Reeleição de Dilma faz Petrobras ter maior queda da Bolsa com perda de 12%; dólar sobe a R$ 2,52
Como esperado pela maior parte dos analistas, o mercado financeiro reagiu negativamente à reeleição da presidente Dilma Rousseff para seu segundo mandato. Mas o movimento de ajuste de posições foi mais ameno do que o esperado, sem clima de pânico entre os investidores, que já vinham assimilando uma possível vitória de Dilma. Na Bolsa de Valores de São Paulo, o índice Bovespa (Ibovespa), principal indicador do mercado acionário brasileiro, encerrou em queda de 2,77% aos 50.503 pontos e volume financeiro bastante elevado de R$ 17,3 bilhões, mostrando que houve intenso movimento do mercado para refazer suas posições.
Na mínima do dia, o Ibovespa chegou aos 48.722 pontos, um recuo de 6,1% em relação ao fechamento de sexta-feira. As ações da Petrobras tiveram a maior queda do pregão, com desvalorização de mais de 12%, depois de abrirem o pregão com baixa de 14%.
No câmbio comercial, a moeda americana subiu 2,64%, a R$ 2,523 na venda, maior patamar desde 4 de dezembro de 2008. Logo após a abertura dos negócios, o dólar atingiu a máxima do dia chegando a R$ 2,5605, alta de 4,21%. No câmbio turismo, utilizado pelos brasileiros que viajam ao exterior, a moeda subiu 1,88% e encerrou negociada a R$ 2,70 na venda.
Na sexta-feira, a divisa havia caído 2,26% em meio a rumores de que o desempenho de Aécio nas urnas seria melhor.
– Embora o mercado tenha operado num tom pessimista hoje, os preços das ações já estavam bastante descontados. Por isso, não se viu uma queda exagerada. Ninguém ficou totalmente comprado, esperando a vitória de Aécio, nem vendido, apostando em Dilma. Esse ajuste aconteceu hoje – observa Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.
Analistas esperavam que fosse utilizado até o mecanismo do ‘circuit brake’, que é a suspensão dos negócios quando o Ibovespa cai mais de 10%. Mas não foi necessária a interrupção dos negócios.
Embora o discurso da presidente reeleita tenha sido mais conciliador, apontando para mudanças em relação ao primeiro mandato, os investidores devem manter o tom pessimista até que Dilma Rousseff indique mudanças na condução econômica, especialmente na política fiscal, que vem sendo criticada por ser pouco transparente e muito frouxa. O nome do novo ministro da Fazenda também é aguardado com expectativa.
– A equipe econômica, e especialmente o nome do novo ministro da Fazenda, é a grande interrogação que está nas mesas de operação agora. Qual será a diretriz do governo daqui para a frente? Essa questão se tornou mais urgente já que hoje temos um ministro que é demissionário – avalia Maurício Pedrosa, sócio da Queluz Asset Management.
IBOVESPA AINDA PODE RECUAR MAIS
Analistas acreditam que o Ibovespa tem espaço para cair até 45 mil pontos, enquanto a equipe econômica não for anunciada. Mas se os nomes resgatarem a confiança do mercado, o índice pode retornar a um patamar de equilíbrio em torno de 50 mil pontos. Para o dólar, a aposta é que a moeda americana pode atingir o patamar de R$ 2,60, nível só atingido em 2005, nos próximos dias. Mas se escolhida uma equipe econômica com “viés pró-mercado”, a divisa pode voltar à faixa de R$ 2,45/R$2,50.
“A partir de agora, importam para os movimentos de mercado as sinalizações de mudança”, diz relatório da Guide Investimentos, assinado pelo economista-chefe, Guilherme da Nóbrega, que resume a opinião da maioria dos analistas.
Nas semanas que antecederam o segundo turno das eleições, os mercados financeiros no Brasil viveram uma verdadeira montanha russa, com alta volatilidade e oscilando conforme os rumores e a divulgação das pesquisas de intenção de voto. O dólar chegou a bater em R$ 2,50, na semana passada, e as ações de empresas estatais foram as que mais se desvalorizaram. Operadores e analistas vinham mostrando insatisfação com as diretrizes econômicas do governo federal, avaliando que a reeleição de Dilma daria continuidade ao crescimento baixo, inflação elevada e intervenção relevante nas estatais.
