Moradores revoltados denunciam cemitério de obras inacabadas

Trecho da Avenida Anísio Chaves virou mar de lama e abrigo para mosquito da dengue

As inúmeras obras paralisadas no município de Santarém têm sido motivo de descontentamento da população. “Sabemos que obras causam transtornos diversos. Porém, da forma que está, se arrastando há anos, é lamentável. Quem sofre é a população, além do desperdício de dinheiro público, que sai do nosso bolso”, diz o aposentado João de Assis, morador da Avenida Anísio Chaves.

Junto com o aposentado, outros moradores fazem coro, ao demonstrar indignação com esse descaso. O motivo, segundo eles, é que não existe um retorno do poder público municipal sobre a conclusão da obra de infraestrutura urbana iniciada na avenida Anísio Chaves.

“Este trecho, entre a Avenida Jasmim e Quixadá foi esquecido. Da esperança de termos asfalto e calçamento, convivemos hoje, com lama, poeira; sem falar do perigo dos criadouros de mosquito da dengue, em materiais e entulhos deixados pela empresa que estava construindo, como podemos perceber nas manilhas expostas no canteiro central”, afirma a dona de casa Ivete Sousa.

No mês de abril do ano passado, nossa reportagem conversou com o secretário Daniel Simões sobre a referida obra. Na ocasião, o Secretário informou que as pendências em relação ao contrato já haviam sido sanadas, e como resultado a obra seria retomada. Passado quase um ano da promessa de Simões, os moradores ainda anseiam pela conclusão dos serviços.

Na época, Daniel Simões comentou as perspectivas sobre a retomada da obra: “Essa obra de pavimentação da Avenida Anísio Chaves, faz parte de um contrato chamado Pró-transporte, que se trata de um financiamento entre a Prefeitura e a Caixa Econômica Federal, no valor de vinte e dois milhões de reais, onde esse contrato foi executado em apenas 39%. Então, temos um saldo de 61% para ser executado. Essa obra foi paralisada devido à Certidão Negativa de Débito (CND) da Prefeitura que até o momento continua em aberto. A Prefeitura ficou em débito com a empresa porque a CND não estava liberada, e por conta disso a empresa paralisou a obra, mas temos uma boa notícia. Quando o prefeito Nélio assumiu, ele retomou imediatamente essa negociação com a Receita Federal para poder liberar essa certidão, a empresa está sendo paga, para assim, retornar ao contrato. Nossa maior expectativa é que dentro dessa semana, aconteça a liberação dessa CND, para que o Município possa honrar com seu compromisso e pagar a empresa, que está com seus boletins de medição em aberto, e ao serem pago esses boletins, a empresa informou ao Município que em cerca de vinte dias, ela poderá mobilizar seus equipamentos, seus funcionários e comprar o material, para a retomada da obra, e não só apenas na Avenida Anísio Chaves, também beneficiará a Rua Brasília que se encontra em um estado bem deteriorado, choveu recentemente e foi feito um serviço de drenagem, mas como a obra parou, não foi finalizada e não foi passado o asfalto em cima da terraplenagem e com as enxurradas a chuva acabou levando parte da terraplenagem que já foi executada. Esse trecho da Avenida Anísio Chaves e a Rua Brasília, que na verdade são os dois pontos mais críticos dentro desse contrato, nós o vemos como prioridade em sua retomada”, destacou Daniel Simões.

O Secretário disse ainda, que a população deveria se tranquilizar. “Queria primeiramente tranquilizar a população, e dizer que a obra será retomada. É de interesse do Governo Nélio retomar todos os contratos que foram paralisados, o mais breve possível. Infelizmente, não é como um passe de mágica, ou da noite para o dia que serão retomadas as obras, existe toda uma série de documentação, análise de projeto e planilha de obras para serem retomadas, mas em especial essa obra do Pró-transporte é prioridade total do Governo e como consequência traz alívio para população daquele local, e também leva o asfalto a todas as ruas que ainda não foram pavimentadas, que é na verdade o sonho de toda população”, concluiu Daniel Simões.

