Ana Júlia: “Incentivo fiscal não pode ser feito com interesse eleitoreiro”
Filiada ao PC do B, ex-Governadora revela o motivo que a fez deixar o PT
Marcando presença no Fórum Regional do PCdoB, que aconteceu me Santarém, a ex-governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal O Impacto. Entre os temas abordados, falou sobre a sua saída do PT, bem como dos planos para o futuro na nova legenda. Revelou que na sua gestão à frente do Estado, sofreu com o machismo daqueles que nunca aceitaram que uma mulher comandasse o Pará. “Aprendi com os erros”, afirma.
Jornal O Impacto: A senhora tem uma história política muito ligada à do Partido dos Trabalhadores (PT), sigla partidária que a senhora se tornou governadora. Qual o principal motivo de sua saída do PT, para se filiar ao PCdoB?
Ana Júlia: Primeiramente, eu sai do PT sim. Para exemplificar, posso dizer que ‘mudei de casa, mas continuo na mesma rua, no mesmo bairro’, defendendo aquilo que acreditamos. Tenho grandes amigos no PT, tenho uma gratidão imensa ao Partido dos Trabalhadores, pois foi no PT que passei o maior tempo da minha militância, e através do PT que eu pude de forma coletiva, realizar muitas políticas públicas, tanto sendo Deputada, como Senadora da República; fui com muita honra a primeira mulher Senadora e a primeira mulher Governadora do estado do Pará. Entendemos que nesse momento o PCdoB, também precisa estar forte, por ser um partido que tem um papel fundamental, é um partido importante na luta pela democracia, pelos direitos dos trabalhadores e também na luta pelo desenvolvimento. Então, é neste contexto, que o PCdoB também precisa mostrar para a sociedade qual o seu projeto de País e nós queremos contribuir com isso, em especial, quero contribuir com meu Estado, contribuir com desenvolvimento do Pará no sentido de ajudar, ou melhor, corrigir esses escândalos, esses absurdos que foi aprovar essas leis que retiram investimentos; uma reforma trabalhista que infelizmente está precarizando ainda mais as relações de trabalho, dificultando a vida do trabalhador, que ainda não gerou empregos, muito pelo contrário, essa reforma tirou direitos justamente daqueles mais empobrecidos. Precisamos trazer investimentos para o nosso Estado, o Pará é solução para esse País, muitas das soluções passam por aqui, como por exemplo a infraestrutura, então, nós ainda temos muito a contribuir, principalmente no que se refere ao protagonismo das mulheres na política, onde nós precisamos de mais mulheres.
Jornal O Impacto: Atualmente passamos por diversas dificuldades em nosso Estado, em especial na área de Segurança Pública, sendo que no último ano muitos policiais perderam a vida. Na sua opinião, essa situação é um descaso do governo atual?
Ana Júlia: Eu fui Governadora por quatro anos, e hoje eu não tenho dúvida nenhuma que nosso governo foi um governo exitoso, inclusive antes de eu aceitar esse desafio de estar no PCdoB, e talvez participar desse processo democrático em 2018, eu estava me dedicando a ajudar um grupo de profissionais da Universidade Federal do Pará, alguns professores do Estado que fizeram um projeto sobre um livro cuja a temática é a primeira mulher Governadora do Estado. Nesse sentido, realizamos vários levantamentos e hoje não temos dúvidas que esse livro que ainda será lançado terá o papel de repor a verdade, pois muitas informações de nosso governo foram expostas de forma manipulada. O fato de eu ser a primeira mulher Governadora de nosso Estado, trouxe à tona um machismo marcante dentro da política. No nosso governo a segurança estava melhor. Trouxemos equipamentos, fizemos muitos concursos públicos para todas as áreas, mas para a segurança fizemos dois concursos públicos, só para área de segurança foram mais de cinco mil profissionais entre Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, ou seja, não só aumentamos a política de prevenção e punição ao crime, mas também melhoramos a inteligência. No nosso tempo os assaltos a banco eram em menores quantidades, conseguimos fazer um combate que diminuiu os assaltos a bancos. Paralelo a isso, implementamos também políticas sociais, porque se você não faz políticas sociais, você não dá