Famílias das vítimas cobram da Justiça mesmo tratamento dado à Bertolini

Wemerson Almeida diz que Justiça agiu em tempo recorde a favor da empresa

O acidente envolvendo o empurrador da empresa Bertolini tem gerado polêmicas, com repercuções a nível nacional. Há muito tempo algo não era tão comentado e discutido, ocasionando manifestações de todas formas, envolvendo órgãos de segurança e outros setores. O drama que as famílias das vítimas vêm passando é algo pertubador, gritos, gestos e ações, vêm traduzindo o luto e o sentimento de indignação pela falta de conclusão e desfecho com o provável resgate dos corpos que até o momento se encontram submersos a aproximadamente 60 metros no fundo do Rio Amazonas. E para dar notícias atualizadas sobre o andamento do processo de resgate do empurrador, convidamos um dos parentes das vítimas, Wemerson Almeida, que aliás, foi entrevistado por Osvaldo de Andrade em outra opurtunidade pela TV Impacto. Ele que atualmente também é administrador do IASEP em Santarém.

“Em nome das nove famílias, vou falar sobre essa situação que hoje completa 37 dias depois do ocorrido, trazendo para todos os familiares das vítimas muita dor, sofrimento e angústia. O que mais buscamos hoje, através de inúmeras reuniões com Ministério Público Estadual e Ministério Publico Federal, é uma solução para esse problema. Já fomos ao Ministério Público do Trabalho solicitar uma audiência com o Procurador do Trabalho, para que dentro das limitações, dentro das atribuições do órgão, verifique o que se pode fazer em favor das famílias e em favor dos nove tripulantes. Nós estamos aguardando o retorno e pedimos o apoio e a orientação da OAB, que inclusive sempre esteve ao nosso lado, porém, até agora não obtivemos nenhuma resposta por parte da Bertolini. A empresa continua insistindo no prazo de resgate que foi estipulado por uma consultoria que eles contrataram, com a alegação de que não existe empresa capacitada dentro do Brasil. Só que isso ficou até agora, apenas em palavras, nada foi comprovado através de forma oficial, através de um documento ou de alguma coisa que a gente pudesse chegar e mostrar às famílias, informando que ‘realmente não existe empresa no Brasil, vamos ter que buscar fora do País’. É o que a empresa vem alegando nesses 37 dias e nosso maior desejo é que esse resgate seja feito o mais rápido possível para acabar com  o sofrimento das famílias. São 37 dias, podemos dizer que estão com meia vida, porque as pessoas tentam seguir adiante, tentam adequar suas vidas de forma normal, mas não têm como; com um pai, uma mãe e uma esposa querendo seus entes queridos e fica nessa incerteza de saber o que aconteceu. Nossa maior reevindicação hoje em cima da empresa Bertolini, é que o prazo que ela deu para fazer o resgate do empurrador, foi para outubro e novembro, que é um prazo que as famílias não aceitam. A gente deseja e exige que esse prazo seja reduzido, que pelo menos agora na segunda quinzena de setembro, possa se começar esse trabalho de resgate. Nós sabemos, somos filhos da terra, somos filhos da região, conhecemos o Rio Amazonas e sabemos que até novembro pode acontecer de nada mais encontrarmos dentro dessa embarcação. Sabemos das condições que o Rio Amazonas apresenta para a gente e, imagina você daqui a três ou quatro meses, que é o prazo que vai dar, de agosto a novembro, quando se somará quase 120 dias, você tirar esse empurrador do fundo Rio Amazonas que está a 60 metros de profundidade e não tiver nenhum corpo lá, para se chegar e dizer, está aqui ‘fulano’, está aqui seu pai, seu irmão, seu esposo; pegue e vá enterrar. Essa é a maior dor das famílias hoje, é a incerteza de que lá na frente você não vai ter nada dos seus entes queridos para fazer um sepultamento dígno, ter um local como referência para fazer suas orações, para quem tem uma crença de acender uma vela e rezar também. Eu, em outras reuniões questionei o procurador do Ministério Público Federal, Dr. Camões, que tem dado um apoio muito grande, dentro das limitações também do órgão. Muito não pôde se fazer em relação ao resgate. As últimas semanas foram marcadas por vários naufrágios, não só no Pará, mas como também no Brasil. Houve o acidente da Bahia com aquela lancha; houve um acidente no Rio Xingú, próximo à cidade de Porto de Moz. Eu disse pra ele que o acidente dos nossos familiares é diferente, tem uma peculiaridade, como disse pra ele que ‘na Bahia, quem morreu foi encontrado e entregue para as famílias e seputado no período de luto’. Quem se salvou graças a Deus está em casa, quem ficou ferido está no hospital ou se recuperando em casa. No Xingú, a mesma coisa aconteceu, houve o resgate, os mortos foram enterrados e as famílias hoje, estão em luto”. Nós em Santarém, com relação ao acidente da Bertolini, não temos nada, não temos feridos, não tem ninguém que possa dizer que foram encontrados os corpos, que morreu afogado. Nós continuamos com a incerteza do que aconteceu realmente”, declarou Wemerson Almeida.

