MILTON CORRÊA

Jornalista Leíria Rodrigues

Parar no caminho é continuar mais forte…

Minha amiga e colega jornalista Leíria Rodrigues, que está fazendo tratamento de câncer de mama, brinda-nos com esta preciosidade textual fazendo do seu humor, fé, coragem, determinação e perseverança, instrumentos de alivio e de um aprendizado enriquecedor na relação com seus semelhantes. Que todos nós possamos seguir esse exemplo de fortaleza espiritual, enraizado nesse ser tão gente, que faz do câncer temas de seus textos, para mostrar que viver é mais importante, mesmo que seja na dor. Eis o texto de Leíria Rodrigues:

“Meu signo astral é de uma legítima geminiana, até na maternidade num deu outra: Mãe de gêmeos. E numa virada do planeta, de Gêmeos passou a Câncer. E não foi ironia astral, apenas as palavras brincam em minha mente neste momento para tornar o nosso papo mais leve ou um pouco a cara da geminiana – criativa e cheia de truques para driblar o verdadeiro sentido da palavra “câncer”, em minha vida. Afinal, não é minha intenção e nem pretensão falar do mapa astral, sou apenas uma jornalista apaixonada pelas palavras e como elas podem chegar aos mais distantes lugares e em diversos jeitos e formas.

E como podemos não só brincar, mas falar sério também, puxar a orelha e dizer o que pensamos, o que queremos, o que nos faz bem ou até mesmo o que nos choca. Então, o que esse trocadilho astral tem a ver com essa conversa… Simplesmente, um “câncer” atravessou em meu caminho, sem que eu o encarasse, sem que eu dissesse um “oi” ou até mesmo, fosse com a  cara do “sujeito”, nada de amor à primeira vista! (risos)

Não tive escolha…Daí, decidi encará-lo de frente, saber seu nome, seu passado e tentar desvendar algumas histórias que me fizessem compreender algumas coisas, dúvidas e como eu iria caminhar com esse cara, até me livrar dele!

Quem me conhece sabe que em janeiro deste ano, fui diagnosticada com um câncer de mama. De lá pra cá, venho seguindo um tratamento que deve ser longo, entre quimioterapias (aplicações de drogas que combatem as células cancerígenas), radioterapias e cuidados com alimentação, imunidade e algumas coisitas. Portanto, observar o mundo, as pessoas e escrever tornou-se um cardápio prazeroso durante essa longa e árdua espera em voltar à vida “normal”. Digo voltar para casa definitivamente (pois estou em outra cidade, por conta do tratamento), cuidar dos filhos, estar com minha família, caminhar na orla, dançar, comer pato no tucupi, maniçoba, vatapá com camarão, sanduba, sair com os amigos, continuar a especialização em Jornalismo Científico e por último, trabalhar….(Professor Dutra, deve ter ficado aliviado…Ufa, ela lembrou de estudar!!! risos)

Então, com todo esse tempo de espera, pensei em compartilhar com vocês que a caminhada pode ser curta, ou nem tão demorada quanto pensam. Basta continuar fazendo o que sempre fez. É, basta enxergar os outros companheiros e companheiras que também caminham com a gente nessa grande e esperançosa “orla” da vida. Onde podemos parar por alguma “pedrinha no tênis”…Mas, nunca, perder o ânimo, não podemos deixar de olhar o horizonte, a imensidão das águas ao redor, que guarda a vida. E que têm muita gente caminhando. Há muitos olhando no outro quando passam, sorrindo, felizes com suas pequenas conquistas…

Também descobri que caminhar pode ser duro, difícil, mas vi que não estava sozinha. Caminho com muitos…

E não há nada de inferno astral. Há uma única vontade – a de seguir… E, não tenha medo de pedir ajuda, de pedir água, de sentar à beira do caminho. Você não estará sozinho. Quando se juntar ao demais, vai perceber que a vida tem sim um sentido, que não estamos aqui para carregar as dores, ou a culpa do passado, mas toda caminhada, precisamos carregar uma única bagagem, nossa história.

Estou tendo o privilégio de parar na estrada, de tomar água e escutar as histórias de tantos que cruzam meu caminho. O oncologista jovem e idealista que se preocupa em tornar a vida de seus pacientes, cada vez mais normal. O mastologista que os recebe com um sorrisão, mesmo depois de um dia cansativo nos plantões… Uma amiga que fez a retirada total de um dos seios, aos 35 anos, três filhinhos e pensa em dar oficinas para outras mulheres em como usar os charmosos lencinhos nas carecas, uma vez que a maioria das drogas em mulheres com CA de mama, tem como efeito a queda dos cabelos. Eu adoro os meus lencinhos!!! (risos)

A nutricionista que se dedica em aumentar a qualidade de vida de pacientes com câncer, mostrando que a alimentação pode salvar muitas vidas e aumentar a disposição dos pacientes para enfrentar sem tantos problemas os efeitos ruins do tratamento.

A fisioterapeuta que idealizou um super e maravilhoso projeto de inclusão de centenas de mulheres que retiraram a mama, após o câncer. A “fisioterapia recreacional”, onde todas elas recebem orientação gratuita em uma ONG que ajuda pacientes de câncer e compartilham experiências fantásticas para superar a doença. Além de praticarem exercícios com o auxílio dessas super fisioterapeuta, que descobriu que não basta acordar os nervos e tecidos dos braços, do corpo dessas mulheres, que para grande parte da sociedade, são “mutiladas”, mas que, além disso, possuem uma essência maior, capaz de erguerem os braços e mostrar que são mulheres que amam, que criam, que recriam e que vivem perfeitamente em alegria (minha próxima reportagem jornalística, não me contive em contar…)

Famílias “Adotivas”, acolhedoras. Uma delas, onde estou. Nunca me viram, mas cruzaram o meu caminho e escutaram minha história…

Poderia ficar aqui e ocupar muitas páginas e o seu tempo, contando tantas histórias que ouvi e que vi… Mas, quero que você fique aguardando por outras, que virão com certeza! Quero continuar contando para você  histórias fantásticas que podem mudar a nossa caminhada, de um jeito que podemos olhar o outro, com mais alegria, com disponibilidade, sem pretensões e sem amarras…

Continuo aqui… caminhando…

Abraços,

Leíria Rodrigues

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