Entrevista
1) Com a UFOPA em Santarém, o que se pode esperar dessa Universidade para o futuro da região?
A UFOPA foi muito sonhada por todos nós. Hoje este projeto é uma realidade que trará contribuições significativas para o Oeste do Pará. Santarém está localizada entre as duas maiores capitais da região norte e certamente com a presença da UFOPA tem grandes chances de impulsionar o desenvolvimento da região com a fixação de pesquisadores e estudantes que se apresentam como mentes críticas na promoção de uma reflexão mais criteriosa da realidade, com a atração de muitas empresas que se aliam às Universidades como pólos irradiadores do conhecimento e com a facilitação de acesso à população local que antes tinha que se deslocar para outros centros para ter ensino superior público e gratuito.
Espera-se que a UFOPA atenda a demanda reprimida de formação profissional nas diversas áreas do conhecimento e que oferte cursos que respondam às problemáticas locais. Devemos pensar nos problemas que nós temos como moradores da Amazônia e a Universidade, que deve estar a serviço da população, podem contribuir com respostas a questões como saneamento básico, preservação ambiental, educação, saúde coletiva, impactos do agronegócio, entre outros. Algumas dessas temáticas são polêmicas, todavia a universidade como um espaço plural deve permitir que tais questões sejam amplamente discutidas com toda a população.
Percebo que o grande desafio da Universidade é se repensar enquanto agência produtora de conhecimento, mas não a única. Digo isto porque o conhecimento nos cerca e a universidade deve traçar metas de atuação que contemplem o mundo e o homem real que a compõem.
2) Em seu livro “Aprendizagem na Docência”, um dos pontos marcantes é sobre a Formação Continuada. Qual o significado permanente da Formação Continuada? E qual a sua importância no constante aprender?
É fundamental explicitar aqui que entendo formação continuada como processo e não como eventos. Muitas vezes, e aqui falo especificamente da qualificação docente, se promovem eventos de formação para os professores que são montados sem uma política que propicie de fato uma formação continuada. Eu entendo formação como continuum, e se assim for compreendido o conceito de formação remeterá a algo que não acaba nunca, ou seja, algo permanente.
Em toda profissão é necessário que se busque a permanente qualificação e isso é bom porque estimula as pessoas e as agências de formação, como as universidades, a estarem em constante produção de novos conhecimentos. Mas é importante frisar que a participação da sociedade nesse processo é fundamental porque é ela quem apresenta as demandas, ou seja, indica para o profissional e para quem o forma o que ela deseja.
No caso da educação, o professor que se deseja no início deste século não é o mesmo que se desejava no começo do século XX. Hoje ele precisa ser um profissional autônomo, que se veja como aliado do estudante e em permanente aprendizado. Não dá para conceber nos dias de hoje um profissional que se veja formado, porque isso é impossível, o conhecimento não se cristaliza, não para no tempo, está em mutação permanentemente e é imprescindível que os trabalhadores percebam isto.
O mundo do trabalho está em constante mudança e o profissional que desejar se manter no mercado deverá se dedicar ao seu processo de formação permanente.
3) Qual o caminho promissor para a Educação em nosso município?
Penso que a melhoria da qualidade da educação em nosso município passa necessariamente pela melhoria da formação docente. Entendo que existem muitas problemáticas que estão ligadas às condições materiais em que a escola está inserida, todavia com profissionais qualificados parte desses problemas podem ser amenizados. Claro que não estou dizendo que o professor é o maior responsável pelas mazelas de nosso ensino, não é isso, mas não dá pra oferecer um ensino de melhor qualidade com uma demanda de formação da ordem de 40.000 professores. Para esclarecer melhor, o Pará possui ainda cerca de 40.000 profissionais atuando na educação básica sem formação adequada com o que é exigido na legislação. Coordeno uma pesquisa sobre a formação docente na nossa região, que é financiada pela FAPESPA, e observo que ainda há muito a se fazer nesse sentido.
Certamente formar melhor os professores e oferecer-lhes melhores condições de trabalho e de salário oportunizará a abertura de novos caminhos que podem colocar Santarém em papel de destaque no cenário nacional.
4) É importante incentivar alunos para a gestão da pesquisa para um futuro científico e motivador?
Sem dúvida. O conhecimento é algo encantador e se você compreende o caminho para apreendê-lo mais fantástica é a descoberta. O processo de construção de um pesquisador começa com a iniciação científica que agora, a partir de ações de agências nacionais como o CNPq e estaduais como a FAPESPA está sendo estendido para estudantes da educação básica.
A iniciação científica é o primeiro contato do futuro pesquisador com as técnicas e metodologias da ciência porque a construção do conhecimento científico exige método e nós entendemos que quanto mais cedo o estudante tiver contato com esses procedimentos mais rapidamente ele amadurecerá como investigador.
A CAPES que é a agência brasileira ligada ao Ministério da Educação que gerencia a pós-graduação no país, indica que há um ciclo virtuoso da pesquisa e que esse ciclo começa com a iniciação científica, passa pelo ingresso na pós-graduação stricto sensu, que são os cursos de mestrado e doutorado, e é consolidada no intercâmbio internacional. Dá pra perceber então que a formação de um pesquisador se dá dentro de um processo e demanda tempo, em média 10 anos se você for considerar o período de formação em nível superior (graduação, mestrado e doutorado).
O Brasil tem pessoas criativas, dinâmicas e com um potencial fantástico para a descoberta científica. Entendemos que as instituições, sejam elas da educação básica ou da educação superior devem estimular seus estudantes a produzir conhecimento, especialmente aqueles que dêem respostas às necessidades locais.
Bate – bola
** Família? Presente de Deus
** Fé? Em Jesus Cristo
** Sua atividade favorita é… correr
** Um livro? Bíblia
** Na sala de aula ou fora da sala de aula? Diálogo sempre
Solange Helena Ximenes Rocha é doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Professora Adjunta do Instituto de Ciências da Educação da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e Professora-Colaboradora do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). É pesquisadora da área de educação do campo e formação de professores e coordenadora do grupo de pesquisa FormAzon (CNPq).
Por: Jorge Serique