Manuel Dutra: “Fake news – é dificil, mas é preciso combater”

Jornalista e professor doutor diz que o bom jornalismo deve prevalecer

Ele é daquele tipo de pessoa capaz fazer uma revolução na luta por um ideal; responsável por encher o coração de seus conterrâneos de orgulho. Uma personalidade com capacidades ímpares, e habilidades reconhecidas, tanto na teoria, como na prática do jornalismo.

Manuel José Sena Dutra, santareno e cidadão da Amazônia, professor doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA) foi eleito no fim de 2017, como Professor Imprensa, um prêmio nacional de valorização pela dedicação na docência na área de comunicação.

“Eu achei interessante porque eu nem sabia que existia esse prêmio, ganhei outros prêmios e nos últimos anos eu me dediquei mais à docência, raramente eu faço uma reportagem por questões de tempo. Quando os jovens alunos me perguntam: – professor o que eu faço para ganhar um prêmio na área do jornalismo? respondo: – nada! apenas faça boas reportagens, preocupe-se unicamente em fazer boas reportagens fundamentadas, bem pesquisadas e que sejam úteis para o seu leitor ou espectador. Outras pessoas haverão de dizer se a reportagem merece ou não ser destacada. Porque se você prepara uma pauta e sai em busca de prêmio, dificilmente você vai ganhar, porque você está preocupado com outra coisa e não com o jornalismo em si. Eu tive a sorte de ganhar diversos prêmios, três vezes o prêmio Esso da região norte. Este de agora, foi depois que começamos na UFPA em Belém, o jornal laboratório, impresso e em seguida a gente disponibilizava no meio digital. Os alunos gostam; as pessoas realmente gostam de ler. A gente procura colocar a comunidade ali dentro e sem que eu estivesse sabendo eu estava concorrendo, foram os próprios alunos que me inscreveram nesse último prêmio”, disse Dutra.

Uma grande preocupação quando se fala em comunicação e jornalismo na atualidade, são as chamadas fake news. Conforme o professor Manuel Dutra, deve-se combater a prática, sobre tudo com o bom jornalismo.

“As chamadas fake news ou notícias falsas, a mentirinha ou mentirona, sempre fizeram parte da sociedade humana, como jornalismo. Atualmente com as tecnologias que estão aí, ainda nem nos acostumamos, mesmo porque elas estão todos os dias se modificando, essa prática se multiplicou também. O jornalismo desde que ele existe sempre teve um componente político. A imparcialidade do jornalista é uma necessidade, mas ninguém pode dizer que qualquer um de nós ou qualquer repórter vai escrever uma notícia absolutamente imparcial. Cada um de nós tem um modo de ver o mundo. Temos uma criação, uma cultura, nascemos em uma família, fomos à escola, tivemos um professor ou uma professora, vivemos dentro de uma comunidade como crianças e depois o resto da vida e tudo isso influi no modo como vemos o mundo. Vemos o mundo de modo diferente, o que não é aceito é eu ver o mundo, ver os fatos em que vamos anunciar ou cobrir e distorcer propositalmente, esse é o fake news, essa é a mentira. Aumentou muito o volume onde as notícias duvidosas e até falsas é tamanha, eu acredito que a sociedade presente tem de repensar essa situação. Para responder a essência do que você perguntou, é difícil combater essa prática, mas é preciso combater”, explicou, acrescentando o que para ele diferencia o bom jornalismo no século XXI:

“Tem um teórico brasileiro, Muniz Sodré, que possui um pensamento muito interessante que diz o seguinte, ‘O jornalismo será sempre jornalismo, não importa a tecnologia pela qual ele é oferecido à sociedade’. Pode ser através do papel, nas ondas sonoras, imagens, na multiplicidade que a internet pode oferecer, na imagem, som ou tudo dentro de uma tela só, a essência do jornalismo será sempre a mesma. A busca da informação necessária, útil e agradável de ler em que eu ofereço em qualquer dos suportes. Porque ele supre uma necessidade das pessoas se informarem sobre o mundo em que vivem. Nós jornalistas, somos uma espécie de mediadores, vamos ver as coisas para mostrar as pessoas que estão no trabalho, em suas casas e que não podem estar olhando. No entanto, precisam da informação para viver. Eu não posso entrar em uma floresta sem conhecer, senão vou me perder, preciso que alguém me diga como entrar e sair da floresta, e a nossa sociedade, fazendo uma analogia é uma espécie de floresta que você tem de ter cuidado onde vai pisar e o jornalista pode oferecer um bom trabalho à sociedade nesse sentido”.

