MP TAMBÉM APURA: Os promotores Lucinery Resende, Sandro Castro e Mário Brasil, do Núcleo de Violência Doméstica Contra a Mulher do Ministério Público do Estado também pediram apuração por considerar que a pressão sobre Josy se configura violência contra a mulher. Por ter foro privilegiado, o pedido foi encaminhado ao procurador-chefe, Antônio Barletta.
Fonte: Diário do Pará