A PROMESSA DE ALEXANDRE VON: Referenciada como uma das promessas de campanha do ex-prefeito Alexandre Von, o badalado “Projeto da Pista do Lazer”, segundo alguns comunitários, beneficiou apenas a elite, menosprezando os moradores que mais necessitam de infraestrutura urbana de qualidade, e sofrem com os constantes alagamentos. No referido trecho, a única quadra pública disponível nas adjacências para prática de esporte e lazer dos jovens, foi completamente destruída, visando o novo projeto em execução, uma vez que ficava localizada no canteiro central. Os moradores ressaltam que o abandono da construção é desde o governo do ex-prefeito Alexandre Von.

“É sempre a mesma coisa, fico muito indignado por prometerem, prometerem e nunca cumprirem, ou seja, só enganam o povo. Se prometer algo honre sua promessa até o fim”, assim o trabalhador autônomo José Orlando, demonstrou toda sua indignação em relação à obra abandonada.

De acordo com ele, o trecho da avenida Anísio Chaves, entre a Avenida Jasmim e Quixadá, chegou a receber terraplanagem, porém, diferentemente do que aconteceu no trecho entre a Avenida Afonso Pena até a Avenida Jasmim, onde a pavimentação asfáltica foi concluída; depois que o ex-Prefeito perdeu as eleições, as obras não prosseguiram.

“E chegou no final do governo dele e percebemos que ele beneficiou apenas até a igreja, e nós ficamos esquecidos e penalizados. Estamos prejudicados porque ninguém consegue trafegar tranquilamente de carro ou moto por aqui, principalmente à noite e quando chove. Sem falar na poeira que é jogada para dentro das casas quando os veículos passam em alta velocidade”, diz José Orlando, acrescentando: “Quero pedir às autoridades que possam dar continuidade a essa obra, até porque, quando estávamos no governo do ex-prefeito Alexandre Von, eu perguntei pessoalmente para ele: – Prefeito, você vai beneficiar o povo? Então, perguntei novamente a ele: – Você vai beneficiar uma igreja que é construída às margens da pista? Ele respondeu que não, e que iria continuar até o final da rua, porque ele estava com o povo. Mas não foi isso que aconteceu”, afirma o trabalhador autônomo.

Conforme relatam as famílias que residem às margens da via, o abandono da obra é motivo de aflição, já que as chuvas têm ocasionado, além, de muita enxurrada, também deixou grandes problemas, como verdadeiros lagos que se formam no meio da pista, que consequentemente se tornam verdadeiros criadouros de mosquitos da dengue.

Quem não se lembra na campanha de 2012, quando o então candidato a prefeito Alexandre Von prometeu a construção daquela que seria a ‘Pista do Lazer’. Encerrado seu governo, o projeto orçado em mais de 22 milhões de reais, segundo última medição da Caixa Econômica Federal não passou de 40% da execução, e teve o canteiro de obras abandonado. Ainda segundo a proposta de Von, diversos equipamentos públicos, tais como parquinhos de brinquedos, academias e quadras esportivas iriam ser construídos ao longo da via.

O QUE MAIS SE VÊ É OBRA ABANDONADA: No bairro do Aeroporto Velho, as promessas de pavimentação de vias públicas são representadas pelo retrato do desperdício de dinheiro público. Os serviços foram iniciados com terraplanagem e construção de meio-fio, porém, de forma súbita, e sem qualquer explicação a empresa executora largou o serviço.

Um exemplo é a travessa Natal, no trecho entre Avenida Muiraquitã e Marajoara, onde os serviços de base para receber a pavimentação asfáltica foram completamente levados pela enxurrada. Outra obra que iniciou, parou e está prejudicando a população, trata-se do asfaltamento das vias que circundam a feira livre da Associação dos Produtores Rurais de Santarém (Aprusan), localizada na Rua Magnólia, entre Alameda Trinta e Travessa Dália. 

“No domingo de chuva, é um Deus nos acuda para chegar aqui na feira. Os clientes ficam ilhados, pois o lamaçal é grande. Como o movimento é grande, o perigo é constante. Teve um dia que uma cliente quase foi atropelada, depois que escorregou na lama e foi parar no meio da rua”, diz o vendedor ambulante Antônio José Silva.

Para João Santos, cliente assíduo da feira livre do Aeroporto Velho, a situação é complicada, uma vez que a obra que seria para beneficiar o povo, agora traz aborrecimento.

