CPI do Cachoeira: 81 autoridades foram citadas em operação da PF

O delegado Matheus Mela Rodrigues, responsável pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal, fez um breve resumo da operação para os parlamentares da CPI do Cachoeira, que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresas. Ao longo da operação, a Polícia Federal acumulou 250 mil horas de conversas interceptadas do bicheiro Carlinhos Cachoeira e integrantes da organização liderada por ele. Ele afirmou que na Operação Monte Carlo foram feitas citações de 81 autoridades e que existem 3.753 gravações que tratam e envolvem políticos, como Demóstenes Torres (sem partido-GO).

Mela Rodrigues apontou, segundo membros da CPI, indícios de envolvimento do governador de Goiás, Marconi Perillo, com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), o delegado mencionou pelo menos quatro situações que caracterizariam a proximidade do governador com o contraventor. Das conversas gravadas com autorização judicial, a polícia registrou dois telefonemas do governador para o bicheiro e dois encontros.

O delegado também apontou o envolvimento da organização criminosa com setores do governo do Distrito Federal, administrado por Agnelo Queiroz. Segundo a interpretação de Randolfe, as situações são diferentes. Em Goiás, a suspeita recai até sobre o governador. No DF, as acusações estão relacionadas a integrantes do governo.

– Há relações (da organização de Cachoeira) nos governos de Goiás e do Distrito Federal, mas mais intensamente no governo de Goiás. Há necessidade de o governador (Marconi Perillo) vir à CPI. O nome de Perillo é citado 270 vezes nas conversas de Cachoeira e outros integrantes da organização – afirmou Randolfe.

Randolfe defendeu também a convocação de Agnelo Queiroz. Como aconteceu na terça-feira com o delegado Raul Alexandre Marques Souza, responsável pela Operação Vegas, o depoimento do delegado Matheus Rodrigues ocorre a portas fechadas. A imprensa não tem acesso ao local.

Randolfe voltou a defender também a convocação urgente do ex-presidente da construtora Delta Fernando Cavendish e outros dirigentes da empresa. O senador ficou surpreso com o grau de envolvimento da Delta com a organização de Cachoeira. Pelas informações do delegado, a empresa de Cavendish fez vários depósitos para três empresas de Cachoeira em nome de laranjas: JR, Brava e Alberto Pantoja. A polícia suspeita que a movimentação fazia parte do processo de lavagem do dinheiro da contravenção.

Pelas anotações do senador Randolfe, a polícia interceptou 250.959 ligações ao longo da operação Monte Carlo, iniciada no final de 2010. O delegado coordenador da investigação considerou que 16 mil delas são importantes. São diálogos relacionados à exploração ilegal de jogos e à corrupção. A partir das conversas, o delegado preparou um relatório de 300 páginas sobre encontros “fortuitos”, conversas captadas casualmente entre Cachoeira e outros integrantes da organização com políticos que, por prerrogativa de foro, não podem ser investigados pela Polícia Federal sem autorização prévia do Supremo Tribunal Federal (STF).

O delegado revelou também que 30 máquinas caça-níqueis proporcionavam faturamento de R$ 1 milhão por mês a Cachoeira.

A previsão do relator é que o depoimento do delegado demore mais de sete horas. Depois dele, ainda falarão os procuradores da República Daniel de Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira, responsáveis pela investigação da operação.

A reunião começou às 10h35 com 26 parlamentares inscritos para inquirir o delegado e os procuradores. A previsão é de que cada depoente faça uma exposição inicial com duração de 20 minutos, seguindo-se as perguntas dos parlamentares. Cada um deles poderá demorar até 25 minutos na formulação de questões. A expectativa dos deputados é que seja uma sessão longa

– Oito horas, na melhor das hipóteses – estimou o deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI.

O acesso à reunião será restrito aos parlamentares integrantes da CPI. O objetivo é evitar o vazamento de informações contidas no inquérito sigiloso que está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O depoimento de Carlinhos Cachoeira foi agendado para o dia 15.

Matheus Mela Rodriges e o delegado responsável pela Operação Vegas, Raul Alexandre Marques de Souza, deverão conferir nesta quinta-feira no Senado se os volumes relativos às investigações remetidos pela Justiça incluem tudo o que foi produzido pela Polícia Federal. Em seu depoimento na terça-feira, Raul Alexandre disse que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) era braço político da organização de Cachoeira.

A fala do delegado à CPI complicou a situação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O procurador recebeu o relatório da Vegas em 15 de setembro de 2009 e nada fez. Gurgel só pediu abertura de inquérito contra Demóstenes no STF em 27 de março deste ano, cinco dias depois de O GLOBO revelar o conteúdo das ligações entre o senador e Cachoeira. Gurgel reagiu às críticas sobre sua atuação no caso Cachoeira.

Deputado reclama do formato dos documentos entregues à CPI

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), integrante da CPI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira, reclamou do formato dos arquivos que compõem a investigação da operação Monte Carlo, realizada pela Polícia Federal. Segundo o deputado, os arquivos enviados pela Justiça Federal de Goiás estão em formato de imagem, e não de texto, inviabilizando a investigação. Sampaio disse que vai pedir verbalmente ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), para que ele requisite à Polícia Federal os arquivos em formato de texto.

– Foram enviados para cá documentos com imagem e não com texto. Portanto nós não podemos fazer a busca por uma pesquisa específica. Tudo que formos fazer temos que consultar página por página. Isso é impossível e inviabiliza a investigação.

Na manhã desta quinta, os dois delegados da PF que devem depor à CPI estiveram na sala-cofre onde estão guardados sob sigilo os documentos das duas investigações, checando se todo o material já estava disponível aos membros da CPI.

Alguns parlamentares, como o próprio Sampaio, vem reclamando que não estão conseguindo encontrar o material da Operação Vegas, realizada pela PF em 2009.

– Os delegados estão certificando, olhando as máquinas, vendo o armazenamento das imagens, as informações, os textos, os inquéritos. Estão tomando conhecimento cada um das suas operações – disse o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo.

– Eles vão falar hoje, dar uma resposta à presidência da CPI – acrescentou.

Fonte: O Globo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *