Cotado para vice, ex-ministro do STF diz que é só amigo de Marina
Citado como possível vice na eventual chapa de Marina Silva à Presidência da República, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto confirmou que tem mantido conversas com a ex-senadora, mas disse descartar qualquer possibilidade de concorrer a algum cargo público.
Folha – O sr. será candidato a vice na chapa de Marina Silva?
Ayres Britto – Eu sou amigo pessoal da Marina, tenho uma admiração pela trajetória de vida da Marina, pela personalidade, pelo desempenho nos cargos por ela exercidos. Em suma, eu acompanho a vida de Marina, tenho amizade pessoal e admiração por ela. Isso não é de agora.
Sempre nos relacionamos bem. E nessa quadra de vida pessoal e institucional da Marina, ela tem discutido comigo, os projetos, os planos, os ideais que estão hoje consubstanciados na criação da Rede, do novo partido. E em umas duas ou três vezes pelo menos estivemos juntos. Conversamos sobre as dificuldades, sobre os caminhos por ela percorridos para receber mais de 500 mil apoios, e o enfrentamento das dificuldades. Mas isso sem nenhum convite da parte dela para que eu me lançasse candidato.
O sr. tem alguma aspiração nesse sentido?
Não tenho. Esses últimos dez anos lá no STF fizeram muito minha cabeça como juiz, eu saí do Supremo, não é desiludido da vida partidária, não significa isso, mas experimentei intensamente a militância judicante. E mantive com essa judicância militante uma identidade verdadeiramente orgânica, vertebrada. Saí muito juiz do Supremo, e isso esvaziou em mim aquela antiga… digamos, apagou em mim aquela antiga chama político-partidária. Hoje quero servir ao meu país por outra via que não a político-partidária.
Mas caso haja um convite a uma candidatura a vice da Marina isso não poderia reativar essa chama?
Não. Eu faço as coisas na linha do que certa vez disse [o escritor e pensador alemão Johann Wolfgang von] Goethe. Ele disse que é preciso fazer as coisas com o fogo na alma, o que não é senão entusiasmo.
Que empolga a gente, que nos torna militantes, engajados, orgânicos em torno de uma determinada atividade. Hoje estou voltado muito para o lado jurídico da minha vocação. Reabri meu escritório. Eu vivo de uma conferência para outra. Sem falar na minha vocação literária.
O sr. descarta essa possibilidade completamente?
Isso. Não fui convidado pela Marina, apenas estamos conversando como amigos.
Sobre o que vocês conversam exatamente?
A gente conversa sobre o quadro geral do país, a partir desses movimentos de rua, conversamos muito sobre isso, eu e ela estivemos juntos, trocando ideias. Então, nos reunimos, tomamos cafezinho juntos, e trocamos ideias pura e simplesmente. Nunca mantive contato pessoal com nenhuma autoridade do Poder Judiciário, da Justiça eleitoral, sobre esse projeto dela. Não estive com nenhum dos ministros do TSE muito menos com os ministros do STF
Mas o sr. acredita que ela conseguirá montar o partido?
Ah sim, acredito. Até é justo. Ela conseguiu acho que 600 mil adesões [o partido só conseguiu validar nos cartórios 440 mil, 52 mil nomes a menos do que o necessário]. Acredito que sim e que vai ser bom para o país.
Fonte: Folha de São Paulo