Anderson abusa da brincadeira, é nocauteado por Chris Weidman e perde cinturão do UFC
O que parecia impossível aconteceu. Anderson Silva, 38 anos, o melhor lutador peso por peso do UFC, foi nocauteado no segundo round da luta contra o americano Chris Weidman e perdeu o cinturão de campeão dos médios, que ostentou por seis anos e nove meses. Chegou ao fim o reinado do Spider, uma invencibilidade de 16 lutas na maior franquia de MMA do mundo, onde o brasileiro jamais tinha sido derrotado. Recordista de vitórias seguidas no UFC (17) e de defesas de título bem-sucedidas (10), Anderson foi superado de forma surpreendente na madrugada deste domingo (horário de Brasília), no MGM Grand, em Las Vegas.
— Parecia surreal — admitiu o novo campeão, Chris Weidman, que se disse fã de Anderson. — Eu trabalhei muito para isso e quis tornar realidade o meu sonho — acrescentou.
Anderson nega, mas a verdade é que ele subestimou o adversário, de 29 anos, que segue invicto no MMA, agora com dez vitórias em dez lutas. O brasileiro abusou do estilo provocativo, que já mostrara em outras ocasiões, e pagou caro por isso. Anderson manteve a guarda baixa, chegou a colocar as mãos na cintura algumas vezes e fez gestos para que Weidman partisse para cima e lutasse. Pouco antes de ser atingido pelo soco de esquerda que o derrubou, Anderson fingiu ter ficado tonto e balançou as pernas, num sinal de que debochava da pegada do rival. Na sequência, foi de fato atingido na ponta do queixo e desabou, já apagado. Assim que o então campeão caiu, Weidman avançou e ainda acertou mais dois socos, antes de o árbitro Herb Dean interromper a luta.
O presidente do UFC, Dana White, tinha dito que se Weidman vencesse Anderson teria direito à revanche.
— Quero dar um tempo para mim mesmo, estou há muito tempo defendendo esse cinturão, é uma pressão muito grande. É claro que isso não é desculpa, ele foi melhor do que eu. Mas quero fazer as outras coisas que faço, extra luta. Só vou pensar nisso (revanche) daqui uns dois ou três meses- disse Anderson na entrevista coletiva.
Indagado se vai se aposentar, deixou a dúvida no ar:
— Talvez, meu foco é voltar para casa, ver minha família e meus filhos. Não queria ter perdido, mas não é sempre que a gente pode ganhar — resumiu.
Sobre ter sido desrespeitoso, negou, e tentou demonstrar humildade:
— As pessoas vão falar muitas coisas, que ele teve sorte e que eu menosprezei o Chris. A gente tem que respeitar o novo campeão. Eu dei o meu melhor, ele deu o melhor dele. Ele venceu. É isso.
‘Ele é um gênio’, diz Weidman
O comportamento dentro do octógono, em evidente arrogância, Anderson garante que é apenas estratégia, que costuma usar para desestabilizar os rivais.
— Sempre luto dessa forma, estava tentando induzir ele (sic) a fazer o que eu precisava, mas ele foi melhor. Tenho que agradecer aos meus fãs e pedir desculpas a todos eles. Nenhum campeão é para sempre — disse, em entrevista ao Sportv, logo após deixar o octógono.
A tática de fato deu certo no fim do primeiro round. Depois de ser dominado por Weidman, que partiu para cima e colocou o então campeão no solo e quase o finalizou, Anderson se desvencilhou, voltou a ficar em pé e começou a provocação. O americano sentiu. A atitude de Weidman mudou, ele passou a parecer assustado com os gestos do brasileiro. Anderson dançava, oferecia o rosto, conversava com Wiedman, gesticulava para que ele atacasse. Ao fim do round de abertura, vencido por Weidman, Anderson o cumprimentou com um beijo no rosto.
— Ele é um gênio, ele entra na cabaça das pessoas. A gente esperava que ele fizesse isso, não acho que ele estivesse sendo desrespeitoso, é o estilo dele. Mas tentei não me importar com isso e continuar fazendo o meu trabalho — contou Chris Weidman.
Na volta para o segundo round, Anderson parecia que tomaria as rédeas do combate. Soltou um chute que por pouco não pegou em cheio. E aí, surpreendentemente, desistiu da luta. Abusou da brincadeira e desrespeitou, sim, o adversário, o público, em geral, e os fãs, em particular. Foi castigado. Weidman emendou uma sequência de socos, que Anderson não defendeu. Apenas tentou se esquivar, com guarda baixa. Um pegou de raspão, e o brasileiro simulou ter sido nocauteado, trançando as pernas. O americano não se impressionou. Seguiu atacando e encaixou uma bomba de canhota com o punho. Anderson caiu com os olhos revirados, derrotado.
— Eu me sinto feliz, porque fiz meu trabalho. Luta é luta, a gente pode perder ou ganhar, o Chris foi melhor do que eu. O esporte é isso, eu não sou invencivel nem imbativel, todo mundo viu isso. O Chris foi melhor, eu treinei muito, mas ele foi melhor — comentou o Spider.
Dana White, assim como todo mundo, parecia perplexo com o resultado. Embora tenha evitado comparar o comportamento de Anderson ao que ele teve na luta em Abu Dhabi contra o compatriota Demian Maia, no UFC 112, em 2010. Naquela ocasião, vitorioso, Anderson foi tão desrespeitoso que chegou a ser repreendido publicamente pelo chefão do UFC.
— Pensei que tivéssemos deixado isso no passado – afirmou Dana, num primeiro momento, entrevistado pelo Sportv, ao falar do episódio com Demian Maia. – Não sei por que ele continuou fazendo aquelas brincadeiras (na luta contra Weidman). Ele é um tipo de cara que acredita demais no próprio talento, ele sabe do que é capaz. Mas brincou um pouco demais com o Weidman — concluiu Dana.
O dirigente não acredita que Anderson vá parar e garantiu que a revanche com Weidman ocorrerá logo.
— Quem conhece Anderson Silva sabe. Não há algo que ele queira tanto quanto essa revanche. E será em breve — prometeu o dirigente.
Apesar disso, Dana White disse que dará tempo a Anderson para pensar seu futuro.
— É justo, e eu respeito isso — declarou.
Os resultados do card principal:
Chris Weidman venceu Anderson Silva por nocaute
Frankie Edgar venceu Charles do Bronx por decisão unânime
Tim Kennedy venceu Roger Gracie por decisão unânime
Mark Munoz venceu Tim Boetsch por de cisão unânime
Cub Swanson venceu Dennis Siver por nocaute
Brasileiros no card preliminar:
Gabriel Gonzaga nocauteou Dave Herman. Também por nocaute, Edson Barboza derrotou Rafaello Oliveira.
Fonte: O Globo