‘Operação Monte Carlo desvelou uma máfia’, diz procuradora

Os procuradores da República Daniel Rezende Salgado e Léa Batista de Oliveira

O silêncio “orquestrado” pelos integrantes do grupo criminoso de Carlinhos Cachoeira, perante a Justiça Federal de Goiás e a CPI instalada no Congresso Nacional, tem características de máfia. A afirmação foi da procuradora da República de Goiás Léa Batista, uma das responsáveis pela denúncia oferecida à Justiça sobre a atuação do grupo de Cachoeira. A procuradora, que depõe na manhã desta terça-feira na CPI do Cachoeira, reforçou que sofre ameaças do grupo do bicheiro e detalhou diversos aspectos da organização que a enquadram na condição de máfia. O silêncio, a submissão ao líder Cachoeira, o deboche, o desrespeito ao Estado, a continuidade das ações criminosas, os vazamentos das investigações e as ameaças foram apontados como aspectos de uma organização mafiosa.

– A Operação Monte Carlo desvelou uma máfia, entranhada no Estado, com mecanismos de cooptação de agentes públicos. Um membro do grupo, quando se silencia na Justiça ou na CPI, objetiva escudar o grupo e seu líder. A sociedade ficou totalmente desprotegida com a cooptação do Estado armado – disse a procuradora Léa, referindo-se por último ao envolvimento de policiais militares, civis, federais e rodoviário na organização criminosa.

O outro procurador da República responsável pela denúncia do grupo à Justiça, Daniel de Resende Salgado, ressaltou que as investigações se focaram nessa cooptação de agentes públicos.

– Poderemos apresentar aqui a percepção do trabalho de investigação, mas poderemos contribuir pouco com o avanço das investigações da CPI. Não conseguimos desenvolver a investigação sobre o patrimônio do grupo e sobre a lavagem de capitais, por conta da antecipação da deflagração da operação – afirmou o procurador.

Os procuradores disseram que, caso a Justiça Federal de Goiás condene Cachoeira, o bicheiro ficaria preso por no máximo 15 anos, conforme os cálculos do MPF. No depoimento à CPI, eles citaram aspectos da máfia italiana e estratégias de investigação utilizadas na Itália para desbaratar organizações mafiosas.

A convocação dos dois investigadores, cujo depoimento deve se estender pela tarde de hoje, foi uma estratégia dos governistas na CPI para blindar e protelar a apuração sobre a Delta Construções. Os procuradores chegaram a citar a existência de empresas de fachada e movimentação milionária por esses empreendimentos – o braço empresarial também é uma característica da máfia, segundo a procuradora Léa.

O Ministério Público Federal (MPF), porém, não avançou na apuração sobre a destinação do dinheiro da Delta a esses empreendimentos de fachada.

Parlamentares de oposição, antes do início do depoimento dos procuradores, voltaram a cobrar a quebra dos sigilos bancários das empresas de fachada abastecidas pela Delta. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), os repasses da Delta a esses empreendimentos já chegam a R$ 413 milhões. Até agora, a CPI obteve a quebra dos sigilos bancários de apenas cinco empresas. Os oposicionistas querem a quebra de sigilo de pelo menos mais oito empresas.

Fonte: O Globo

 

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