oportunidades. Então, fizemos o Bolsa Trabalho, o Programa Escola de Portas Abertas que funcionou em Santarém em várias escolas do Estado, o Programa Navega Pará com seus laboratórios de informática, os chamados Infocentros. Inauguramos várias unidades em Santarém, aliás, Santarém foi a primeira experiência de Cidade Digital do Pará. Não conseguimos abranger 100% da cidade, mas pelo menos metade da cidade chegou a ser cidade digital, com o sinal livre de internet, tudo com apoio da Prefeitura. Hoje a situação que o povo vê é outra, não tem mais Bolsa Trabalho, não tem mais oportunidades, estão congelando investimentos na educação. Quando você corta investimento na educação, você está abrindo presídio, infelizmente. Então, a violência piorou significativamente e tem sim uma parcela de responsabilidade imensa do Estado. Precisamos dar um novo rumo para esse Estado, estamos em um Estado tão rico, mas essa riqueza não está servindo para o nosso povo, então, nós precisamos de mudanças ao nível de Estado, como precisamos de mudanças ao nível de País.
Jornal O Impacto: Os santarenos convivem com um cemitério de obras do governo estadual que estão paralisadas. A impressão que temos é que a prioridade está de fato centralizada na região de Belém. Como a senhora avalia essa postura do governo do Estado?
Ana Júlia: É lamentável, eu lembro que quando a gente assumiu o governo tinham vários prédios de hospitais, tinha o prédio do hospital aqui de Santarém que precisava concluir, precisava de alguns equipamentos, e nós colocamos para funcionar, mas não parou por aí. Trouxemos mais serviços que não tinha inicialmente, como hemodiálise, unidade materno infantil. Trouxemos aqui para o Hospital Regional de Santarém, o primeiro tratamento de oncologia (tratamento contra o câncer) público fora de Belém, ou melhor, fora do Hospital Ophir Loiola, que é uma referência no tratamento de câncer, ou seja, não tivemos problemas em dar continuidade a obras, por um simples motivo, porque aquele recurso é público, é do povo, então, temos que dar continuidade, não se pode parar a obra, dizendo: “ah!, eu vou deixar a obra parada um tempo para ver se o povo esquece que isso aqui começou em outro governo”, não interessa. O que interessa é que a população precisa ser beneficiada. Então, nós temos visto um descaso. Em Belém inauguraram um espaço bonito lá no Tinga, é mais um espaço para a classe média-alta ir passear, mas no entorno tem toda uma população que não tem sequer saneamento. Não sou contra fazer obras bonitas, eu fiz também obras bonitas. Aliás a escola mais linda que eu inaugurei jamais vou esquecer, foi dentro de do assentamento 17 de Abril, em Eldorado dos Carajás. Escola mais linda, com 12 salas, todas climatizadas, com quadra de esporte que era um verdadeiro ginásio, contendo laboratórios de internet, ciências, com área de refeição, ou seja, uma escola linda, voltada para os filhos dos trabalhadores, porque eles têm direito. Não podemos fazer apenas obras lindas e deixar a população em torno dessas obras sofrendo. Vim agora há pouco do aeroporto e observei que ainda está bom o asfalto da rodovia que liga ao aeroporto, pois fomos nós que fizemos, como também a Curuá-Una, como também fizemos a recuperação da estrada que vai para Alter do Chão que na época estava deteriorada por conta das chuvas. Então, fizemos tantas coisas, nós procuramos chegar na região, e não foi só em Santarém, eu cito Santarém, mas se formos analisar não tem uma região deste Estado que tenha deixado de receber recursos do nosso governo. Nós tivemos uma postura republicana, tratamos a todas com respeito, porque veja bem, eu não posso discriminar a população de uma cidade só porque ela elegeu quem não é do meu partido ou da minha base, considero isso uma falta de respeito. Quando você é gestor público, você tem de ser um gestor de todo o povo e tem de atender às necessidades, especialmente dos que mais precisam e, não atender àqueles locais que mais têm e deixar as regiões que estão carentes ficar cada vez mais carentes. Eu considero um abuso e eu acho que o atual governo tem a responsabilidade, porque ele só teve um hiato de quatro anos, mas ele já está presente há 20 anos.
