Luís Carlos Botelho: “Santarém já foi um celeiro de craques”

Tio Lalá faz uma análise do futebol santareno e de alguns clubes brasileiros

O polêmico comentarista esportivo Luís Carlos Botelho, mais conhecido como “Tio Lalá”, que por muitos anos atuou na Rádio Rural de Santarém, agora faz parte do quadro de profissionais da TV Impacto e Jornal O Impacto, onde falará sobre o futebol santareno, do Pará e do Brasil. Ele foi entrevistado por nossa reportagem e analisou a atual fase do futebol santareno, bem como dá sua opinião sobre os times brasileiros que participaram de disputas por títulos internacionais nos últimos dias.

“Hoje vamos começar uma nova história na TV Impacto. Ela é um prosseguimento da nossa vida e que fazemos há cerca de quatro décadas, que é falar de esporte. O esporte deveria ser um segmento da sociedade, que pudesse nos trazer uma educação consistente, uma educação participativa e salutar, mas que muitas das vezes nos encontramos com percalços que não são os ideais. Vamos começar com uma notícia do São Raimundo”, declarou Botelho.

“O São Raimundo deve ter pouco tempo para estar em campo no dia 14 de janeiro, diante de uma equipe do futebol paraense, quando começa a sua participação efetiva nesta competição. O treinador é mineiro de nascimento, mas de prática esportiva no Ceará, onde trabalhou no futebol daquele Estado. Ele também trabalhou em algumas equipes do Nordeste, mas a última equipe, foi o Ferroviário, que acabou sendo campeão”, informou.

Botelho faz uma síntese sobre os atletas antigos e atuais. “É preciso que se fale sempre das coisas do passado. Santarém era uma cidade de exportação de craques. Eu poderia numerar muitos craques que saíram daqui: Manoel Maria para o Santos, que inclusive formou o maior ataque do mundo Manoel Maria, Coutinho, Pelé e Pepe; Darinta, que jogou ao lado de Luiz Pereira no Palmeiras; Bendelack, que jogou no Cruzeiro ao lado de Palhinha e outros craques. Então, tivemos grandes nomes santarenos que saíram para brilhar lá fora. E agora a coisa mudou muito no futebol moderno, porque o treinador que vem de fora traz os jogadores que ele conhece, isso quer dizer que os atletas da nossa terra pouca chance ou nenhuma terão de vestir a camisa de São Raimundo, São Francisco e Tapajós, que são as equipes profissionais de Santarém. Agora, resta saber quem são esses jogadores. Como vai ser o São Raimundo, que precisa ter cuidado, pois se bobear vai para segunda divisão, como já estão Tapajós e São Francisco. Por isso, o São Raimundo é o único representante neste Campeonato Paraense de 2018. Que fique o alerta. Vamos aguardar a preparação, para podermos voltar a falar do São Raimundo, de como será e como irá se apresentar no estádio”, alertou.

“Outra notícia é sobre o Estádio Colosso do Tapajós. Estou preocupado porque temos convivido nos últimos dez anos com o improviso, falta de preparação e organização, seja da Prefeitura ou dos órgãos competentes da Federação. Por exemplo, eu não sei se a iluminação está pronta. O primeiro jogo será no sábado, deve começar por volta das 18 ou 19 horas e vai acabar de noite, essa é a primeira pergunta: Está ‘ok’ a iluminação do Estádio Colosso do Tapajós? Segunda pergunta, que eu venho batendo há dois anos; o anel da parte de baixo do estádio Colosso do Tapajós está pronto, mas só é usado a metade e eu perguntei ao representante da Federação: ‘Por que não liberava?’. Ele disse: ‘Trata-se de uma obra que só poderia ser liberada quando o Governo do Estado concluísse’. Então, eu respondi: ‘Mas, meu amigo, pelo amor de Deus, o anel está pronto, por que que o torcedor não pode se acomodar de uma maneira mais tranquila?’. Então, a gente olha para o outro lado, para a arquibancada que está pronta no anel debaixo, que fica para o lado da Sérgio Henn, e você vê tudo pronto e não pode usar. Não sou eu que estou perguntando, é o povo, o torcedor do futebol santareno: ‘Por que que eu não posso usar, se está pronto?’ E se não concluir esse estádio, essa parte do estádio vai ficar lá sem usar sempre? E uma última questão, o torcedor fica preocupado pela parte da noite para ir ao Colosso do Tapajós, porque não tem transporte para ele voltar para casa, Santarém não é mais como cinquenta anos atrás, em que a gente andava pelas ruas cantando de madrugada sem a preocupação de ser assaltado, era a ‘cidade dos sonhos’, um paraíso. Hoje não, trata-se uma mini metrópole, com todas as artimanhas, com todas as dores que as grandes cidades apresentam. Quem mora no Santarenzinho, Nova República, na Área Verde, fica temeroso de sair 11 horas da noite e ter de voltar a pé para sua casa, porque não tem transporte. De quem é a culpa?”, questiona Luís Carlos Botelho