O BRASIL E A POLÍTICA: Dutra que mora em Belém, veio à Perola do Tapajós, sua terra natal, rever os familiares e amigos. Também participou como palestrante de um evento que aconteceu no auditório da OAB/Santarém, onde apresentou uma análise da conjuntura do momento enfrentado pela sociedade brasileira, o qual nos honrou com a seguinte colocação:

“A concentração da riqueza está como nunca, em que meia dúzia de indivíduos possui tantos recursos quanto milhões de pessoas. No Brasil, seis indivíduos possuem dinheiro tanto quanto 105 milhões de brasileiros. Ao meu ver, esse é o grande problema deste momento que nós vivemos nessa entrada ao século XXI, essa desigualdade. Isso sugere a partir de determinados grupos, todo tipo de oferta de solução, acredito que muitas vezes por ambição. Eu nunca entendi porque as pessoas querem ser tão ricas, vão viver a vida inteira, gastar um saco de dinheiro por dia e esse dinheiro nunca vai acabar. Achei interessante o que o Papa Francisco disse: – ‘Eu nunca vi um enterro e um carro de mudança atrás’. Então trata-se de luta pelo poder. Neste momento há uma luta de reação, o poder que eu classificaria como popular, por exemplo, a origem do Lula que governou por 8 anos, logo após veio o tempo da Dilma com uma proposta, que todos podem fazer diversas críticas, mas tinha propostas que nunca foram feitas. Incorporar grande parte da população ao chamado mercado, o que eu acho que é uma coisa boa para os capitalistas. Trabalhador sem salário não dá lucro ao dono da loja, então eu vejo nesse momento a precarização da mão de obra, porque conta com o trabalhador com seus contratos precarizados. Supostamente o patrão terá mais lucro? Eu acho que não! Porque é um trabalhador a ganhar menos ou é uma trabalhadora sem emprego, então o dono da loja vai terminar vendendo menos”, expôs o jornalista.

EXTINÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO: “Determinados grupos que vão além da precarização, querem o fim de leis que regem a relação entre trabalhador e empregador ou empresário e trabalhador. Como se isso fosse possível. Dentro dessa proposta existe uma malícia muito profunda. O empresário obviamente é o lado mais forte e o trabalhador é o lado mais fraco, até porque isso já está nesta nova lei do trabalho em que o acordo vale mais do que a lei. Como é que o trabalhador com pouca instrução que vende a força dos seus braços, sua força corporal, no porto, na madeireira, na agricultura, como é que ele vai dialogar com o empresário, uma homem rico que teve possibilidade de estudar, sendo que o trabalhador já está precarizado, está fraco, na iminência de a qualquer momento perder o emprego. Com isso eu quero dizer que o poder do trabalhador diante do empresário é quase nulo ou nulo, como é que com tanta diferença entre duas partes vai haver um acordo, se o trabalhador está vivendo extrema necessidade, ele vai aceitar qualquer oferta, inclusive abaixo do salário mínimo que é inconstitucional. A grande imprensa tem falado com muita frequência que este governo está transformando o Planalto num balcão de negócios para ter e conseguiu as reformas. Então, veja, a que pontos chegamos, eu acho que é um ponto de vista político de uma extrema pobreza, esse episódio da filha do Roberto Jeferson. Sim a lei permite, mas não é moral e nem legal, é como botar a raposa no galinheiro, a raposa já comeu um monte de galinha e agora vou botar a raposa lá dentro, ela já tem problema na Justiça do Trabalho e ser Ministra do Trabalho, não precisa ter em uma grande análise para se perceber que existe uma mutreta por aí, o Temer tem receio que Roberto Jeferson se aborreça e mande sua bancada votar contra”, analisa Manoel Dutra.