Jornal O Impacto: Como a senhora analisa a política fiscal no âmbito do governo Jatene, em especial sobre as polêmicas renúncias fiscais?
Ana Júlia: Eu acho que a política fiscal e financeira tem um papel importante para o desenvolvimento, mas quando ela é feita de forma transparente. Eu fiz um projeto de lei, discuti com os empresários da Federação das Indústrias, com os empresários de modo geral, aliás, nós tínhamos um fórum que se chamava Fórum de Competitividade, a cada três meses reunia Governadora e vários secretários, de Meio Ambiente, Educação, Banco Banpará, nós convidamos o BNDES, que era presente, o Banco da Amazônia também estava presente e nós reunimos com a representação dos empresários. Tinha gente aqui de Santarém, que representava essa região e representantes dos trabalhadores. Nós trocávamos ideias, discutíamos aquilo que era importante para cada cadeia produtiva da economia, quais políticas públicas poderiam ser implementadas. Eu enviei um Projeto de Lei que criava os incentivos fiscais de forma transparente, mas quando você dá incentivo, você também tem que ter retorno. O retorno deve ser em forma de geração de emprego, de distribuição de renda e não pode ser um incentivo que no final deixa o Estado precário, senão, como o Estado vai fazer investimento? Como falei agora há pouco, o Governo Federal congelou porque disse que não tinha recurso, congelou investimentos em áreas cruciais, como saúde, educação, segurança pública e assistência social, e ao mesmo tempo abriu mão de recursos. Isso não é uma política fiscal para trazer desenvolvimento, de forma alguma. Temos que ter políticas fiscais que tragam desenvolvimento, elas só poderão ser feitas se forem elaboradas de forma transparente. Por isso nós fizemos um esforço e aprovamos, a lei existe e está lá, basta ser utilizada. Pode sim ser feito um incentivo fiscal e deve, mas de acordo com os interesses da sociedade e do povo do Pará, inclusive tentando atingir esses incentivos em todas as regiões, porque hoje nós vemos uma situação do Estado, por exemplo, o atendimento aos servidores do IASEP, houve um retrocesso no IASEP, enquanto no nosso governo a gente elevou o IASEP, ampliou os serviço, aprovando serviços dentários; hoje não existe mais isso, o IASEP que estava sendo ampliado para as regiões também retrocedeu. Nós temos visto hoje um atendimento à saúde do servidor de forma muito precária, então, essa política de incentivo fiscal não pode ser feita com interesse eleitoreiro e sim pelo interesse da sociedade e no caso de todo Estado e suas regiões.
Jornal O Impacto: Qual o principal motivo de sua visita a nossa cidade?
Ana Júlia: Viemos participar do Fórum Regional do PCdoB, partido ao qual estou filiada. Tivemos a presença de lideranças de quase 10 municípios presentes e eu não poderia deixar de estar presente para conversar nesta oportunidade. Trata-se de um fórum organizativo do PCdoB, que com debate público, onde comemoramos os 96 anos do Partido Comunista do Brasil, PCdoB. Como agora faço parte dessa família, vim participar desse momento, não apenas para organização do partido, mas também para o momento de festejo do partido, pois o PCdoB é um dos partidos mais antigos do Brasil, é um partido cuja a história se confunde com a história da luta pela democracia em nosso País, inclusive nós estamos vivendo um momento muito difícil para democracia, que recebeu um forte golpe, aliás golpe esse que se traduz através da retirada de direitos dos trabalhadores. O PCdoB pertencente a essa região vai conversar também, como iremos atuar neste ano que eu digo que pode ser o ano da esperança para o povo brasileiro e o povo paraense, para que a gente possa alterar o rumo que este País está tomando. Não foi esse o rumo que o povo elegeu, tenho certeza que nosso povo quer ver esse País voltar ao rumo do desenvolvimento, ao rumo dos investimentos na educação, na saúde e nós viemos organizar e conversar com a sociedade desta região que é tão importante para o Estado do Pará.
