Ivan Sadeck: “Jatene transformou o Pará em um Estado capenga e falido”
Professor e ex-Vereador critica descaso do Governador com Santarém e região
A região Oeste do Pará é uma parte do Pará, muito rica em vários sentidos, mas ao mesmo tempo muito oprimida e de certa forma esquecida pelo governo do Estado. A prova disso são diversas obras paradas, principalmente no município de Santarém e os diversos prédios públicos que estão em ruinas esperando por uma reforma digna. Passamos por um momento muito difícil, vivendo uma realidade em que apenas a capital e suas cidades vizinhas recebem 100% da atenção do governo Jatene. Para falar sobre essa situação lamentável, conversamos com o professor e ex-vereador Ivan Sadeck, uma das figuras mais influentes da nossa região, que esteve em nossa redação e nos concedeu entrevista exclusiva.
Jornal O Impacto: Professor, não é novidade que em Santarém, quando são executadas obras, dificilmente elas terminam. Parece que em todos os setores que envolvem o Governo do Estado, existe um certo atraso. Para contextualizar essa situação, queremos saber qual o papel do Estado?
Ivan Sadek: De fato, para que e para quem o Estado? O mesmo não passa de uma enorme organização onde estão constituídos os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, cuja finalidade desses poderes é garantir ao cidadão as condições de vida, que são educação, segurança, transporte, infraestrutura, saúde, etc, que possam proporcionar bem-estar. Esse estado tem o papel de promover o desenvolvimento sócio-econômico, político e cultural. O que nós vemos de modo particular no estado do Pará, não quero dizer que seja exclusividade desse Estado, é que nas últimas décadas há aproximadamente 40 ou 50 anos, esse Estado se tornou uma propriedade particular, de famílias. Podemos notar o revezamento de famílias no poder e também de grupos econômicos que têm uma sustentação e um apoio para manter este ou aquele poder do Estado. Por conta disso, os interesses sociais, coletivos e comunitários, eu diria até regionais, são deixados de lado por conta dos interesses desse grupos. O estado do Pará, pela sua dimensão geográfica e sua grandeza territorial, tem para mais de 143 municípios, é muito mal assistido e acompanhado por quem está à frente governando. Algumas regiões são privilegiadas, recebem mais recursos, projetos, se desenvolvem conforme os interesses de quem está no poder, em compensação, outras regiões são prejudicadas, outras deixam de merecer justamente aquilo que é o dever e competência do Estado fazer, mais especificamente a nossa região do Oeste do Pará. Evidentemente existe uma grande diferença de atenções, por conta de interesses pessoais. Veja quantos anos está no poder o Governador atual; ele começou como Secretário de Planejamento do primeiro governo do Jader Barbalho, já está no terceiro mandato como governador do Estado. Então, a gente percebe na questão de apresentar os números e os megaprojetos, ele é fantástico, o discurso dele é muito bonito, promessas, ele domina bem a questão matemática; os cálculos, a questão financeira do Estado, tudo bem. Eu não entro nesse mérito porque ele pode ser um exímio conhecedor, mas na prática é onde ele demonstra a sua fragilidade, sua fraqueza. Podemos notar a quantidade de obras em nosso Município que nesses últimos anos foram iniciadas e não foram concluídas. São várias obras e o tempo todo aquele discurso: “vamos concluir, vamos concluir”. Os recursos existem, são liberados e de repente desaparecem; não tem mais e, então, a obra para. Por exemplo, a obra do Estádio Colosso do Tapajós, que aliás as seleções da Copa do Mundo de 2014, que viriam jogar em Manaus e aqui seria uma base, está aí por terminar o nosso querido Colosso do Tapajós; existem outras obras paradas como o Ginásio Poliesportivo no antigo campo do América, Hospital Materno Infantil de Santarém; as obras nas escolas que começam e nunca terminam, levam-se anos e quando concluídas, vêm os problemas. Quantas vezes já ocorreram problemas na Escola Frei Ambrósio, caiu um muro, caiu o forro, e o mais recente que aconteceu na Escola Álvaro Adolfo, onde caiu uma boa parte do seu muro.
Jornal O Impacto: O senhor como professor que já lecionou no Álvaro Adolfo, qual sentimento que vem ao ver tamanho descaso?