Para o analista Marcelo Alves Varejão, da corretora Socopa, um dos temas mais preocupantes é a política fiscal, um item importante, porque bate diretamente na avaliação do grau de investimento do país pelas agências de classificação de risco.
“Enquanto o mercado não conhecer a postura do governo em relação a temas importantes da economia para os próximos quatro anos, a reação será de baixa”, observa Varejão em relatório.
AÇÕES DA PETROBRAS EM FORTE QUEDA
Os papéis da Petrobras abriram os negócios com baixa de 14% refletindo a reeleição de Dilma. No fechamento, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da petrolífera tombaram 12,33% a R$ 14,29, a maior queda do Ibovespa, enquanto as ações ordinárias (ON, com direito a voto) perderam 11,33% a R$ 13,93, terceira maior perda. Outros papéis de estatais, o chamado ‘kit-eleição’, também apresentam perdas. As ações ordinárias da Eletrobras recuaram 11,68% a R$ 5,37, a segunda maior baixa do índice, enquanto os papéis PNB perderam 9,63% a R$ 8,26.
As ações ordinárias do Banco Brasil abriram com queda de 12% e, fecharam com perda de 5,24% a R$ 24,40.
– Os papéis do ‘kit-eleições’ pesaram sobre o Ibovespa, mas a alta de papéis de exportadoras, beneficiadas pela alta do dólar, limitam a baixa – diz Pedrosa, da Queluz,
Em Nova York, os recibos de ações (ADRs) da Petrobras recuaram mais de 16% na pré-abertura do pregão em Wall Street. À tarde, os ADRs da petrolífera estavam sendo negociados a US$ 11,11, com recuo de 14,04%.
No caso específico de Petrobras, o UBS colocou a recomendação de “compra” e o preço-alvo de R$ 20 em revisão, citando incertezas relacionadas aos preços do petróleo e à taxa de câmbio, enquanto não espera mudanças ousadas na gestão da companhia após a eleição.
“Nós queremos saber como a estratégia da Petrobras para aumentar a lucratividade e cortar alavancagem pode mudar após as eleições”, disse o banco em nota.
Entre as ações mais negociadas, os papéis preferenciais da mineradora Vale perderam 4,72% a R$ 22,60, enquanto as ações preferenciais do Itaú Unibanco caíram 3,37% a R$ 32,12 e as PN do Bradesco recuaram 1,45% a R$ 33,22.
Entre as maiores altas ficaram ações de exportadoras, que são beneficiadas pela alta do dólar. Os papéis ordinários da Fibria, por exemplo, subiram 5,97% a R$ 28,95, a terceira maior alta do Ibovespa. Papeís do setor educacional também se valorizaram. As ações ordinárias da estácio tiveram a maior alta com ganho de 9,24% a R$ 26,13 e os papéis da Kroton subiram 7,89% a R$ 15,46.
Operadores informaram que a maior parte das operações de compra e venda foi feita por corretoras locais, enquanto os estrangeiros estão observando, sem entrar em apostas de risco.
BC MANTÉM INTERVENÇÕES NO CÂMBIO
Nesta manhã, o Banco Central deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio, vendendo 4 mil swaps cambiais com vencimentos em 1º de junho e 1º de setembro de 2015. A operação ocorreu entre 9h30 e 9h40 e o volume negociado foi de US$ 197,2 milhões.
O BC também fez nesta sessão mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em 3 de novembro, que equivalem a US$ 8,84 bilhões, com oferta de até 8 mil contratos. Foram rolados todos os papéis, movimentando US$ 393,4 milhões. Até agora, o BC já rolou cerca de 80% do lote total.
JUROS FUTUROS SOBEM NOS CONTRATOS DE LONGO PRAZO
No mercado de juros futuros, as taxas dos contratos com vencimento mais longos subiram, sinalizando a incerteza com a política econômica do governo Dilma. Os contratos com vencimento em janeiro de 2021 subiram de 11,87% para 12,14%. Já nos contratos de prazo mais curto, as taxas recuaram, com os investidores apostando que a taxa Selic será mantida em 11% por mais tempo. Os papéis com vencimento em janeiro de 2015 caíram de 10,97% para 10,94%, enquanto os contratos que vencem em janeiro de 2017 recuaram de 12,20% para 12,07%.
Fonte: O Globo