Adeus ao Darlindo Rodrigues (Bolinha)
DESPEDIDAS do Meu Avô Darlindo,
Somos apresentados a despedida desde o começo de nossas vidas. A primeira vez é quando nascemos: os médicos nos depositam nos braços de nossos pais e logo após segundos, somos levados para longe. Pequenos demais para entendermos ou reclamarmos, mas ali começa nossa história com as despedidas.
Com o tempo, dizer “tchau” ou “até breve” para aos nossos se torna algo natural. Eis que surge a escola, nossa segunda despedida. Confesso que não sei dizer se essa experiência é mais dolorosa aos filhos ou aos pais: aos filhos, que se vêem desprotegidos sem a presença de seus pais; ou aos pais, por perceberem que seus filhos já não estão mais tão grudados a barra de suas saias. E assim a vida segue.
O fato é que, por mais acostumados e familiarizados, nunca estaremos preparados para nos despedir. Despedidas machucam, doem. Dão um nó na garganta que parece não desafrouxar mesmo quando as lágrimas caem. Despedidas nos deixam vulneráveis, com braços abertos e corações na mão, com aquela vontade de engolir aquele “adeus” indesejado.
Encontro-me aqui para contar sobre minha última despedida: meu avô, Darlindo. Não tive muito contato com ele, de fato, mas até meus 18 anos ouvia o quanto ele foi um bom pai a minha mãe e como lhe surpreendia. Tentava levar a vida com um sorriso no rosto, mesmo nos momentos em que era difícil manter o bom humor. A alegria era sua marca, as piadas, as brincadeiras. O senhor Bolinha era assim. Era assim o senhor Bolinha. E foi assim até seu último dia.
Engana-se quem pensa que por não ter um convívio por um tempo maior, que tenha sido fácil para mim. Pelo contrário! Me vi sem poder dizer qualquer palavra de conforto a minha mãe, meu tio Delmas e a minha vó Antonia, concordei apenas, essa foi a única reação que a notícia do falecimento do meu avô me permitiu.
Nunca fui boa em me despedir, acho que por isso que evito despedidas, mas na última vez que o vi, fiz questão de lhe deixar as melhores e mais humoradas palavras que encontrei. Brinquei, lhe beijei e disse um: até breve, me espere. E como resposta, ouvi: estarei lhe esperando. Sorri. Mesmo sabendo que aquilo seria um tanto impossível e que, talvez, essa seria a última vez que nos olharíamos, acreditei que teríamos mais uma chance. Eu acreditei, eu realmente acreditei. E me despedi.
Fico pensando que, e se eu soubesse que aquele era seu último mês, sua última semana, suas últimas horas comigo? O que eu poderia ter feito diferente? O que eu teria dito? O que eu teria feito? Teria sido mais carinhosa? Teria rido mais das suas brincadeiras? Teria brincado mais? Teria contado de coisas da minha vida que ele nunca soube? Teria feito mais lembranças? Como teria sido?
Despedidas são assim, cruéis. Ficam com esse gosto de “e se…”. Porém, também trazem uma doçura ao pensarmos no reencontro. A despedida traz a saudade. E tudo fica menos amargo, menos doloroso.
O que posso dizer agora é… Não fiquem esperando pelo fim para se darem conta que poderiam ter feito mais, diferente. Todo dia é uma eterna despedida, não somos eternos. Deixe com o outro suas melhores palavras e sentimentos toda vez que se despedirem, pois não sabemos sobre o que nos espera no amanhã.
Que Deus abençoe a todos. Família, amigos, parentes, funcionários, ex-funcionários, todos que um dia participaram e escreveram junto ao meu avô Bolinha, a sua história. Vocês fizeram parte da vida dele e ele fez parte da vida de vocês, não importa se breve ou por longa data. Um muito obrigada pelo apoio, pelas palavras e pelos ombros oferecidos. Até a próxima, quando nos encontrarmos mais uma vez. Essa é a nossa despedida.
Adeus meu Avô, descanse em paz.
Sua neta,
Taynah Rodrigues Brandão.