UFOPA faz análise microbiológica da água de Alter do chão

UFOPA realizou a análise microbiológica da água de 14 pontos da vila de Alter do chão
UFOPA realizou a análise microbiológica da água de 14 pontos da vila de Alter do chão

Por determinação do Ministério Público (MP) a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) realizou a análise microbiológica da água de 14 pontos da vila de Alter do chão – a 40 km de Santarém. As análises foram feitas no Laboratório de Ensino Interdisciplinar em Biologia Aplicada por meio da técnica de tubos múltiplos (NMP/100 ml) sob responsabilidade da Profa. Graciane Fernandes (ICTA). O pedido de análise foi motivado pelo surto de Hepatite A registrado na vila e que pode estar sendo causado pela água contaminada.

As amostras de água foram coletadas em locais determinados pelo Ministério Público e incluíram a maior escola municipal da vila (Antônio Pedroso), torneiras que recebem água do microssistema de abastecimento e as torneiras que abastecem algumas barracas da praia Ilha do Amor, localizada em frente à vila.

No relatório de ensaio que será enviado ao MP a prof. Graciene Fernandes esclarece, “Conforme os parâmetros considerados, as amostras analisadas estão em não conformidade com a legislação vigente, uma vez que em mais de 80% das amostras foram encontrados presença de coliformes totais e de termotolerantes”. Os parâmetros foram baseados na Resolução n. 357 (2005) do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

COMO FOI FEITA A ANÁLISE: A técnica de tubos múltiplos (NMP/100ml), ou seja o Número Mais Provável, possibilita determinar uma estimativa da quantidade de micro-organismos presentes nas amostras. “Pelo número de tubos positivos em cada uma das diluições empregadas determina-se o número mais provável por mililitro de água, tendo como base a tabela estatística de Hoskins para três, cinco ou dez tubos. Por esta técnica pode-se obter informações sobre a população presuntiva de coliformes (teste presuntivo), e sobre a população de coliformes de origem fecal (coliformes termotolerantes)”, informa o relatório. As amostras analisadas apresentam o (NMP totais /100ml)  variando entre 20.000 e 6.100. O máximo permitido de NMP/100 ml pela resolução do Conama é de 200 NMP/100 ml para que a água (classe 1 ) seja considerada potável.

“Todos os resultados, de todas as amostras apresentaram contaminação, tanto por coliformes totais, quanto por termotolerentes”, explica Graciane Fernandes, e ela completa: “O grau de contaminação variou bastante de uma mostra para outra. Analisando o cenário como um todo, a partir desses resultados, é algo muito preocupante. Porque muitas das amostras coletadas são de água utilizada diretamente para consumo pela população, sem passar por nenhum tipo de tratamento”.

A professora alerta ainda que a água é um dos principais meios de contaminação: “A maioria das doenças são transmitidas por meio de fontes hídricas, por isso, trata-se de um caso de saúde pública em que população, comunitários e poder público devem se unir numa força-tarefa para atuar na gestão desse recurso.

COLIFORME FECAIS OU COLIFORMES TERMOTOLERANTES: São coliformes capazes de se desenvolver e fermentar a lactose com produção de ácido e gás a temperaturas que variam de 44,5 a 0,2 ºC. O principal componente deste grupo é Escherichia coli sendo que alguns coliformes do gênero Klebsiella e Citrobacter também apresentam essa capacidade.

Outro fator constatado pelas análises feitas no laboratório da UFOPA e que consta no relatório que será enviado ao MP é a alteração do Ph das amostras de água. Na vila de Alter do Chão esse índice está variando de 2,93 a 6,7 o que representa alterações. “Esses índices de Ph alertou-nos para alguns fatores ou variáveis de contaminação, o que foi confirmado pelas análises”, disse a professora que também recomenda que sejam feitas outras análises “fisico-químicas para determinar quais fatores podem estar favorecendo para que o nível de acidez da água esteja muito alto”.

PARA ENTENDER O CASO: Em Janeiro de 2015, a Divisão de Vigilância Sanitária da Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA) realizou análises na água da vila. De acordo com laudo técnico emitido no dia 15 de janeiro, das seis amostras coletadas, quatro apresentaram presença de escherichia coli (coliformes). Os locais com contaminação foram: Cabeceira do Macaco, A Ilha Praia do Amor (em frente à vila), próximo às barracas, Praia do CAT (próximo à praia do Cajueiro), e bebedouros da Escola Municipal Antônio Sousa Pedrosa. Estavam livre da bactéria apenas as coletas oriundas do microssistema de abastecimento que distribui água para algumas residências e alguns estabelecimentos comerciais da vila.  Desde então, na escola que recebe 667 alunos, em três turnos, os bebedouros foram interditados. “Os alunos estão bebendo água mineral que a escola está adquirindo no comércio local”, informou o vice-diretor Pedro Aleixo Reis. Ele disse também que na escola não foram identificados alunos com os sintomas da Hepatite A.

De acordo com o diretor da DIVISA, João Alberto ações emergenciais de saúde estão sendo colocadas em prática na vila. O posto de saúde está equipado para atender os casos de Hepatite A,  que por ventura sejam diagnosticados, disse ele. “Estamos realizando exames em grupos de risco como catraieiros, cozinheiros e outros profissionais para saber se estão com a doença”.

Entre as ações preventivas João Alberto destacou o mini-curso de manipulação de alimentos oferecido aos donos de restaurantes e funcionários, a distribuição de hipoclorito para a população e alertas acerca da destinação do lixo. O diretor chama a atenção ainda da população para a necessidade de cuidados como: “deixar de fazer as necessidades básicas direto no rio, evitar deixar lixo espalhado pela rua e, principalmente não ingerir água sem saber a procedência”. Isso evitaria mais contaminação.

O diretor da DIVISA informou que o monitoramento da água da vila, partir de agora, será feito mensalmente.

Num simples passeio de catraia (pequenas embarcações a remo que transportam no máximo 4 pessoas para o outro lado da ilha) é possível perceber canaletas de esgoto despejando dejetos no rio. “Aquele alí, despeja restos de comida e até óleo dá para ver na água”, denunciou Givanildo Silva, catraieiro que há 15 anos pilota uma pequena canoa de madeira, a mesma que levou a nossa equipe para fazer as coletas. Ao longo de toda orla de Alter do Chão é possível ver esgotos despejando no rio. Os empresários que atuam na vila também estão bastante preocupados com a situação. “Não podemos fazer nada sozinhos, precisamos do apoio do poder público. È preciso fiscalizar as embarcações que ficam ancoradas na frente da ilha”, alertou Débora Diniz, proprietária de um dos restaurantes mais frequentados da vila.

Fonte: RG 15/O Impacto e Ascom/Ufopa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *