Ministro da Saúde é alvo de protestos em Belém

Ministro Padilha em Belém
Ministro Padilha em Belém

O Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, precisou pedir calma várias vezes aos profissionais ligados ao Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa) presentes ontem de manhã ao Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia para poder explicar aos deputados, secretários, prefeitos e demais autoridades sobre o Mais Médicos, motivo que o trouxe a Belém no intento de estimular a adesão dos municípios ao programa do governo federal que pretende diminuir a carência de atendimento médico em regiões carentes.

A cada ação prevista no pacote ou números positivos anunciados pelo ministro, o grupo, que ocupou 1/4 do espaço do auditório, levantava, fazia barulho e perguntava “Cadê? Onde?”. Mesmo com essa dificuldade, Padilha concluiu sua apresentação e repetiu ao final da programação o que havia dito no início. “Não posso colocar em primeiro lugar o interesse específico da categoria profissional, eu preciso pensar nos 200 milhões de brasileiros que precisam desse serviço. Nós vamos em frente nesse programa”, anunciou.

As prefeituras têm até o dia 25 de julho para aderir ao Mais Médicos, e o secretário de Estado de Saúde Pública, Hélio Franco, revelou, antes da apresentação começar, que a resposta das administrações municipais tem sido positivas. Já ao microfone, o titular da Sespa não escondeu a irritação diante do barulho feito pelos representantes do Sindmepa. “Vocês são uma elite paga pelo serviço público, que recebe sem trabalhar”, atacou.

CORPORATIVISMO

O prefeito de Marabá, João Salame (PPS), foi firme em seu pronunciamento. “Chega de se render às corporações! Chega de se render aos interesses de uma pequena elite!”, bradou. “Quando eu assumi a Prefeitura de Marabá, tinha médico que ganhava R$ 40 mil por mês, e tinha quem quisesse fazer plantão de casa, sem ir ao hospital. Depois que a gente ‘arrochou’, ameaçou fazer denúncia ao Conselho Regional de Medicina (CRM), os médicos começaram a aparecer”, denunciou.

Alexandre Padilha se valeu das memórias dos anos que passou em Santarém coordenando um núcleo de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP).

“Quem fala que não falta médico no interior do Estado é porque nunca esteve lá. Falo com autoridade porque morei e trabalhei no Oeste paraense e sei como é. Temos, como médicos, de ser humildes e admitir que assim como há problemas de gestão e de infraestrutura, que tem ações previstas no programa, também há o problema da falta de médicos”, disse.

Taxado de “eleitoreiro” por um dos médicos presentes junto ao grupo do Sindicato, respondeu que “vocês estão vendo que tem gente de todos os partidos aqui”. Segundo o ministro, os novos contratados devem começar a atuar em setembro próximo.

“Contra números e fatos, não há argumentos, e ninguém está dizendo que a culpa é dos médicos. Mas o Brasil tem um número de médicos em atividade menor em relação a outros países. A média é de 1.8 médico por mil habitantes, sendo que 22 estados estão abaixo dessa média nacional. Na Argentina, essa média é de 3,2. No Uruguai, 3,7. Portugal e Espanha, são quatro. No Reino Unido, 2,7. No Pará esse índice é de 0,77. Formar um profissional qualificado para trabalhar dura pelo menos seis anos, então ou começamos a adotar agora medidas de curto, médio e longo prazo ou os problemas avançarão”.

EMERGENCIAL

Em seguida, Padilha lembrou que a contratação de médicos, sejam daqui ou de fora do Brasil para atuar nas áreas onde há mais necessidade, é apenas a medida emergencial do programa. “Já temos um valor contratado de R$ 7.4 bilhões para investimentos em todo o país. Há mais de 800 hospitais sendo construídos, ou reformados, ou ampliados. Mais de 2.500 novos equipamentos foram comprados, são 270 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em funcionamento”, afirmou. O ministro anunciou ainda que há três semanas foi assinado um contrato pelo governo federal para viabilizar a construção de 14 novos hospitais universitários e outras 225 UPAs. Na Região Norte, disse que o programa prevê cerca de 1.300 novas vagas em Medicina, bem como a criação de faculdades em Altamira e Marabá. Mas nem assim as vaias cessaram.