“Se iniciou, tem que terminar. Não podemos aceitar tanto desmando com o dinheiro público. Quem vai pagar por esses atrasos? Por isso que o orçamento inicial de uma obra pública, nunca será o suficiente. É muito triste ver nosso suado dinheiro indo pelo ralo da incompetência”, desabafa.

O fato é que em 2017, os moradores do bairro Aeroporto Velho ficaram felizes pelo anúncio do asfaltamento de vias públicas. No caso das ruas adjacentes à feira livre, os trabalhos iniciaram com o assentamento do meio-fio, para posteriormente trabalhar nas calçadas e imprimação. Sem ter para onde escoar, águas pluviais, acabam se acumulando ao longo da via.

O projeto que contemplou as ruas citadas acima, está orçado em quase 2 milhões de reais. Os serviços de pavimentação asfáltica incluem os seguintes trechos: Travessa Natal, entre Muiraquitã e Travessa Tupaiulândia; Rua Magnólia, entre Sérgio Henn e Alameda 31; Travessa Dália, entre a Rua Rosa Vermelha e Rua 29; Rua 29, entre Alameda 30 e 31; Alameda 31, entre a Rua Magnólia e Rua Frei Vicente, no valor total de R$ 1.991.250,71.

No dia 7 de agosto do ano passado, o prefeito Nélio Aguiar, o deputado federal Chapadinha e o secretário de Infraestrutura Daniel Simões, assinaram a ordem de serviço para a execução de serviços de pavimentação asfáltica em 5 vias do bairro do Aeroporto Velho.

VISTORIAS SEM VISTORIAR: Quando se aproxima o ano eleitoral, é muito comum chover projetos, e principalmente a utilização de tal para se promover. Na contramão do que prega a legislação, sob a ótica do princípio da impessoalidade sobre a Administração Pública – que afirma que agentes públicos não podem fazer promoção pessoal sobre as suas realizações administrativa -,   as autoridades se preocupam mais em aparecer em fotos passando pela obra, que realmente fiscalizar e dar encaminhamentos para possíveis irregularidades, e até mesmo buscar resolver os problemas que ocasionam as referidas paralisações.

Como exemplo, citamos que outubro do ano passado, deputados e vereadores divulgaram nos quatro cantos do Município, a vistoria nas obras de asfaltamento nas ruas próximas à feira livre. No entanto, pouco têm se preocupado com a atual situação dos serviços.

A ESTRADA FANTASMA: Outra obra que revolta a população, em especial os moradores da vila de Alter do Chão e Pindobal, é a obra abandonada do asfaltamento de um trecho da estrada vicinal que liga os dois balneários. A ordem de serviço foi assinada em setembro do ano passado. Alguns serviços foram realizados, porém, assim como aconteceu na cidade, os serviços foram paralisados.

Segundo a Seminfra, a obra contempla pavimentação com drenagem pluvial, e terá a extensão de 961 metros, no valor de R$1.139.322,82. A segunda etapa terá a extensão de 590m, no valor de R$701.994,94.

Tanto a pavimentação de ruas no bairro do Aeroporto Velho, quanto a pavimentação de trechos da estrada que liga Alter do Chão a Pindobal, têm algo em comum. Infelizmente não é apenas o estado de abandono das obras, mas também possuem a mesma empresa executora. Trata-se da Planel – Construtora Lorenzoni Ltda.

Ao poder público, a população pede mais respeito. É preciso aproximação, e retorno sobre as obras. No caso de Alter do Chão, os moradores já estão apelidando a obra de “estrada fantasma”.

“Falta vontade política para fazer as coisas acontecerem. Ainda me lembro que anunciaram com todas pompas, que já tinham disponibilizados uma emenda parlamentar para asfaltar esta vicinal. Porém, até hoje quase nada foi realizado. E nós que precisamos utilizar está via somos obrigados a conviver com a poeira e a insegurança”, assim desabafou à nossa equipe de reportagem, o trabalhador autônomo João Tadeu, sobre a situação da vicinal que liga a Vila de Alter do Chão a praia do Pindobal. A via é importante acesso para o desenvolvimento do turismo regional.

Para os moradores e turistas, resta aguardar a boa vontade e a disposição das autoridades.

Por: Edmundo Baía Júnior

Fonte: RG 15/O Impacto

 

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