Seixas Lourenço: “Só se joga pedra em árvore que dá bons frutos”

O Reitor da UFOPA, José Seixas Lourenço, 67 anos, cidadão de Santarém, Doutor em Geofísica pela Universidade Califórnia, USA. Antes de aceitar o desafio de implantar a primeira universidade pública no interior da Amazônia Brasileira, foi reitor da UFPA, época em que tomou a decisão de interiorizar os cursos e as atividades da instituição, o que resultou na implantação de nove campi no interior do Pará. Além disso, foi diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, diretor do Instituto de Pesquisas na Amazônia (INPA) e Secretário da Amazônia, tendo uma participação ativa na implantação do Centro de Biotecnologia da Amazônia, com sede em Manaus. Seixas Lourenço concedeu a seguinte entrevista ao Jornal O IMPACTO:

JORNAL O IMPACTO: Recentemente o senhor recebeu o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra,  na UFOPA. O que representou a presença do Ministro na Instituição?

Seixas Lourenço: Na visita, o Ministro Integração Fernando Bezerra e o Superintendente da SUDAM,  Djalma Mello, expressaram a felicidade de apoiar a implantação do Núcleo de Tecnologia em Aquicultura da UFOPA (NTA), vinculado ao Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas. Reafirmaram o compromisso de continuar apoiando os bons projetos apresentados pela Instituição. No final de 2011 a SUDAM repassou cerca de 2 milhões de reais à UFOPA para implantação do NTA. A Direção do Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas está se empenhando para obter resultados desse projeto para a população da região, o mais rápido possível. É importante ressaltar a presença, no encontro com o Ministro e sua comitiva, da Prefeita Maria do Carmo, de Santarém, que tem sido uma grande parceira da UFOPA nesta fase de implantação.

JORNAL O IMPACTO: Quais têm sido as parcerias da Prefeitura com a UFOPA?

Seixas Lourenço: Não apenas a parceria, mas também o apoio da Prefeitura desde a criação da Comissão de Implantação, ou seja, antes mesmo da UFOPA ser criada a Prefeitura sempre foi uma parceira estratégica para os avanços da UFOPA. Destaco que a parceria de cessão de pessoal que já havia com a UFPA, foi mantida. A cessão definitiva das instalações da antiga Escola Everaldo Martins. A melhoria das vias de acesso ao Campus Rondon e Tapajós. Mais recentemente temos recebido o apoio na negociação com algumas famílias que ocupam a área da UFOPA, o que tem sido um grande esforço da Reitoria no sentido de dar uma solução social e humana à questão, sem prejudicar as famílias que efetivamente precisam de um lugar e de suas casas para morar. Estas famílias deverão ser atendidas pelo Programa Minha Casa Minha vida do Governo Federal, em parceria com a Prefeitura.

JORNAL O IMPACTO: Quais os principais avanços da UFOPA nesses dois anos e meio da sua criação?

Seixas Lourenço: O primeiro de todos os avanços foi a atração e a fixação de pessoal qualificado, tanto no que se refere a professores doutores e mestres quanto a técnicos administrativos em educação de nível médio e superior. Atualmente são quase 500 servidores, sem considerar os terceirizados, para serviços de vigilância, limpeza e motorista. O empenho e a dedicação desse pessoal possibilitou a ampliação da oferta de vagas na graduação. Foram 2400 novas vagas para os 35 novos cursos de graduação, são mais de 3.000 alunos matriculados no Plano Nacional de Formação de Professores (PARFOR), são mais de 600 alunos na pós-graduação, incluindo mestrados e especialização. No segundo semestre teremos mais 40 alunos de doutorado. Numa parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), desde a época que o Ministro era o Senador Aluizio Mercadante, e que agora, no Ministério da Educação, continua dando todo o apoio à consolidação da UFOPA, estamos trabalhando intensivamente na implantação do Parque de Ciência e Tecnologia Tapajós que vai atrair empresas locais e nacionais para agregar valor à biodiversidade da região. Estamos estabelecendo parceria com a Eletronorte para implementação de uma Estação Científica em Curuá-Una com o objetivo de desenvolver Projetos de pesquisa na área das águas, da biodiversidade e floresta e das energias renováveis, priorizando as peculiaridades e potencialidades amazônicas.

