Estampas em tecido inspiradas na arte tapajônica em exposição no SESC Santarém
Há cerca de 1.000 anos, milhares de indígenas Tapajós habitavam a região Oeste do Pará. O povo foi extinto, mas fragmentos da sua cultura sobrevivem até hoje. A designer Luciana Leal, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), inspirou-se em parte da iconografia tapajônica para a criação de 20 estampas para tecidos, dando novos significados à herança dos Tapajós. O projeto, do Instituto de Artes do Pará (IAP), será apresentado na exposição “Design de superfície na Amazônia: referências visuais da iconografia arqueológica do Oeste do Pará no desenvolvimento de estampas têxteis”, a ser aberta no próximo dia 20, às 19h, no SESC Santarém.
A exposição já passou por Belém, em dezembro de 2014, no IAP. Agora em Santarém, além da exposição de tecidos, haverá a apresentação do músico Fábio Cavalcante, também servidor da UFOPA, que criou um arranjo especialmente para o projeto, pensando em um desfile de moda com os tecidos de Luciana. “A ideia é fazer uma parceria com um designer de moda para criar peças com inspiração indígena”, explica Luciana. Ela adianta que as estampas ficarão disponíveis para download em sítios especializados. Por enquanto, é possível conferir o catálogo com os resultados do projeto. Clique aqui para ver.
Acervo arqueológico – É provável que os tapajós pertenciam ao tronco linguístico caribe, que se estendia da América Central à margem norte do rio Amazonas. Segundo o professor do curso de Arqueologia Claide Morais, o período áureo desse povo remonta ao ano 1000, quando a organização política e a estrutura urbana eram muito mais complexas do que a encontrada na época da colonização. As aldeias ou centros urbanos eram muito maiores do que se pensa comumente.
Prova disso são os sítios arqueológicos de Santarém, principalmente da área urbana, que são alguns dos maiores da Amazônia. Atualmente, a UFOPA realiza o salvamento arqueológico em parte de um deles, o Porto, na área que pertence à instituição, no projeto coordenado por Claide Morais. “Hoje em dia, Santarém está destruindo os sítios arqueológicos sem nenhum controle. Talvez, se as pessoas souberem da importância que essas coisas têm, através de projetos como esse da Luciana, comece a surgir uma consciência de preservação dos sítios”, destaca.
Para produzir as estampas, a designer se inspirou no acervo do Laboratório Curt Nimuendaju da UFOPA, que reúne, além das cerâmicas tapajônicas, centenas de objetos arqueológicos das mais diversas origens, como restos de fauna, carvões de fogueiras, sementes carbonizadas de outros povos mais antigos ou contemporâneos da Amazônia, sobretudo do Pará, Amazonas e Roraima. “Grande parte da coleção tapajônica vem de achados fortuitos, que são de pessoas que não estão trabalhando com material arqueológico, sabem de sua importância e o trazem para o acervo”, afirma Claide.
O primeiro contato de Luciana com o acervo foi em 2011, quando produziu um catálogo de formas e ornamentos dos artefatos arqueológicos presentes até então na UFOPA. Esse material serviu de base para a criação da exposição permanente “Azulejos dos Tapajós”, no próprio Laboratório, e a coleção “Tapajós” da sua marca de bolsas, “Matinta Criada”.
Para este trabalho mais recente, ela fotografou cerca de 300 peças. Dentre as figuras que chamam atenção, destaca-se o urubu, que está presente em quatro de suas criações. Ela explica: “Os urubus eram considerados pelos índios como o animal que leva a alma dos mortos para o céu”. Tem também tartaruga, cotia, morcego, cachorro-do-mato, coruja, além de formas humanas. Outro ponto curioso são os vários sentidos que podem ser atribuídos a uma única peça: “De cada ângulo que se olha uma peça, é possível visualizar uma coisa diferente”, destaca.
O trabalho de Luciana Leal é um dos poucos no campo do design de superfície na região Amazônica. A técnica, usada para diferenciar produtos e objetos, partiu da cerâmica tapajônica porque, segundo a designer, ainda não havia nenhuma iniciativa que evidenciasse esses traços: “É importante para as pessoas valorizarem mais, enxergarem de outra forma a riqueza que a gente tem”, afirma.
Fonte: RG 15/O Impacto e Ascom/Ufopa