Comandante da PM do Rio é exonerado do cargo
Após reunião na Secretaria de Segurança, o comandante-geral da Polícia Militar do Rio, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, foi exonerado do cargo, na tarde desta segunda-feira, pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. O secretário ainda avalia o nome do sucessor do coronel Erir Costa Filho no comando da corporação. Em nota enviada por sua assessoria, o governador Sérgio Cabral disse que a troca de comando da Polícia Militar não mudará em nada a política de pacificação das favelas do Rio.
— As atitudes do próprio coronel levaram a essa situação. Ele é um homem honesto, mas isso não basta para exercer um cargo público: é apenas o mínimo esperado. Um homem que ocupa essa posição precisa ter capacidade de ouvir e dialogar, coisas que ele nunca soube fazer. A anistia foi uma ação despropositada, em um momento em que a sociedade discute o papel da polícia e sua desmilitarização — avaliou.
A OAB-RJ que, pela manhã, havia pedido a exoneração do comandante em nota oficial, comemorou a decisão. Para o presidente da Comissão de Segurança Pública da entidade, Breno Melaragno, a anistia foi apenas mais um dos erros cometidos pela PM, à qual atribui uma série de falhas durante as últimas manifestações ocorridas no Rio.
— Sabemos da dificuldade que a PM encontra em seu trabalho, mas ela demonstrou muitas falhas nos protestos recentes. Falhou quando acusou entes da sociedade civil, como a OAB e o deputado Marcelo Freixo, de romperem um acordo que nunca existiu e falhou na atuação dentro das próprias manifestações: ora reprimia com extrema violência, ora desempenhava papel contemplativo, deixando a violência acontecer. A anistia foi apenas mais um erro — afirmou Melaragno.
Também em nota, Beltrame disse que “mudanças fazem parte do processo de gestão e devem ser vistas com naturalidade”. Ele destacou o empenho do coronel Costa Filho no período de 1 ano e 10 meses à frente da PMERJ. “Quero ressaltar o trabalho e a integridade do comandante Costa Filho, além de seu amor à corporação que comandou”, afirmou o secretário.
Vinte minutos após o anúncio da exoneração, o coronel Ricardo Pacheco, atual mandatário da Diretoria Geral de Ensino e Instrução (DGEI) da corporação, chegou correndo ao prédio onde fica a secretaria de Segurança Pública, no Centro. A pressa fez com que Pacheco tentasse passar pela portaria sem se identificar.
Ele ficou reunido a portas fechadas com Beltrame e o coronel Luis Castro Menezes, comandante do 1º Comando de Policiamento de Área (CPA). Antes de assumir como diretor de ensino, Ricardo Pachecou já foi homem forte da Guarda Municipal, do 12º BPM (Niterói) e do extinto Batalhão de Polícia Trânsito (BPTran).
Ricardo Pacheco entrou na corporação em 1982, se formando em 1984. Ele é membro da turma de oficiais na ativa mais antiga do Rio.
– O coronel Pacheco tem 31 anos de PM e está mais do que preparado para assumir. É um dos nomes cotados, sim – entregou um colega de turma do oficial.
Erir disse que não havia crise
Mais cedo, Erir Ribeiro da Costa Filho havia dito que não havia crise entre ele e Beltrame [VEJA VÍDEO]. No domingo, Beltrame afirmou que não gostou da medida de Erir em anistiar as punições administrativas na Polícia Militar, ameaçando revogar a decisão dele. O coronel explicou ao GLOBO que se tratava de um ato administrativo, publicado no boletim interno da corporação no dia 1º de agosto, no qual faltas disciplinares ocorridas de 4 de outubro de 2011 até o momento — como policiais com calçados sujos que são punidos com detenção — seriam relevadas.
A justificativa para tal medida, segundo o comandante-geral, foi a falta de efetivo para atuar no policiamento durante a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude e as manifestações ocorridas nos últimos dois meses. O coronel garantiu ainda que os 325 policiais militares beneficiados com a decisão não respondem a crimes, seja na esfera criminal na Justiça, seja em inquéritos policiais militares (Conselhos de Justificação e Disciplina) na Polícia Militar.
— No lugar de deixar os policiais detidos no quartel, sem fazer nada, optei por colocá-los para trabalhar. Havia muita demanda e tínhamos de arrumar uma solução. Depois eles voltavam para permanecer no quartel. Eles só voltavam para a casa quando terminava o prazo da detenção. Além disso, a punição vai para a ficha do policial. Não existe anistia. Trata-se de relevação de punições. Agi como um pai que pune o filho quando faz besteira, mas releva quando pratica uma boa ação. Na verdade, só não deixei que eles ficassem presos no quartel — explicou o comandante-geral.
De servente a comandante da PM
Morador de Olinda, em Nilópolis, Erir começou sua história na PM anos 70, quando, ainda jovem, trabalhava como servente e varria o chão do Quartel General da Polícia Militar. Com o salário, ajudava a mãe e a avó, com quem morava. Acabou juntando dinheiro e entrando para a escola de oficiais da corporação. Conhecido por ser um homem de hábitos simples, Erir preferiu continuar morando no bairro em que nasceu mesmo depois de assumir o posto máximo da corporação. Em 2003, quando era comandante do 4º BPM (São Cristóvão), foi exonerado após revelar que o deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PMDB) lhe pedira uma trégua no combate ao tráfico na comunidade. A denúncia do oficial lhe custou o cargo mas rendeu a Erir o reconhecimento da sociedade e, de quebra, o Prêmio Faz Diferença, concedido pelo GLOBO.
Fonte: O Globo