Especialistas alertam: Atividade garimpeira contamina Rio Tapajós
Análises feitas por especialistas em meio ambiente, através de imagens, entre as cidades de Itaituba e Santarém, no Oeste do Pará, constatam a mudança de coloração nas águas do Rio Tapajós, no período de um ano. Uma imagem feita no dia 29 de março de 2015 mostra o Rio Tapajós com águas sem as cores verde-azuladas que lhe são características.
Outras fotografias feitas em agosto e novembro de 2014 apresentam cores típicas. De acordo com moradores de comunidades tradicionais, a descaracterização da tonalidade da água não resulta de um fenômeno natural, mas da conseqüência da atividade garimpeira no leito do Tapajós e de seus afluentes, fruto da mistura de barro, lama, mercúrio, cianeto, sabões, detergentes, graxas, combustíveis e metais pesados.
No fim do ano passado, a coloração barrenta provocada por lama atingiu à foz do Rio Tapajós, em frente à Cidade de Santarém. Hoje, quem caminha na orla da cidade, ainda percebe o tom barrento das águas do Tapajós.
Segundo especialistas, a contaminação atinge mais de 700 quilômetros de extensão do Rio Tapajós e de seus principais afluentes, desde a Província Aurífera, até a foz, em frente à Santarém. A contaminação do Tapajós preocupa empresários do segmento do turismo, na região Oeste do Pará.
Eles revelam que a poluição comprometeu a beleza do encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas, em frente à Santarém, um dos principais cartões postais do Estado do Pará. Os empresários dizem que além da atividade garimpeira, outra preocupação fica em torno da Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, a qual deve provocar sérios danos ambientais. Após a construção da hidrelétrica, eles temem que as águas do Tapajós percam força e com, isso o tom barrento do Amazonas adentre no leite, comprometendo diretamente as praias da região, como Alter do Chão (considerada o ‘Caribe Brasileiro’), Ponta de Pedras, Pindobal, Aramanaí e outras belezas da região.
No início deste ano, dezenas de pessoas em Santarém, observaram com preocupação, o encontro das águas sair de frente da cidade, sendo avistado próximo à Praia do Maracanã, devido a estiagem prolongada, a qual baixou o nível das águas do Rio Tapajós. Os operadores de turismo reforçam que com a construção da Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, pelo governo Federal, o fenômeno natural do encontro das águas corre risco de desaparecer completamente da frente de Santarém.
Em postagem, em uma rede social, o engenheiro agrônomo Nilson Vieira mostrou a devastação das fontes de vida e beleza do Oeste do Pará. “Pelo jeito, a mistura de barro, lama e metais pesados chegou à foz do nosso lindo rio azul. E agora, José?”, questionou o engenheiro.
Em recente entrevista à nossa reportagem, o médico Erik Jennings mostrou preocupação em relação a garimpagem e o projeto de construção da Hidrelétrica de São Luiz, no rio Tapajós. Ele alertou que o mercúrio, usado pelos garimpeiros, é uma das seis substâncias mais tóxicas encontradas naturalmente no meio ambiente, sendo um dos dezesseis mais raros elementos da natureza. Segundo ele, a sua forma metilada (Metil-mercúrio), é altamente tóxica para as células do cérebro humano e outros animais e, que isso deve gerar sérios riscos a população local, com a construção das hidrelétricas.
“Ele (mercúrio) se torna tóxico, principalmente pela ingestão de peixes contaminados e causa déficit de inteligência, falta de concentração e tremores incontroláveis. Quando se represa um rio, altamente contaminado por mercúrio, como já é o caso do Tapajós devido a atividades de garimpos, cria-se uma condição ideal para a metilação do mercúrio. A pouca correnteza no reservatório e diferentes temperaturas que será criada na foz dos tributários facilitará a metilação”, alertou o médico Érik Jennings.
De acordo com ele, as crianças geradas por mães contaminadas terão conseqüências devastadoras em seus cérebros. “A atividade garimpeira desenfreada com uso de mercúrio já é um grave problema no Tapajós. Porém, as dragas de garimpos são um problema para o Rio Tapajós”, declarou Dr. Érik Jennings.
ATIVIDADE GARIMPEIRA: Cerca de três mil garimpos clandestinos ameaçam unidades de conservação, reservas indígenas e rios na região do Tapajós, no Pará, a área mais preservada da Amazônia Legal. Em cada um trabalham de dez a cem homens, mas alguns chegam a ter 500. Só num trecho de dois quilômetros há 63 dragas cavando o leito do Rio Tapajós em busca de ouro. O número está num relatório do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que monitora as unidades de conservação federais. Segundo o documento, mesmo garimpos com autorização de lavra não têm estudos de impacto ou licença ambiental.
A extração legal de ouro paga aos cofres públicos apenas 1% de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), dos quais 12% vão para a União, 23% para o Estado e 65% para o Município. Hoje, o ouro ocupa o segundo lugar na exportação mineral do País, atrás apenas do ferro.
O ouro começou a ser explorado na década de 50 no Rio das Tropas, afluente do Tapajós, e sempre foi a principal fonte de renda da população. Com o aumento do preço no mercado internacional, acentuado a partir de 2008, só a região de Itaituba — que inclui os municípios de Trairão, Jacareacanga e Novo Progresso — recebeu cerca de cinco mil novos garimpeiros.
Por: Manoel Cardoso
Fonte: RG 15/O Impacto