Marrento? Que nada! Neymar abre o jogo e diz: 'Gosto de ser eu mesmo'
Ousado. Foi essa a palavra escolhida por Neymar para definir o próprio estilo dentro de campo. Um dia após encantar os peruanos com quatro gols na goleada da Seleção Brasileira sub-20 por 4 a 2 sobre o Paraguai, em Tacna, pelo Sul-Americano da categoria, o jogador, chamado de “novo Pelé” pelos torcedores locais, se tornou centro das atenções no Gran Hotel Tacna. Seja um segurança ou um torcedor que não o conhecia, o autógrafo e a foto do artilheiro canarinho valem ouro. Mas para ele, tudo isso é normal.
– Vim para cá com o papel de ser mais um na Seleção Brasileira. Um dia eu vou decidir. Amanhã, outro vai marcar os gols. Mas isso é normal – afirmou o jogador.
Na saída do salão reservado para as refeições da Seleção sub-20, Neymar surge ao lado de Diego Maurício, companheiro inseparável desde o início da preparação, em dezembro, na Granja Comary, em Teresópolis. As brincadeiras não param. Ora com um parceiro de equipe, ora com um membro do staff da CBF. O garoto se sente em casa. Para muitos, marrento. Impressão que fica pelo caminho com poucos minutos de papo. E foi justamente em uma conversa com o GLOBOESPORTE.COM que o craque, de apenas 18 anos, abriu o coração.
– Na vida acontece muito disso. Não é só comigo. Qualquer pessoa na rua, no seu trabalho, pode ter essa impressão. Tem muito cara que você olha e você não bate (a simpatia). Isso é normal. Mas, às vezes, depois que você conhece, a má impressão fica de lado. Só aí você sabe se gosta ou não – disse o atacante.
Na entrevista exclusiva que aconteceu em uma sala reservada pela CBF, Neymar falou de sua infância, de como abriu mão de certos prazeres da vida para se tornar jogador profissional e revelou como surgiu o corte moicano.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva com Neymar:
GLOBOESPORTE: O corte moicano virou sua marca registrada. Como ele surgiu?
NEYMAR: Queria fazer o moicano há muito tempo, mas o meu pai pegava no meu pé e não deixava. Em 2010, eu estava com o cabelo muito grande e na concentração fiz o moicano. Lembro que fiz com o André. Fizemos o moicano, depois tinha o cabelo liso. A partir dali ficou. O meu pai só viu na hora do jogo. Quando cheguei em casa, ele disse: “quem mandou você fazer isso no cabelo?” Como todo mundo já tinha falado do corte, eu acabei ficando conhecido com esse corte. Gosto pelo visual.
Você é tímido?
Não sou um cara tímido. Já não era tímido com os meus amigos. Era mais fechado com a câmera, com a imprensa, era mais quieto. Com muitas entrevistas e câmeras, eu me acostumei com isso.
Você é uma referência para uma geração que aprendeu a gostar do seu futebol. Quem foi a sua referência?
Tento seguir os mesmos passos dos meus ídolos. Procuro ver um pouco do Robinho, do Kaká, do Zidane, do Ronaldo, do Romário. Pego um pouco de cada um e coloco em mim para que as crianças que gostam de mim possam seguir um bom exemplo.
É difícil ser o Neymar?
Gosto de ser eu mesmo. Por tudo o que eu passo, pelo carinho de todos. Fico muito feliz por todo esse reconhecimento.
A polêmica com o Dorival Júnior no Santos mexeu com você de alguma maneira?
Claro que foi ruim, mas foi positivo para o meu amadurecimento como profissional.
E os tempos de colégio? Sente falta do que viveu quando frequentava a escola?
Quando eu era mais novo, os meus amigos iam para o cinema numa sexta-feira à noite, mas o meu jogo era no sábado de manhã. Eu tinha que dormir cedo para descansar, meu pai não deixava eu sair. Ficava chateado, mas entendia o motivo daquilo tudo. O meu pai sabia que mais à frente eu colheria bons frutos. Graças a Deus eu o ouvi.
Se tivesse que definir o Neymar jogador com uma palavra. Qual seria?
Ousado. O André (ex-companheiro de Santos e atualmente no Dínamo de Kiev, da Ucrânia) é que ia gostar de ouvir isso (risos).
E a pessoa do Neymar?
Alegre, feliz.
Logo após a estreia contra o Paraguai, na última segunda-feira, você disse que quanto mais batiam nos brasileiros, mais eles queriam jogar futebol. Acha que pode ser interpretado de forma errada e passar a ser caçado em campo?
Acho que sim. Nem todos entendem a frase corretamente e acabam levando para o lado errado. Quis dizer que no calor do jogo, quando você fica nervoso e não pode bater no zagueiro (risos), você quer partir para cima dele e fazer o gol. Mas, no futebol, essa é a função do zagueiro, destruir a jogada. Já o atacante precisa partir para cima do zagueiro. Assim é o futebol.
Como se diverte jogando futebol?
Jogar futebol é o que eu gosto de fazer, é nisso que eu tenho alegria. Esperamos tanto tempo para chegar a hora do jogo que quando começa você precisa jogar com felicidade. Estando alegre, as jogadas saem naturalmente, os dribles. Esse é o segredo.
Aqui no Peru você é chamado de “novo Pelé”, mas disse ter o estilo mais parecido com o do Garrincha. Como se sente sendo comparado aos dois?
Fico feliz de ser comparado com qualquer um dos dois. São excelentes jogadores e não tem o que dizer. São dois fantásticos do futebol mundial.
Você não fez chover no deserto de Tacna, mas fez a terra tremer (na última terça-feira um terremeto foi registado na cidade ao Sul do Peru)… É esse o comentário no hotel…
Não tem isso (risos). Fiz os gols, uma boa partida, mas nada mais. Tenho que seguir buscando as boas atuações para ajudar a Seleção.
Durante muito tempo, os jogadores profissionais buscavam repetir os lances do videogame. Hoje em dia é o contrário: os jogos de videogame tentam recriar a arte dos profissionais. O que pensa disso?
Não sou muito de inventar dribles, copio dos outros. Deixa o Ronaldinho, o Robinho, que sabem fazer isso muito bem. Eu só tento imitar os dois.
Por Márcio Iannacca Direto de Tacna, Peru