JORNAL O IMPACTO: Constata-se que a UFOPA avançou bastante tanto na oferta da graduação quanto na pós-graduação. Qual é o significado da criação dos mestrados e doutorados?

Seixas Lourenço: Uma das grandes conquistas nossa foi conseguir implantar o primeiro doutorado regular interdisciplinar que integra sociedade, natureza e desenvolvimento. A criação de Mestrados e Doutorados significa a ampliação da produção de conhecimento, significa agregar valor aos serviços e produtos da região que vão contribuir para melhorar a renda e a qualidade de vida das pessoas. Orgulha-nos muito a UFOPA com apenas dois anos e meio fazer parte dos 60% das universidades brasileiras que anteciparam o cumprimento do artigo 11 da Resolução nº 3 do Conselho Nacional de Educação-CNE que exige até 2013 que as atuais universidades deverão ter a oferta regular de, pelo menos, 3 (três) cursos de mestrado e 1 (um) de doutorado.  Para 2016 a exigência é de (quatro) mestrados e 2 (dois) doutorados. Já estamos trabalhando nesta direção. Para isso, estamos implantando um Doutorado Interinstitucional em Educação em parceria com a UNICAMP como estratégia para a implantação do Mestrado e o Doutorado regular em Educação. Estamos também em entendimento com a Universidade de São Paulo e Universidade Federal de Janeiro, que são instituições de referência nacional e Internacional, para a realização de cursos de Doutorados Interinstitucionais nas áreas da Engenharia e Geociências.

JORNAL O IMPACTO: O Modelo Acadêmico da UFOPA tem sido reconhecido no MEC e em outras universidades. Inclusive algumas Universidades estão dispostas a adotar esse modelo. No entanto, temos observado que algumas pessoas da própria instituição têm se manifestado contrário.

Seixas Lourenço: Posso lhe afirmar que a grande maioria da comunidade acadêmica e da sociedade local é favorável ao modelo e está trabalhando intensamente para implementá-lo. Além de inovador, esse modelo tem flexibilidade curricular, interdisciplinaridade, permite mobilidade interna e formação em ciclos, constituídos em um sistema integrado de educação continuada e dar oportunidade para que o jovem faça a escolha do seu curso de forma mais consciente. Tendo como base o modelo Acadêmico, a UFOPA conquistou em 2011 o Prêmio Samuel Benchimol e o Prêmio BASA de Empreendedorismo na categoria “Suporte para o Desenvolvimento Regional da Amazônia”. A própria presidenta Dilma Rousseff, num encontro em dezembro no Palácio do Planalto, quando recebeu os membros da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior–ANDIFES, em Brasília, mostrou o seu entusiasmo com relação a nossa Universidade, quando se referiu ao futuro da educação brasileira e expansão das universidades federais e disse, quando convidada a visitar a UFOPA, que “todo o Brasil deve sentir orgulho de saber que há todo esse esforço e tanta gente de coragem e com competência, capaz de fazer uma universidade tão peculiar para atuar nessa região rica de recursos naturais e humanos”. Considero normal a resistência a mudanças. É muito mais confortável permanecer na mesmice. Temos a clareza de que formar cidadãos para se tornarem competitivos num mundo em transformação, pelo processo de globalização e pela sociedade do conhecimento, é mais difícil de ser feito numa universidade tradicional. A inovação na UFOPA começou com a extinção do vestibular. O ingresso é 100% via Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

JORNAL O IMPACTO: Por que a UFOPA, com tantas realizações, tem aparecido na mídia com questões negativas?

Seixas Lourenço: Tenho uma longa caminhada na direção de órgãos públicos. Enfrentei situações semelhantes quando, em 1985, como reitor da UFPA, tomei a decisão de interiorizá-la. Eu não nasci em Santarém, a gente não tem o privilégio de escolher o lugar para nascer. No entanto, sou Santareno em distinção ao nosso trabalho. Tenho muito orgulho desse título e, até onde for possível, vou trabalhar para transformar Santarém e a região num polo de conhecimento e inovação. Toda essa situação me faz lembrar um velho ditado popular: “Só se joga pedra em árvore que dá bons frutos”.

Fonte: RG 15/O Impacto

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