Jornal O Impacto: A senhora tem algum projeto para o futuro, diante todas as situações difíceis que o nosso País e nosso Estado estão passando, existe a possibilidade de uma pré-candidatura?
Ana Júlia: Existe uma possibilidade. Eu me filiei ao PCdoB, por ser um partido importante que sempre esteve ao lado dos trabalhadores, ao lado das mulheres, é uma partido inclusive com uma presença feminina de mulheres fortes, lutadoras muito grande, sendo que o PCdoB sempre foi coadjuvante com o PT, sempre foi um aliado de primeira hora, e nesse ano de 2018 vai enfrentar pela nova legislação a chamada cláusula de barreira, ou cláusula de desempenho, onde todos os partidos políticos precisam eleger no mínimo nove deputados federais em nove Unidades da Federação, ou seja, de nove estados diferentes, e também precisa alcançar um percentual mínimo de votos para Deputado Federal. Então, existe sim possibilidade de nós virmos a contribuir com isso. Mas não só isso, veja bem, com já citei, a conjuntura é difícil, você já pensou o que é uma Câmara dos Deputados onde infelizmente a maioria dos deputados do Pará votou pelo congelamento dos investimentos em educação, saúde e segurança, congelamento de investimentos em uma País de tantas diferenças, em um País que tanta gente precisa ingressar em uma universidade, num País que precisa continuar com programas importantes como Ciência sem Fronteiras, como FIES, PROUNI; nós estamos presenciando a diminuição desses investimentos, diminuição dos investimentos em segurança e assistência social. Isso é algo criminoso, mas infelizmente foi votado pela maioria dos deputados do Pará, ainda bem que não foram todos, mas lamentavelmente foi a maioria, então, a conjuntura é ruim e ao mesmo tempo essa mesma maioria votou para isentar, ou seja, o Governo Federal vai abrir mão, não vai receber um trilhão de reais! Porque isentou uma petrolífera americana para vir explorar aquilo que é nosso, o nosso pré-sal. Ao mesmo tempo que congela, dizendo que não tem recursos para investimento para aquilo que o povo mais precisa para saúde, educação, segurança e assistência, vai abrir mão de um trilhão de reais por 30 anos. Isso é um escândalo! Então, nós precisamos refletir, eu sei que o povo não quer saber de política, isso é proposital, essa campanha midiática que política é algo ruim, que todo político é bandido, isso tem um objetivo, que é afastar o povo da política e deixar a política só para aqueles que são uma verdadeira quadrilha que está dirigindo o País. Eu confesso que o meu coração, que antes estava na condição apenas como militante, dando apoio e ajudando, acabou falando mais forte e é uma possibilidade concreta, penso seriamente nesse convite do PCdoB para contribuir no Congresso Nacional. Eu aprendi com acertos e com erros e a gente ainda tem como contribuir com o desenvolvimento do nosso Estado.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto
Comunista falando de como administrar ? Fala sério, basta olhar pra Venezuela , Cuba ou Coréia do Norte. Fome, prisões, miséria e perseguição tem muito. Jogaram o Brasil no fundo do poço, sem grana nem pra comprar macas pros hospitais, porém mandaram bilhões para outros países comunistas, que nunca mais irão devolver o dinheiro do BNDES, sem contar que quase destruíram a Petrobras, os Correios, Caixa E. Federal, etc,etc,etc, né luladrão !!!
Então a senhora melhorou a estrada para Alter do Chão? Não fez um metro, sequer, de acostamento e a buraqueira era imensa, não vimos essa “melhora” !
Partido comunista “lutando pela democracia”? kkkkkkkk, temos vistos a democracia de Cuba, Coreia, Venezuela,etc !