ONG tenta camuflar ação predadora da Cargill
Instalada em 34 países com a missão de defender o meio ambiente, segundo diz em sua página na internet, a ONG estadunidense The Nature Conservancy (TNC) não evitou a extinção da única praia urbana da cidade de Santarém, Vera Cruz [o certo é Vera Paz], tampouco, a devassa de um sítio arqueológico, a poluição do Rio Tapajós e o aumento de desmatamento na região, fomentado pela ação da Cargill.
Criada em 1951, a TNC, com seu escritório central nos Estados Unidos, chegou ao Brasil na década de 1980 e desde o princípio teve suas ações voltadas para a região amazônica. Em Santarém, conforme consta em sua homepage, “trabalhamos em parceria com a Cargill para apoiar mais de 150 produtores de soja”. Para Gilson Rego, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Santarém, não há dúvida: “essas (ONGs) que trabalham explicitamente para a Cargill estão trabalhando com os sojeiros no sentido de fortalecer cada vez mais a soja na região”.
E, ainda, acusa: “a TNC recebe dinheiro da Cargill para fazer a limpeza do ‘sangue derramado’, ou seja, maquiar e repercutir de modo positivo todas as ações da empresa, tanto em nível nacional, quanto internacional”. Deste modo, no site da TNC, também consta suas ações benéficas em prol da comunidade, “capacitando jovens líderes: fornecendo as ferramentas e técnicas necessárias para a gestão de terras indígenas”.
Em nota, a CPT de Santarém, classifica tais ações “como um excelente serviço à empresa, pois à medida que ganha a confiança dos movimentos, se definem como protagonista da luta e desarticulam as possíveis ações consistentes dos movimentos populares locais”.
Desmistificando
Para o professor de agronomia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Fernando Micheloti, há de ser desmistificada a atuação dessas ONGs, na região, que dizem agir preocupadas com o meio ambiente, pelo simples motivo de ser incompatível a forma de atuação da Cargill e a questão ambiental. “Os monocultivos são contraditórios à preservação da natureza, do solo e dos rios, justamente pela quantidade de veneno que se utiliza nesse tipo de plantação”.
O fator econômico, para o professor, é outro elemento que transforma o discurso de ONGs, como a TNC, em mera falácia. “Não existe trabalho com a comunidade que resista a uma das maiores plantadoras de grãos do mundo. Ou a população local passa a ser submissa ao poderio econômico implantado pela grande empresa, abandonando seu modo camponês de produção, diversificado e respeitando a natureza, ou vai embora para a cidade”, conclui.
Marcio Zonta
de Santarém (PA)
No site Brasil de Fato