Ivan Sadek: O problema todo é a falta de compromisso e responsabilidade, e acima de tudo seriedade de quem governa. Nossos governantes são muito mal intencionados, eles vão para o poder pensando apenas nos seus interesses familiares, de grupos econômicos, seus negócios. O povo só é visto no período de campanha política, o povo é algo à parte. É triste vermos no período eleitoral o quanto eles prometem. A música do rei Roberto Carlos caberia muito bem nessa situação: “Eu te darei o céu meu bem e o meu amor também”. Depois que se elegem o canto é diferente: “E que tudo mais vá para o inferno”. Porque desprezam e esquecem de tudo aquilo que prometeram. Isso é uma vergonha! É com a saúde, com a educação, com a segurança pública, que estamos vivendo um momento dificílimo; o estado do Pará nas estatísticas é o segundo Estado da Federação onde mais morrem policiais militares. Que segurança é essa? Além disso, tem a falta de investimentos nos recursos de infraestrutura. Há quantos anos estamos ouvindo aquela ladainha da falta de água em Santarém? E esse mesmo Jatene, em um grande encontro na Associação Comercial de Santarém, se não me falha a memória em 2004 ou 2005, chegou a dizer que ele não prometia e nem iria enganar ninguém, que o problema de água em Santarém não tem uma solução. Então, veja quanto tempo! Não tem solução porque eles querem continuar tratando Santarém como uma cidade que tivesse 10 a 15 mil habitantes, fazendo captação de água através de poços artesianos. E você não vai conseguir abastecer uma cidade dessa maneira, uma cidade que cresce a cada dia que se passa. Por que você não faz uma captação de água através do Lago do Juá, e dá o tratamento da mesma forma como é feita em Belém, lá com o Tinga? Porque isso vai implementar muitos recursos, mas resolve em grande parte o problema do abastecimento de água, tubulações antigas, sistema obsoleto que não dá; mas isso tudo tem um custo, como isso são obras que ficam debaixo da terra e você não vê, não dá voto, não consegue elegê-los, mas resolve um problema sério. O problema de água em Santarém, eu diria é de décadas e décadas, já se vão mais de 50 anos com esse problema e cada vez mais se agrava. Você falar em desenvolvimento econômico e progresso sem pensar em cuidar do povo; promover a educação, bem-estar, saúde, sobretudo, fazer um investimento voltado de fato, para agricultura, que não seja apenas para a exportação. Hoje, Santarém não está vivendo disso. Quem come soja aqui? Para onde vai a soja que é produzida aqui? O porto da Cargill faz o que aqui em Santarém, se não é só exportar a soja? Enquanto isso, você tem as dificuldades de produtos agrícolas, produtos necessários à mesa. Outro dia eu fui ao mercado, e o vendedor disso: “olha, é seis reais a palma da banana”; eu disse: “que é isso?”; ele respondeu: “é que essa banana está vindo de Manaus”. Eu, então, tomei um susto, a banana que outrora nós exportávamos para Manaus agora estava vindo de Manaus para Santarém. Isso é a falta de uma política econômica séria e responsável, voltada para os interesses e desenvolvimento da região. Além disso, temos um problema grave, são os nossos representantes políticos; as pessoas que se apresentam como candidatos e representantes políticos, são na verdade representantes de nada, eles só pensam em interesses pessoais, particulares; chegam lá e fazem os acordos e conchavos e o povo que se dane; a grande maioria não sabe nem qual seu papel como legislador. Vão lá para tirar proveito, não fiscalizam, não denunciam, não apresentam projetos, não cobram para ver se os recursos são aplicados. Esse é o papel de quem legisla, então, nós temos um Estado falido, um Estado capenga, um Estado que não atende aos interesses do povo, da sociedade e do cidadão, principalmente aqui no Oeste do Pará.
Jornal O Impacto: Você concorda que existe uma grande concentração de interesses lá onde abrange a maior quantidade da população do nosso Pará, na região de Belém, Marabá, Castanhal e nós aqui ficamos a desejar, ou seja, “vou dar mais atenção aqui porque ao agradar o povo daqui terei mais votos garantidos”?
Ivan Sadek: Veja bem, todas as ações são votadas para interesses eleitorais. Você vai para lá para se manter no poder. Então, tudo que você faz é voltado para uma possível reeleição. Eu sou plenamente favorável, seria interessante ter uma lei, pode até parecer antidemocrática, pode parecer um tanto quanto ilegal, mas eu acho, penso eu, que você deveria estabelecer limites de eleições para os candidatos, assim como você tem direito a duas reeleições no Estado. Seria a mesma coisa para Senador e para Vereador. Tem gente que se perpetua no poder, tem gente que está há vinte, trinta anos e ainda bate no peito dizendo: “eu estou aqui há tantos anos, fazendo o quê?” Se dando bem; seus filhos, e o genro, ou seja, você transforma o Estado, que era para ser um instrumento a serviço do desenvolvimento, do bem estar e do progresso da população, em um negócio privado, um negócio familiar que atende interesses de grupos. Nossa região Oeste do Pará deveria se sensibilizar e tomar vergonha na cara e banir, não dar votos para essa turma que chega aqui de paraquedas e saber escolher desses que estão aí, que vão se candidatar de novo; alguns até foram deputados, mas estão querendo retornar, pois a mamada é grande. Então, o povo precisa ter essa sensibilidade, o povo tem de ter cabeça erguida e tomar consciência e não ser vaquinha de presépio, não ser bobo, nem tolo, não se deixar enganar por promessas. Nesse período de agora já começou, tem um certo candidato que vai disputar a eleição para o Estado e ele parece que está com um poder grande, está com a chave do cofre Federal e passa de 15 a 20 dias por aqui distribuindo dinheiro para as prefeituras; 2, 10, 15 milhões de reais; é só milhões. Então, chega um outro Deputado que tem muitas emendas e faz uns outdoors para mostrar; mas é mentira e sem-vergonhice dele; destinou tantos milhões de reais para a orla, ambulâncias e outras coisas, mas você não vê essas obras. O que é mais grave, os milhões de reais saem e não se sabe onde aplicam, então, o que nós precisamos é tomar consciência, aprendermos essa lição de que não dá mais para aguentar essa turma que está aí há muitos anos conduzindo esse Estado, quer no Senado, quer na Câmara Federal, na Assembleia Legislativa e no governo do Estado. Senão, a gente vai continuar a chorar o leite derramado.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto