Informe RC

Artigo publicado na Revista Veja, na segunda semana do mês, de autoria do jornalista José Roberto Guzzo, e que retrata o momento que vive a maioria dos brasileiros (eleitores), a menos de 10 dias das eleições presidenciais. Leia:

DINHEIRO FALSO- I

Governos que mentem para o público o tempo todo acabam mais cedo ou mais tarde mentindo para si mesmos e, pior ainda, acreditando nas mentiras que dizem; o resultado é que sempre chegam a uma situação em que não sabem mais fazer a diferença entre o que é verdadeiro e o que é falso. Eis aí onde veio parar o governo da presidente Dilma Rousseff nestes momentos decisivos da campanha eleitoral. Muito pouco do que está dizendo faz nexo – resultado inevitável do hábito, desenvolvido já há doze anos, de navegar com o piloto automático cravado na contrafação dos fatos e na falsificação das realidades. Entre atender à sua consciência e atender a seus interesses, o governo jogou todas as fichas na segunda alternativa, ao se convencer de que seria muito mais proveitoso tapear o maior número possível de brasileiros com a invenção de virtudes do que ganhar seu apoio com a demonstração de resultados. Não compensa: para que fazer toda essa força se dá para comprar admiração, cartaz e voto com dinheiro falso? Foi o que concluíram, lá atrás, os atuais donos do país. Agora, com viciados em substâncias tóxicas, vivem na dependência da embromação; está muito tarde para mudar, e a única opção é continuar mentindo até o dia das eleições.

DINHEIRO FALSO- II

Sua esperança é que a maioria dos eleitores, como acontece com frequência, ache mais fácil acreditar do que compreender. Para se ter uma ideia de onde foram amarrar nosso burro: o estado-maior da campanha de Dilma considerou que sua vitória mais importante no primeiro debate entre os candidatos foi ter escapado “de todas as perguntas difíceis”. É triste. Quando a verdade é substituída pelo silêncio, ensina o poeta Ievgeni Ievtushenko, o silêncio torna-se uma mentira – talvez seja, aliás, sua modalidade mais eficiente. A partir daí, vale tudo, e por conta disso os brasileiros têm ouvido as coisas mais extraordinárias por parte do governo. Os candidatos da oposição, principalmente Aécio Neves, foram publicamente acusados, por exemplo, de já terem decidido fazer uma recessão econômica se forem eleitos; no mesmo momento, comicamente, saíram os resultados da economia nos primeiros seis meses de 2014, mostrando que o Brasil andou para trás nos dois primeiros trimestres do ano. Ou seja: a recessão que os adversários iriam provocar no futuro já está sendo praticada pelo governo Dilma no presente. Na média dos seus quatro anos, por sinal, será pior desempenho econômico do Brasil desde o presidente Floriano Peixoto.

DINHEIRO FALSO- III

Diante dos canais de concreto em ruínas na obra de transposição do Rio São Francisco, que, segundo as mais solenes promessas do ex-presidente Lula, estaria pronta em 2010, depois em 2012 e hoje é um mistério em termos de prazo, Dilma disse em sua propaganda eleitoral que a culpa do atraso é da “curva do aprendizado” – ou seja, pelo que dá para entender, ainda não aprendemos a fazer direito esse tipo de coisa. Ainda? O Canal de Suez está pronto desde 1869, o do Panamá desde 1914; será que já não deu tempo de aprender? A Ferrovia Norte-Sul, que vem sendo construída pelos governos Lula-Dilma desde 2005, e que foi inaugurada mais uma vez em maio, continua fechada ao tráfego de trens, por falta de equipamentos – para piorar, ladrões vêm roubando os trilhos. São os únicos, além das empreiteiras, para quem a ferrovia tem tido alguma utilidade. O programa de formação de mão de obra técnica, descrito como “o maior do mundo”, formou até agora mais de 100.000 recepcionistas e manicures – o triplo de mecânicos. Em suma: já nem é mais um caso de mau governo. É anarquia. Um dos diretores mais influentes da Petrobrás durante o governo PT, tão graduado que assumiu 24 vezes a presidência da empresa em substituição aos titulares, está na cadeia desde março, entalado em espetaculares denúncias de corrupção; foi figura-chave na tenebrosa compra da refinaria americana de Pasadena e está no centro da investigação sobre as negociatas na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um pesadelo cujo custo final pode passar de 20 bilhões de dólares. Indagada a respeito, Dilma nada respondeu. Preferiu dizer que o grande problema da Henrique, de trocar o nome da Petrobrás para “Petrobrax” – apenas uma ideia tola, de vida curtíssima e sem importância nenhuma. E a economia parada? “Eu criei 5,5 milhões de empregos”, diz a candidata. Como assim – “eu criei”? Uma mentira começa com o ato de fazer o que é falso parecer verdadeiro. Acaba deste jeito: em alucinação.

INOCENTE?

A presidente Dilma (PT) subestima a inteligência dos brasileiros, principalmente dos eleitores, quando afirma que desconhecia maus feitos com dinheiro da Petrobrás, delatado por um ex-diretor, Paulo Roberto Costa, de que os 10 bilhões de reais desviados em 8 anos da estatal eram destinados a pagamentos de propinas a partidos e políticos aliados ao governo, através de um doleiro. O ex-presidente Lula também dizia ignorar a existência do Mensalão (2003-2004), que não viu e nem ouviu falar. Estranho da companheira ser dotada das mesmas deficiências de seu professor político relacionadas à audição e visão, já que por anos foi presidente do Conselho de Administração da estatal, e com seu aval a petrolífera comprou a usina de Pasadena, de onde, segundo o TCU, quase 2 bilhões de reais tomaram rumo desconhecido, mas o ex-diretor afirma terem tido o mesmo destino dos 10 bi. A presidente pediu ao Ministério da Justiça cópia do depoimento do delator do esquema criminoso dado à Polícia Federal e ao Ministério Público do Paraná, ameaçando ir ao Supremo para conseguir. Quer saber se existem pessoas do governo metidas no maior escândalo da história, para tomar providências. Tá. Inocente? Faz de conta que seja.

INTOCÁVEL

O governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), irmão de Ciro Gomes, secretário de Saúde de seu governo, sempre é mencionado por revistas de grande circulação, acusado de comportamento pouco republicano, como usado jatinho executivo para passear com sogra e familiares em viajem de férias pelo exterior e abastecer as dispensas da residência governamental com gêneros alimentícios caros e quantidades exageradas. Na segunda semana do mês, numa ação movida pelo governador, Juíza da 4ª Vara da Família de Fortaleza determinou que a revista Isto É fosse retirada de circulação em todo território nacional, pela mesma o ter citado na edição como um dos governantes envolvidos no recebimento de propina com dinheiro da Petrobrás. Na quarta (11), o ministro Luiz Roberto Barroso derrubou a decisão da magistrada, que, criticada nacionalmente, impôs censura prévia a uma publicação jornalística, ameaçando a liberdade de expressão assegurada pela Constituição. Que o governador ofendido processe o jornalista, ainda vá lá, mas querer calar a imprensa, não faz sentido. Parece coisa de Nicolau Maduro, quase ditador da Venezuela.

LAMBANÇA

A companheira presidente Dilma (PT), candidata à reeleição, nas suas aparições no horário eleitoral, transmite aos eleitores a sensação de estarmos habitando um país, fruto de sua imaginação, onde o povo vive às mil maravilhas, dispondo de segurança, mobilidade urbana, saneamento básico, saúde, educação, estradas pavimentadas, hospitais com leitos e UTIs sobrando e remédios à vontade, mas a verdade é bem diferente. No Rio de Janeiro, nos últimos 2 anos, 4.200 leitos foram fechados nos hospitais federais do estado. Pacientes são atendidos nos corredores e nas calçadas, muitos esperam anos por uma cirurgia. Falta estrutura, materiais, funcionários e profissionais médicos. De 2003 pra cá, acima de 30 mil leitos foram desativados em hospitais psiquiátricos com doentes em situação física e mental precária, entregue nas mãos dos familiares. Enquanto isso acontece no Brasil, o BNDES, com dinheiro do povo brasileiro, investe 15 bilhões de reais no Peru, em construções de portos, pavimentação de rodovias, túneis de metrôs e gasodutos. Em termos de desenvolvimento, lá cresce, enquanto o Brasil desce.

NÃO É SÓ FALTA DE CHUVA

Aveirense, nascido na vila de Fordlandia, residente em Belém, onde exerce sua profissão, o advogado Mário David de Prado Sá, entrou semana passada com uma ação popular na Justiça Federal pedindo a suspenção do aumento de 34,34% que já está sendo cobrado na tarifa de luz pela Celpa Equatorial dos usuários paraenses, extensivo a outros estados, com aval da presidente Dilma, do Ministério de Minas e Energia e da ANEEL, agência reguladora dos preços. Válida a intenção do advogado em defender os consumidores contra o reajuste extorsivo, o maior da história da empresa desde quando era Força e Luz, nos anos 50, já que é candidato a deputado federal, embora os mandões do preço da eletricidade no Brasil terem afirmado a uma comissão de parlamentares e empresários do estado, presidida pelo presidente da Assembleia, de que a autorização dada para o aumento ser irreversível. Para a economista Mirian Leitão, não é só falta de chuva que ocasionou aumento da energia, e sim a falta de regulamentação do setor energético que tem os prejuízos resgatados pelo tesouro, ou seja, má gestão.

PEQUENO APRENDIZ

O vice-governador Helenilson Pontes (PSD), que está na política sem nunca ter sido político e nem mostrado curiosidade de aprender, é citado num Site que analisa candidatos de todos os estados que disputam mandatos nesta eleição, como um dos 3 mais preparados do país para ocupar uma cadeira no Senado Federal. Verdade. Ninguém no Pará e em Santarém desconhece de Helenilson possuir predicados não visíveis a eleitores para obter votos, haja vista que, como presidente regional do PSD no estado e candidato ao Senado, nos índices de pesquisas às vésperas das eleições, não atingiu 5%. Como a avaliação do eleitor se prende à atuação política do candidato e não ao grau de instrução, o santareno está distante de atingir sua intenção. Quem perde é Santarém, mas que foi um bom vice-governador, ajudando com seus conhecimentos o atual Simão Jatene, foi, mas como político ainda é um Pequeno Aprendiz.

CONFUNDE O ELEITOR

A candidata do PT à reeleição, para desqualificar acusações de concorrentes na disputa presidencial, costuma afirmar sua repulsa à corrupção e não colocar sujeira para debaixo do tapete. Quando aparece, o Tribunal de Contas da União e a Polícia Federal possuem “autonomia” para apurar e prender, e, quando comprovado, a Advocacia Geral da União (AGU) abre ações para rever o dinheiro surrupiado. Essa afirmativa da presidente quanto à seriedade do governo com a coisa pública tem colocado em dúvida os eleitores, se falsa ou verdadeira, pela excelência se comportar como se não houvesse existido o Mensalão, a exoneração (2011) de 6 ministros de seu governo acusados de corrupção, da compra da usina de Pasadena, com prejuízos à União de próximo a 2 bilhões de reais, segundo técnicos do TCU, e do desvio de 10 bilhões de reais da Petrobrás distribuídos entre políticos e partidos aliados ao PT. Se tivessem toda essa autonomia, o TCU não tinha relatórios contestados e a AGU, até o momento, não acionou ninguém na Justiça para devolução do indevido, que a esta altura deve ter tomado Doril. Esconder do eleitor a existência de práticas de corrupção no governo é pior que empurrar sujeira pra debaixo do tapete.

CONTINUAM GANHANDO MAL

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que mapeia dados sobre a educação em 34 países membros da organização na América Latina, publicou relatório relativo ao ano de 2014, e no quesito “pagamento de salários de professores” do ensino fundamental da rede pública, o Brasil está no penúltimo lugar, na frente da Indonésia, onde percebem menos de 4 mil reais/ano, e perdendo feio para o Chile e México. Quem paga melhor é Luxemburgo (Alemanha), onde faturam próximo a 70 mil dólares/ano, ou seja, 170 mil reais. Nas suas aparições no horário eleitoral, a companheira candidata à reeleição e o ex, Lula da Silva, que prometem construir um novo Brasil, neste já fizeram tudo, em momento algum falaram em melhorar os proventos dos professores de ensino médio e fundamental, que junto com os aposentados e pensionistas da Previdência Social formam as duas classes mais castigadas pelo governo federal de 12 anos pra cá. É como se estivessem impedidos de votar e os votos fossem contados em separado e não influíssem no resultado final.

SALVE JORGE!

Nesta segunda quinzena do mês dois acontecimentos proporcionados por bandidos assaltantes, para os quais a vida e função das vítimas têm pouco valor, colocaram o Brasil em destaque na mídia internacional. 1º o assalto ao carro que conduzia o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Orani Tempesta, que apesar de reconhecido pelos marginais e pedidos de desculpas, teve: caneta, celular, carteira porta-cédulas, cordão e anel de cardeal roubados. O 2º foi o Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler que, enquanto dava uma palestra “Os caminhos de Deus”, teve o veículo arrombado, sendo levado o estepe, e o cajado usado pelo religioso. Sorte teve o Papa, que veio ao Brasil, passou uma semana, andou no meio dos fiéis, e não foi roubado.

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