JORNALISMO INVESTIGATIVO: “Nós jornalistas temos recebido muitas críticas, às empresas jornalísticas. Primeiramente todo jornalismo por sua natureza é investigativo, uma simples notícia que você faça ela tem de ter base, claro que quando falamos em investigação pensamos logo em Polícia Civil e Polícia Federal, fazendo uma grande investigação que leva meses, a investigação jornalística pode levar semanas ou meses, e fazer uma grande reportagem com todos os dados certos. Como também você pode fazer uma investigação em duas horas de trabalho para ver a coisa como é para fazer uma notícia que bata com o fato. Agora realmente nos últimos 20, 25 anos, eu me recordo que eu estava no dia a dia do jornalismo quando estas tecnologias começaram a entrar nas redações para valer, a impressão que eu tenho que é que muitos empresários ficaram encantados com as redes de computadores, equipamentos e tudo mais e foram esquecendo que os equipamentos não fazem reportagem, eles ajudam muito como ferramentas eficazes, quem faz a notícia é o homem e a mulher que trabalha, o ser humano que vai utilizar essas tecnologias para facilitar o seu trabalho, então me parece que as empresas jornalísticas foram se tornando cada vez mais empresas de mercado do que empresas jornalísticas. A gente pode falar aqui do nosso Pará, temos dois chamados grandes jornais em Belém, que vivem brigando entre si, dando muito mais valor a interesses empresariais políticos partidários do que àquilo que o leitor quer, precisa e paga, que é a notícia.  Eu quero ser informado, então nesse sentido muitas críticas têm o seu valor”, analisa o professor.

JORNALISMO SANTARENO: “Santarém como um local onde podemos encontrar bons repórteres, boas matérias, jornalistas fuçadores. Mas acho que precisa-se dar um passo adiante. O que eu percebo é que o jornalismo que se faz dentro da cidade de Santarém está precisando dar uma olhada para seu entorno, ir mais além. Santarém é um polo de atração de diversos municípios, falta um diálogo a mais, com esses municípios, essas regiões, as realidades locais, as coisas boas e ruins, trazer e criar ideia de uma região que conversa entre si e que não deixa passar em forma de notícia, de reportagem nada que seja importante para essa comunidade”, relata.

MERCADO DE TRABALHO: “Muitos entram no curso de jornalismo já sabendo que não querem ser jornalistas, eles querem, por exemplo, as assessorias. Assessoria não é jornalismo, ela é uma forma de jornalismo. O jornalismo verdadeiro é aquele que se pensa no grande público, o assessor está pensando no seu assessorado que é um trabalho digno, mas não confundir com jornalismo que a gente vai com a pauta aberta. O jovem entusiasmado gosta da televisão e aparecer na coisa toda e muitos vão para os cursos pensando nisso, eu quero servir minha comunidade, mas também quero dar uma aparecida, quero ser notado, quero dar meu recado, a não ser que queira só aparecer e nada mais, o que não é o caso, então tem um determinado momento no nosso curso, que são 8 semestres e quando se aproxima o 6º semestre a gente começa a entusiasmar os alunos, quem quer televisão, quem quer rádio, quem quer mídias digitais, jornal impresso, quem tem vontade de fazer revista, por que vocês não começam a se juntar, dois, três quatro colegas e planejar uma pequena empresa. Se você não tem vontade de ir para dentro de uma empresa grande, por questões salariais ou porque você não quer, invente o que fazer, já que você quer comunicação”, disse Dutra. (Assista na TV Impacto – www.oimpacto.com.br – a entrevista completa de Manuel Dutra).

Por: Edmundo Baía Júnior

Fonte: RG 15/O Impacto

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