Morre em Belém o carnavalesco João Bosco Moisés

João Bosco Moisés
João Bosco Moisés

A década de 1980 ainda não entrara na primeira metade e uma nova boate era inaugurada “embaixo” da Assembleia Paraense. O nome, convenientemente se chamava ‘Porão’. O idealizador da boate, João Bosco Rufino Moisés, tinha grandes planos para o empreendimento. Mas de início viu o local agonizar sem um pé de valsa sequer no local.

Teve uma ideia simples, mas inventiva. Pôs alguns parentes na porta da boate e sempre que um ou outro curioso assuntava, dizia que a casa estava lotada. Foi assim durante um mês. Quando decidiu liberar o espaço o zumzumzum já havia se espalhado pela cidade e a boate passou a ter noites lotadas.

Era dessa forma pouco convencional, mas geralmente ousada, que Bosco Moisés investia nos próprios empreendimentos. Como carnavalesco mudou a cara da folia em Belém. Como político, levou mudanças ao município de São João de Pirabas. E até como contraventor foi inovador. O JB foi durante muito tempo a principal marca do jogo do bicho na capital.

O político que da última vez que concorreu a um cargo eletivo declarou ter pouco mais de 600 mil reais de patrimônio sempre andou no limiar. Nascido em Benevides no dia 12 de maio de 1939, Bosco Moisés só completou o ensino fundamental, mas foi amealhando bens por conta do faro de empresário. Terminaria os dias com o nome ligado a pelo menos quatro empresas.

Mas se há um legado fundamental na trajetória de Bosco Moisés, remista inveterado, ele está ligado diretamente ao carnaval paraense. No início da década de 70 foi responsável pela criação de dois blocos de sujos que deixaram saudades nos foliões mais antigos. O “Unidos da Bandalheira” e o “Macaco Porrada” eram sinônimos de diversão numa época em que o carnaval era mais simples. O segundo se concentrava nas escadarias do Teatro da Paz antes de ganhar as ruas da cidade.

Logo depois Bosco Moisés criou uma célebre roda de samba no Ginásio Serra Freire, do Clube do Remo, com os ritmistas do Império Serrano. Daí para a criação do Bloco Xavante foi um passo. Com os integrantes usando vestimentas indígenas o bloco estreou em 1974 e no ano seguinte já era campeão no concurso carnavalesco oficial da Prefeitura. O bi veio em 1976. Entraria para a história carnavalesca de Belém o samba enredo composto e gravado por Wando para o Bloco Xavante no primeiro ano da agremiação. O local de ensaio da bateria era embaixo das arquibancadas do estádio Baenão.

O Xavante durou até 1977. Depois Bosco Moisés namorou e foi cortejado pelo Rancho Não Posso me Amofiná, do Jurunas. Entrou como colaborador em 1978 e ficou até meados de 1988. Foi um dos principais responsáveis pela construção da sede atual da escola de samba.

Em 1986, depois de conseguir dar cinco títulos seguidos ao Rancho, percebeu que era preciso dar outro salto. Pôs a escola na encruzilhada em 1986. “Ou desfilava ou construía a sede. Ou constrói agora ou nunca mais”, sentenciou. A escola não foi às ruas, mas ganhou uma sede nova e digna das tradições da agremiação.

Anos antes, Bosco entrara também no ramo do jogo do bicho. Foi um dos criadores das bancas JB e Parazão. O dinheiro ajudou a construir a riqueza de Bosco, mas também impulsionou a escola de samba. Tal e qual o Rio de Janeiro. Também como os mais folclóricos personagens da mitologia samba e contravenção soube dar tintas alegóricas à histórias de bastidores que ainda fazem rir os que se lembram delas. Como a do porta-estandarte que bebeu além da conta em uma farra na véspera do desfile de carnaval e perdeu a dentadura. Pois Bosco mandou que um dos artesãos do Rancho fizesse uma dentadura de isopor para o desastrado. Colou na boca do passista e este pode desfilar com sorriso de orelha a orelha.

No final da década de 80, com uma empresa de pesca no município de São João de Pirabas indo a pleno vapor, enveredou na política. Foi duas vezes prefeito do município e também deputado estadual. Em Pirabas, asfaltou quase todas as ruas e construiu escolas e posto de saúde.

O corpo de Bosco Moisés vai ser velado hoje pela manhã na sede do Rancho. Receberá a devida homenagem da bateria da agremiação. A escola de samba decretou luto oficial por três dias.

Funcionários desconfiaram e acharam o corpo na cama 

Bosco Moisés foi encontrado morto em seu quarto ontem (22), na sua residência em São João de Pirabas, região Nordeste do Pará, após ter passado mal do coração na noite anterior (21). O corpo foi velado até às 4h desta terça-feira, 23, e deppois conduzido para Belém onde continuará sendo homenageado na sede da escola de samba do coração dele, o Rancho, e sepultado ainda hoje.

Bosco Moisés estava em São João de Pirabas, quando sentiu os problemas cardíacos que já vinham lhe incomodando há algum tempo e foi para Salinópolis, onde ficou internado em um hospital, durante a noite de domingo para segunda-feira, 22.

DESACORDADO

Após receber alta médica, Bosco Moisés retornou para São João de Pirabas e indisposto, recolheu-se ao seu quarto, avisando que não queria ser incomodado. Por volta das 14h de ontem (22), estranhando a ausência incomum do patrão, funcionários da casa bateram na porta, que precisou ser arrombada, para o acesso ao quarto, onde o empresário foi encontrado desacordado, sendo levado em seguida para o hospital, porém, nada mais podia ser feito.

Fonte: Diário do Pará

Um comentário em “Morre em Belém o carnavalesco João Bosco Moisés

  • 26 de julho de 2024 em 16:42
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    Bosco Moysés, amado e odiado, porém respeitado por todos!

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