CRM denuncia que Pará perdeu 595 leitos desde 2010
O Pará já perdeu ao menos 595 leitos desde julho de 2010, segundo um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), que realizou o estudo junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde. A pesquisa constatou ainda que todos os sete estados da região Norte perderam leitos para pacientes que precisam permanecer no hospital por mais de 24 horas.
Para alertar a população sobre os direitos na saúde pública, integrantes do CRM-PA (Conselho Regional de Medicina) estiveram no Pronto Socorro Municipal do Guamá, na manhã desta segunda-feira (2), em Belém, para distribuir uma cartilha que orienta os pacientes em casos de reclamações sobre os serviços.
Durante a ação realizada hoje, os integrantes do Conselho Regional de Medicina conversaram com pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde, orientando em caso de problemas enfrentados durante os atendimentos. A ação também ocorreu em todos os 26 estados do país e mais o Distrito Federal.
Pesquisa
Em números absolutos, o estado do Pará foi o que mais sofreu com redução no período, 595 leitos desativados desde julho de 2010. Na sequência aparece Amazonas, com menos 475 leitos. Acre desativou 195 no período, 60% deles na capital. No geral, o resultado final para a região foi contrabalanceado pelos estados de Rondônia, Amapá e Roraima, que apresentaram ligeira alta de leitos.
Entre as especialidades mais afetadas no período, em nível local, constam pediatria (-292 leitos) e obstetrícia (-494).
O levantamento do CFM apurou ainda os chamados leitos complementares (reservados às Unidades de Terapia Intensiva, isolamento e cuidados intermediários). Ao contrário dos leitos de internação, essa rede complementar apresentou alta de 13%, passando de 1.697 em julho de 2010 para 1.914 no mesmo mês de 2014. O maior acréscimo aconteceu no estado de Rondônia (127), seguido por Tocantins (36).
Médicos pedem investimento na atenção básica
O presidente do Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa), João Gouveia, explica que a perda de leitos no Pará está diretamente ligada a defasagem da tabela de pagamento de serviços praticada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). ‘Boa parte destes leitos são de hospitais privados que por conta da tabela não tiveram interesse em manter o convênio’, esclarece.
Para o médico ‘o problema não é o leito em si, mas a atenção básica que não funciona’. ‘A política de saúde deve estar voltada sempre para a atenção básica, para a orientação da população quanto a bons hábitos de higiene, prevenção de doenças como o câncer de mama, vacinações e isso é muito deficitário no Pará’, aponta.
No entendimento do sindicato, o investimento em programas de saúde da família e no trabalho feito nas unidades básicas de saúde poderiam diminuir a necessidade do número de leitos existentes. ‘A política de saúde pública é hospitalocêntrica, voltada para a doença e não para a saúde. Há uma preocupação em construir hospital e não investir em atenção básica’, dispara.
Gouveia acrescenta que o investimento em atenção básica ajudaria a baratear os custos com a saúde pública. Para ele, o atual modelo do sistema de saúde é voltado para o investimento em média e alta complexidade, que demandam investimentos mais altos. ‘Precisamos tirar o foco do modelo de média e alta complexidade. É mais barato investir em saúde básica do que investir em hospital. Você até consegue coibir a corrupção, que ocorre na média e na alta complexidade. Nessas áreas é preciso reformar hospital, comprar aparelho, é daí que vem a corrupção’, finalizou.
Outro lado
O ORM News entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) para posicionamento oficial sobre o fechamento de leitos no Pará. A reportagem também entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) para verificar se o fechamento dos leitos afetou a capital paraense no período do levantamento divulgado pelo CFM.
Fonte: Portal ORM News