MILTON CORRÊA

FERROVIA? E A BR 163 QUANDO SERÁ TOTALMENTE ASFALTADA?

De acordo com matéria assinada por Danilo Fariello, do  iG Brasília e publicada em 31/08/2011, é interesse da China a construção da ferrovia ligando Santarém ao estado do Mato Grosso, para tornar mais ágil e eficiente o escoamento da soja – entre outros produtos – de cidades como Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop, no norte do Mato Grosso. Diz o jornalista que hoje esse trajeto é feito pela rodovia BR-163, que passa pelas mesmas cidades. Esse fato voltou a ser instrumento de alarde em recente encontro em Brasília, quando o Ministério dos Transportes anunciou o Plano de Ferrovias para o país, incluindo a construção de uma linha ferroviária unindo Santarém a Lucas do rio Verde no Mato Grosso.

E A BR 163 QUANDO SERÁ TOTALMENTE ASFALTADA?

Cadê o anúncio do Ministério dos Transportes de valores em reais a serem investidos no asfaltamento total da BR-163(Santarém-Cuiabá) e por que os nossos deputados federais, estaduais e governo do Pará não cobram isso? O que falta? Coragem ou decisão política para a concretização de um asfaltamento que se arrasta a mais de três décadas e até hoje não foi concluído, que o digam os que fazem uso da BR -163.

O QUE DIZ O LIVRO

Em texto assinado por Fábio de Castro, da Agência FAPESP, em 24 Horas News (15 de Agosto de 2007), a história da rodovia BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA), revela muito sobre a insustentabilidade dos modelos de desenvolvimento da Amazônia nos últimos 30 anos, caracterizados por políticas públicas descontínuas, exploração econômica irracional, exclusão social e devastação ambiental.

Diz o Jornalista que “esse é o cenário traçado no recém-lançado livro BR-163 — De estrada dos colonos a corredor de exportação, de Messias Modesto dos Passos, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Presidente Prudente.

Estudioso da Amazônia mato-grossense desde 1984, Passos avançou gradualmente, em suas pesquisas, até a região de Santarém. O livro nasceu de quatro viagens de automóvel feitas pela BR-163 e é um dos resultados de um projeto de auxílio à pesquisa apoiado pela FAPESP. A publicação inclui um DVD com vídeos e fotos.

De acordo com o geógrafo, quando a estrada foi inaugurada, em 1976, no contexto do Plano de Integração Nacional (PIN), a expectativa era abrir caminho para a colonização e para o desenvolvimento.

“Milhares de pessoas foram atraídas para lá, mas hoje constatamos que o sonho delas, de acesso a terra, não se realizou: as políticas públicas originais foram abandonadas e substituídas por um modelo produtivista. O resultado foi exclusão social e domínio das grandes corporações em detrimento das preocupações socioambientais”, disse Passos…

COLONOS ABANDONADOS

De acordo com Passos, desde a origem da BR-163, o PIN estabeleceu uma política de assentamentos que criou uma assimetria territorial em termos de desenvolvimento. O trecho sul da estrada de 1.764 quilômetros se desenvolveu mais, entre outros fatores, por ser beneficiado com mais assistência pública por conta do desmembramento do estado do Mato Grosso.

“Além disso, no Pará, de Santarém até Aruri, no cruzamento com a Transamazônica, foram assentados principalmente colonos nordestinos, com menos recursos. No lado mato-grossense, os colonos eram dos estados do Sul, mais capitalizados”, explicou.

A partir da crise do petróleo de 1973, as políticas públicas se voltaram para a colonização comercial e a colonização social foi abandonada. “Com a sedimentação do agronegócio, houve apoio do mercado internacional na parte mato-grossense, mais desenvolvida. Na outra ponta, ficaram os colonos praticamente abandonados”, disse.

Com esse processo, a estrada deixou de ser uma via de colonização para se transformar em corredor de exportação. “Muitas áreas desmatadas pela colonização estão agora abandonadas. As áreas de desmatamento para plantação, principalmente de soja, foram avançando em direção a Santarém, onde há o porto da Cargill. O que explica isso é a logística de transportes”, afirmou.

BR -163 IRMÃ DA TRANSAMAZÔNICA

O site www2.rodoviasevias.com.br, em matéria assinada  por Luiz Salgado diz que a Cuiába-Santarém é irmã gêmea da Transamazônica. A construção de ambas foi o assunto nacional mais noticiado no início dos anos 70. Foi a principal peça de propaganda da ditadura Médici, que apontava as rodovias como “obras épicas” e grande solução para a maioria dos problemas do Nordeste, “com muita gente e pouca água” e da vasta Amazônia, “com muita água e praticamente desabitada”.

Parecia que o governo queria resolver graves problemas socioeconômicos, simplesmente com a aplicação do princípio dos vasos comunicantes. Com esses enfoques governamentais, as notícias sobre as estradas saíam em toda a imprensa brasileira e em muitos jornais e revistas do exterior…

Para os nacionalistas – especialmente os existentes nas Forças Armadas – as estradas que desenhavam uma grande cruz no mapa do Brasil eram resposta a uma grande preocupação que chegava a ser paranoica: a de que os grandes vazios demográficos da Amazônia viessem a ser invadidos pelos Estados Unidos (então atolados até as orelhas no pântano da Guerra do Vietnã) ou pela força da fome de 700 milhões de chineses.

Luiz Salgado relata que a BR-163, Cuiabá-Santarém foi à gêmea que deu certo, pelo menos no aspecto econômico-social. Embora fosse a menos falada, tinha uma grande vantagem sobre a Transamazônica: ligava sua região ao Brasil desenvolvido do centro-sul e, assim, era a rota natural para a migração de paranaenses, catarinenses e gaúchos para a Amazônia. Isso atraiu para a região servida pela 163 grandes investimentos de colonizadoras privadas, enquanto a Transamazônica só teve áreas colonizadas pela emperrada máquina estatal do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, atendendo uma população muito mais carente.

FIQUE CLARO

Fique claro que não somos contra a ferrovia que planeja ligar Santarém ao Mato Grosso, mas que seja dado prioridade ao asfaltamento pleno da Rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163),    que se arrasta a mais de três décadas e as nossas autoridades precisam explicar à população brasileira, por que esse asfaltamento não foi até hoje concluído. Afinal, a BR 163 é entendida como uma rodovia de integração nacional. Mas sem asfalto? Como? Com a palavra as autoridades do Brasil e do Pará.

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