“Nós procuramos como auxílio a Ordem dos Advogados de Santarém, na pessoa do Dr. Ubirajara Bentes Filho, que sempre quando pedimos a presença da OAB ele nos atendeu. Dr. Ubirajara cobrou, mas como ele disse, a OAB não tem poder para fazer muita coisa, mas tem o poder de cobrar e a OAB cobrou de fato da empresa Bertolini, mas a mesma em momento algum mostrou uma boa vontade de que a coisa fosse resolvida o mais breve possível. O Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal nos atenderam e nos apoiaram, mas todos dentro das suas limitações. Nós esperamos que bem mais para frente, alguma coisa seja feita, alguma decisão seja tomada em cima da empresa Bertolini, por esse descaso que ela está tendo com a tripulação do empurrador. A gente entende que era para empresa ter um plano de resgate, uma plano de emergência sim, pois ele navega há muitos anos aqui na nossa região, saindo daqui de Santarém até Porto Velho, percorrendo o Rio Tapajós, Rio Amazonas e o Rio Madeira, faz o trajeto de ida e volta, então, ela conhece as dificuldade e conhece os riscos da nossa região. As famílias entendem que era para a Bertolini ter um plano de emergência numa situação dessa”, denunciou Wemerson Almeida.

O diretor do IASEP de Santarém, parente de uma das vítimas, foi mais além: “Muitas coisas passam pela cabeça de todos nós familiares, onde a empresa Bertolini, fora os falatórios e palavras, nunca comprovou nada pra gente e, uma das coisas que passa por nossas cabeças é de que a Bertolini poderia estar buscando uma empresa de salvatagem, mas visando a questão financeira, econômica e comercial, ela jogou de certa forma a responsabilidade para as seguradoras. Mas a gente entende e sabe que a responsabilidade primária é sim da Bertolini, porque nossos familiares tinham um vínculo não com a seguradora e sim com a empresa Bertolini, então, a questão burocrática num momento desses deveria ser deixada de lado e deveriam ter dado uma assistência e uma resposta o mais rápido possível para as famílias”, declarou.

“As famílias têm se reunido constantemente. Na quinta-feira da semana passada nós resolvemos ir para a frente da empresa Bertolini, fechamos o portão principal, passamos a quinta-feira toda por lá, viramos a sexta-feira e durante essa horas que passamos lá, a gente também entende que houve uma falta de respeito muito grande da direção da empresa, pois não apareceu nenhum representante da Bertolini para falar conosco, muito menos oferecer um copo com água, pois lá tinham mães, crianças e filhos dos tripulantes, todos passaram o dia e noite de quinta, bem como o dia todo de sexta sem qualquer apoio deles. Saímos de lá na sexta-feira por volta de 15:30 horas, por meio de uma ordem judicial, em que a empresa pediu que a Justiça nos obrigasse a sair de lá e liberasse o portão da empresa para que ela voltasse às atividades normais. A gente entrou em contato junto com nossa advogada, fomos pesquisar e vimos que infelizmente, para os mais fracos o Judiciário tem uma atitude e para os mais fortes o tratamento é diferenciado. A ação da Bertolini foi protocolada ao meio dia, quando foi 15:30 horas o Oficial de Justiça estava lá na nossa manifestação com a Ordem Judicial. Nós sabemos da morosidade do Poder Juduciário, isso não é só em Santarém, mas no Brasil todo, porém, para nossa surpresa o Judiciário aqui de Santarém em tempo recorde deu uma decisão para a empresa Bertolini e nós, de imediato, acatamos, porque conhecemos que Ordem Judicial não se discute, apenas se cumpre. Até porque nós teríamos alguns prejuízos, digamos assim, se a gente não cumprisse a Ordem Judicial. Então, nós demos um passo para trás, recuamos e fomos para nossas casas esfriar a cabeça e descansarmos, bem como pensar em uma outra estratégia. Quando foi na segunda-feira, protocolamos através de nossa advogada, uma Ação (Tutela de Urgência) na Justiça Estadual aqui em Santarém e, ao contrário da decisão da Bertolini, a resposta só foi dada no outro dia, ou seja, na terça-feira. Não foi feita uma análise com a mesma celeridade que foi dada para a ação da Bertolini. Por isso nós queremos deixar aqui registrada essa diferença de tratamento entre as famílias e à empresa Bertolini. Na terça-feira, por volta de meio dia, para maior supresa das famílias, o Juíz para onde foi distribuída nossa Ação, declinou que a competência não seria da Justiça Comum e sim da Justiça do Trabalho. De imediato, nossa advogada pegou, preparou e mudou o endereçamento da Ação e protocolou na Justiça do Trabalho, que foi distribuída na quarta-feira para a Primeira Vara do Trabalho de Santarém e a gente está aguardando uma resposta da mesma. Mediante essa resposta, nós acreditamos com muita fé em Deus que vai ser favorável aos familiares, iremos traçar nossos próximos planos de acordo com a resposta que a Justiça do Trabalho der, para os próximos dias”, finalizou Wemerson Almeida.

Por: Allan Patrick

Fonte: RG 15/O Impacto

Um comentário em “Famílias das vítimas cobram da Justiça mesmo tratamento dado à Bertolini

  • 5 de janeiro de 2018 em 13:56
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    B tarde redatores, os tripulantes resgatados finalmente e sepultados dignamente.
    AS INDENIZAÇÕES?? Ah!!! Agora inicia-se uma correria: R$ 5, 10, 15 ou 20 MILHÕES;
    Quanto vale uma vida também dedicada aos perigos da Amazônia???

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