Continuando, Tio Lalá vai mais além: “Veja bem, a Prefeitura é a primeira, porque ela tem de gerir. Vamos ver se o atual Prefeito vai fazer isso. É a Prefeitura que dá concessão para os transportes coletivos e, nos dias de jogos do Campeonato Paraense tem de ter pelo menos um ônibus para os bairros, para levar o torcedor. O resultado disso, é que tem dado pouca gente no estádio. O cara que tem juízo não vai para o estádio para sair 11 horas da noite sem ter transporte, até chegar na Nova República é uma jornada muito longa e de muito risco. Por isso fica um questionamento no ar”, analisa Botelho.

“E em um último momento, para marcar na história de Santarém e da TV Impacto, será justamente com a pergunta: Afinal de contas, o brasileiro que antigamente era cantado em verso e prosa e respeitado pelo futebol que jogava, pela sua artimanha e seu improviso com a bola no pé. Hoje, perdemos esse elã, perdemos tudo que tínhamos. Hoje somos meros imitadores do futebol europeu que marca muito, corre muito, mas que não tem nenhuma criatividade, nenhum lance que a gente possa dizer ‘Oh! que beleza!’. O artista da bola acabou? Porque passamos a ser um Zé Ninguém. O Brasil disputou dois títulos mundiais e perdeu; o Grêmio perdeu, o Flamengo também perdeu. Mas eu quero me ater, além dessa vergonha de não ganhar nenhuma final há muito tempo, o Flamengo tem mais de 19 anos que não ganha e o Grêmio também não é pouco tempo; a grande vergonha foi o que foi feito pelo torcedor do Flamengo e aí fica aquele sorriso de desdém que a equipe lá de Madri fez diante do Grêmio, quando tinha uma marcação, abrem aquele sorriso como quem diz: ‘E aí, seu juiz?’. Aquela galhofa que a gente vê, porque ficamos abaixo do nível técnico que tínhamos há 30 ou 40 anos. Perdemos o respeito e aí se diz: Mas na Europa, o comportamento do cidadão não precisa de fosso em estádios. Aqui no Brasil, em alguns estádios ainda tem, inclusive o Colosso do Tapajós tem fosso, é um buraco de concreto, se alguém cair ali é arriscado até de morrer. Tirar os alambrados que é aquele feito com proteção e hoje o torcedor pode olhar sem ter nenhuma anteparo na sua frente. Na Europa o cidadão vai para o estádio de paletó, com sua melhor roupa, lá o comportamento é diferente. Mas eu falo do comportamento agressivo que este que nos acompanha; este é deprimente. A Fifa e a Conmebol têm razão de punir, de nos tratar de uma maneira diferente. Se for lembrar do Corinthians, lembram lá na Bolívia, onde nós assistimos a uma criança ser morta, por irresponsabilidade de um torcedor da famosa ‘Gaviões da Fiel’. Isso não é torcedor, isso é ser criminoso, isso é ser bandido. Isso é lamentável. Deus estava com as mãos em cima do Maracanã, porque não morreu ninguém ali, foi um ato divino, porque em meio àquela bagunça era para morrer muita gente. Infelizmente é uma vergonha, na Europa em seus jornais e na televisão foi o assunto do final de semana, a baderna, anarquia do torcedor brasileiro. Isso nos atinge enquanto imprensa, enquanto povo, sim, é claro que atinge, a desorganização total, arrebentar portas, portões e invadir como se fossem todos loucos. Infelizmente nós temos que conviver com essas coisas, é lamentável. Tomara que um dia você possa pegar o seu filho, sua filha e esposa e levar para o estádio para uma diversão. Eu sempre tenho dito ‘a diversão do pobre é o esporte, é o futebol’, porque é lá que o pobre se encontra e extravasa sua alegria e sua tristeza. Não desta forma, pois é vergonhosa e nos humilha. Precisamos tomar uma providência”, finalizou Luís Carlos Botelho.

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

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