Família acusa maus-tratos contra soldado do Exército

Max de Moraes Ferreira
Max de Moraes Ferreira

A família do soldado do Exército Max de Moraes Ferreira, de 22 anos, denuncia que ele está sendo vítima de maus-tratos no quartel da 5ª Companhia, na avenida Tavares Bastos, onde cumpre pena acusado de crime de deserção. “Ele já tentou se matar por duas vezes, vive sob constantes crises de depressão e promete novamente tentar o suicídio caso volte para o mesmo quartel”, informou a companheira do militar, Diane Pereira. Ela também está muito abalada com a situação de Ferreira, a ponto de ter abortado o primeiro filho do casal, cujo feto tinha dois meses.

Segundo Diane, o companheiro diz ouvir vozes e ver vultos e, durante as crises psicológicas e depressivas atira-se no chão, ficando machucado. “Nós não sabemos mais o que fazer. Já procurei os oficiais do Exército, no 2º Batalhão de Infantaria e Selva (2º BIS), onde ele serve, na 3ª Companhia de Fuzileiros de Selva, mas ninguém faz nada”, diz, acrescentando que o tormento do soldado e de seus familiares já dura dois meses.

Nos últimos quinze dias, o estado de saúde de Ferreira se agravou e ele precisou ser internado no Hospital Geral de Belém (HGB), mantido pelo Exército. Os próprios médicos consideram delicado o estado psicológico do rapaz e aconselham a presença de familiares para ajudá-lo a superar o problema. O Exército, acusa Diane, tentou impedir, sem explicar os motivos, a presença da família no hospital, o que teria provocado críticas do médicos.

O DIÁRIO falou por telefone com um servidor do HGB, que confirmou a situação de Ferreira. Ele fica algemado na cama e passa a maior parte do dia sedado. Nos poucos momentos em que recobra a consciência, chora e diz aos parentes que se continuar “abandonado” no quartel prefere morrer.

Um defensor público de prenome Rodrigo entrou no caso e pediu a manifestação da Justiça Militar, alegando que o tratamento dispensado ao soldado não estaria condizente com as regras de respeito aos direitos humanos. O juiz ainda não se manifestou. Diane informou que iria procurar o Ministério Público Federal (MPF) e a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH) para pedir a interferência desses órgãos no caso.

Ela declarou que não é contra a prisão imposta ao companheiro por ele ter desertado, mas defende que seja tratado com dignidade e que cumpra a pena no quartel do 2º BIS, onde “ficaria ao lado dos colegas de farda e não se sentiria abandonado”, como acontece na 5ª Companhia”. Ferreira tem relatado à mulher que fica algemado durante 24 horas, em uma cela sem contato com quase ninguém. Além disso, a comida “é péssima” e às vezes nem água para beber ele recebe.

O soldado passou a ter crises depressivas antes de desertar, motivadas por problemas familiares. Ele perdeu recentemente uma bisavó e isso teria agravado sua saúde. Na terceira vez em que deixou de se apresentar no quartel, o comandante chegou a declarar que, para recebê-lo, Ferreira teria de aparecer acompanhado de um advogado. Ao chegar, foi imediatamente preso. O processo por deserção não tem data para ser julgado.

LIBERADOS

O DIÁRIO tentou por todos os meios falar com os comandantes do 2º BIS, da 5ª Companhia, e do próprio Comando da 8ª Região Militar, para ouvir a versão dos militares sobre os maus-tratos denunciados pela família do soldado Ferreira. Nenhuma das tentativas obteve sucesso, na sexta-feira, no final da manhã.

Sargentos e oficiais que atenderam as ligações, informaram que não havia mais expediente nos quartéis e que todos, à exceção dos plantonistas, estavam liberados até terça-feira, devido ao meio-feriado de Recírio.

A assessoria de comunicação da 8ª Região Militar também foi procurada, mas a informação era de que não havia ninguém para prestar informações ao jornal.

O crime de deserção, previsto no artigo 187 do CPM, tido como crime propriamente militar, é aquele que ocorre quando o militar se ausenta sem licença da unidade em que serve, ou do lugar em que deva permanecer, por mais de oito dias. A pena é a detenção por seis meses a dois anos. Se for oficial, a pena é agravada.

Fonte: Diário do Pará

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