Sem sair do tema da contratação de profissionais estrangeiros, a não exigência do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições Estrangeiras, o Revalida, para o ingresso no Mais Médicos foi outro ponto de esquentar de ânimos da classe médica.

O ministro explicou que o programa poderá contar com dois tipos de profissionais: os locais, livres para trabalhar também na rede particular; e os estrangeiros – no caso do não preenchimento dos cargos ofertados aos brasileiros -, que serão avaliados e acompanhados pelas universidades públicas, com autorização para atuar exclusivamente no programa.

700 municípios não têm médicos, diz Padilha 

Vestidos com jalecos brancos e fitas pretas nos braços, os médicos se mobilizaram para protestar contra o programa Mais Médicos. Ainda antes da entrada do ministro, os ânimos se exaltaram a partir da afirmação do secretário de saúde de Soure, Newton Pereira, enquanto os manifestantes se mantinham calados e sentados.

“Quem aí quer ir para o Águas Lindas, que é aqui pertinho?”, provocou Pereira, ao apontar que o déficit de médicos no município de Soure, hoje, é de cinco profissionais.

“Temos uma unidade de saúde em Pacoval que está toda equipada, com a equipe pronta e não tem médico que queira ir para lá para ficar mais de cinco dias. Acredito que esse programa seja uma solução ”, elogiou, contestando a tese dos médicos.

Em resposta, os médicos já organizados com faixas e banners contrários à não realização do Revalida vaiaram o secretário. Foi apenas uma amostra do que viria a acontecer com a entrada de Padilha. Primeiro a usar a palavra, o secretário Hélio Franco, teve o pronunciamento abafado pelas vaias, gritos e apitos.

DIFICULDADE

O ministro não teve menos dificuldade em falar. Sem que conseguisse manter a apresentação sem interrupções por muito tempo, o ministro, já rouco, também precisou alterar a voz pedindo calma. Porém, os médicos se mostravam cada vez mais ruidosos, procurando atrapalhar o evento. Alexandre Padilha mostrou que 700 municípios brasileiros não possuem médicos e que o governo federal pretende gerar 35 mil vagas de empregos para médicos até 2014. Os manifestantes criticaram a forma como o programa está sendo implantado. Segundo o diretor do Sindmepa, Wilson Machado, o principal ponto de discordância da categoria é a não obrigatoriedade de revalidação do diploma para que médicos estrangeiros façam parte do programa.

“Essa proposta não soluciona o problema da saúde pública. Não há problema trazer médicos de fora desde que eles passem pelo Revalida. O que precisamos é de estrutura, apoio técnico, investimentos em reforma e um programa de carreira”, insistia.

Segundo o diretor, a categoria também tem restrições quanto às mudanças na graduação do curso de medicina que passaria a durar oito anos, ao invés de seis. “Essas coisas todas estão sendo feitas de forma isolada pelo governo. Ninguém sentou para discutir com a categoria”.

Uma das médicas mais revoltadas era a residente Naiara Costa Balderramas. Segundo ela, a indignação maior da categoria, que fez com que o protesto culminasse em gritos, foi a não possibilidade de diálogo antes que o programa Mais Médicos começasse a ser instalado. “Eu já trabalhei em S. Domingos do Capim em uma sala que não tinha luz, que não tinha água, que não tinha medicamento para darmos para os meus pacientes. Hoje sou residente do Hospital Barros Barreto que está passando por uma imensa dificuldade. Eu tenho vivência, sim, do serviço público no interior do Estado”, disse.

Fonte: Diário do Pará

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