Um dia após ser preso, Léo Pinheiro decide falar com Moro sobre CPMI

Ishii Newton conduz ex-presidente da OAS na segunda-feira
Ishii Newton conduz ex-presidente da OAS na segunda-feira

Um dia depois de ser preso, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro mudou de estratégia e pediu ao juiz Sérgio Moro para prestar novo depoimento na ação que investiga pagamento de propinas ao ex-senador Gim Argello para barrar a CPMI da Petrobras e impedir que fossem convocados executivos de empresas fornecedoras da estatal. No novo interrogatório, ele estaria disposto a colaborar para “esclarecimentos dos fatos”. Moro aceitou o pedido da defesa e marcou um novo depoimento do empresário para o próximo dia 13.

No último dia 24 de agosto, Léo Pinheiro preferiu permanecer em silêncio durante o depoimento a Moro. Na ação, ele também é réu. É acusado de ter procurado outros empreiteiros para sugerir pagamento de propina a Argello, para que não fossem convocados a depor. Nesta empreitada, teria sido acompanhado de Júlio Camargo, réu na ação, mas que conta com os benefícios da delação premiada. Havia expectativa que ele falasse a Moro no dia 24, pois dois dias antes a Procuradoria-Geral da República (PGR) suspendeu a negociação do acordo de delação premiada de Léo Pinheiro, alegando vazamento de informações.

No fim de semana anterior, a revista Veja afirmou que Pinheiro havia citado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, em um dos anexos do acordo.

Outro delator da Lava-Jato, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC, afirmou a Moro ter procurado Gim Argello por sugestão de Léo Pinheiro. Ele reafirmou ter pagado R$ 5 milhões, por meio de doações eleitorais indicadas por Argello, para evitar sua convocação na CPMI. O dinheiro foi usado nas eleições de 2014.

Gim Argello também depôs a Moro. Num depoimento em que chegou a chorar, disse que aceitou dinheiro das empreiteiras porque elas eram as maiores doadoras para campanhas, mas que havia deixado claro aos interlocutores que não havia qualquer relação com a CPMI.

Foram anexados ao processo documentos que mostram que Léo Pinheiro (OAS), Ricardo Pessoa (UTC) e Walmir Pinheiro (UTC) foram alvo, cada um deles, de dois requerimentos para depor na CPMI da Petrobras, todos apresentados no dia 18 de novembro de 2014. Nenhum deles foi apreciado. Não houve requerimentos pedindo a convocação para depor de Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e de José Antunes Sobrinho, da Engevix.

Também foi anexada uma reportagem, publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 1 de junho de 2014, que fala sobre um pacto entre os senadores para as investigações dos negócios da Petrobras fossem centradas em pessoas, não nas empresas fornecedoras da estatal. De acordo com a reportagem, senadores do PSDB e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PSDB), que representava os interesses do Planalto, teriam costurado o acerto.

Prisão para garantir investigação

Léo Pinheiro havia sido preso na 7ª Fase da Lava-Jato, em novembro de 2014, e colocado em prisão domiciliar pelo Supremo Tribunal Federal em abril de 2015. No novo pedido de prisão, apresentado em março passado a Moro, o Ministério Público Federal (MPF) afirma que ele deve ser mantido preso para “garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e segurança da aplicação da lei penal”. De acordo com os procuradores, foram verificados os crimes de corrupção, cartel e lavagem de dinheiro sob a coordenação do executivo de 2006 até o início deste ano. Procurados, os advogados da OAS não se manifestaram.

Moro afirmou no despacho ter demorado a decidir para aguardar o andamento da ação contra o ex-senador Gim Argello. Se Argello tivesse feito alguma ameaça, os empresários teriam sido vítimas de concussão, não de corrupção ativa. O juiz ressaltou que Léo Pinheiro agiu com protagonismo em 2014, ao tentar barrar a investigação da CPMI da Petrobras já com a Lava-Jato em curso.

Em novembro de 2014, 10 dias antes de ser preso pela Polícia Federal, Léo Pinheiro se reuniu com o então senador Gim Argello por duas vezes em São Paulo -uma delas na sede da OAB-SP, outra no escritório da OAS – para tentar barrar as investigações. As provas foram colhidas em mensagens existentes nos celulares do empresário, que foram apreendidos.

Fonte: O Globo

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