Violência sem controle – Grande Belém tem 27 mortes em apenas 48 horas
Em apenas 48 horas Belém registrou 27 mortes violentas. Foram 11 homicídios no domingo, 29, e 16 na segunda-feira,30. As violência parece não ter fim na RMB. Desde a madrugada de segunda-feira (30), a reportagem do DOL contabilizou 16 homicídios, vítimas de armas de fogo e casos com claras características de execução.
A tarde de segunda-feira começou com um triplo homicídio em plena luz do dia no bairro do Tapanã, em Belém. Segundo informações, três homens foram assassinados na rua Haroldo Veloso.
Minutos depois, mais um homicídio foi registrado, dessa vez foi uma vítima dos integrantes do carro preto no conjunto Carmelândia, no bairro do Mangueirão, em Belém. Weslen Martins Silva, de 23 anos, morreu na rua José Monteiro sem a menor chance de defesa. Segundo informações, ele não tinha envolvimento com a criminalidade.
As equipes de policiais militares seguiram para atender mais uma ocorrência. Um homem, que não teve a identidade revelada, foi executado no bairro de Águas Brancas, em Ananindeua, próximo a um conjunto residencial. Novamente o crime foi de autoria de integrantes do carro prata.
Já no outro extremo da cidade, no bairro da Sacramenta, um jovem foi morto a tiros na rua Cláudio Bordalo. A vítima foi alvejada impiedosamente ao abrir o portão da própria casa. Os algozes estavam dentro de um carro. Conhecidos da vítima disseram que ele não tinha envolvimento com a criminalidade.
Um pouco mais distante, outro crime foi registrado. Dessa vez em Outeiro, o mototaxista Fábio Renato de Souza Palheta, de 34 anos, foi executado na estrada do Fama com 10 tiros. Fábio também trabalhava como soldador e estava no bar com alguns amigos, quando homens dentro de um carro prata fizeram os disparos. Segundo informações, a vítima era usuária de drogas.
Em meio às mortes, foi para a lista um dos suspeitos de participar do assassinato da cabo Maria de Fátima Cardoso dos Santos. Após uma troca de tiros com a polícia no bairro do Curuçambá, João Victor dos Santos Magalhães, vulgo ‘Vitinho’, foi atingido e socorrido à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade Nova, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Um idoso de 70 anos também foi morto a tiros na travessa WE 40, na Cidade Nova 4, na tarde desta segunda-feira (30). A vítima foi identificada como Raimundo Nonato Andrade da Silva. Ele foi morto a tiros dentro de casa. Os principais suspeitos de terem cometido o crime são dois homens que estavam em uma motocicleta.
BANHO DE SANGUE
A noite de segunda-feira seguiu com mais execuções espalhadas nos bairros de Belém. Em Maracacuera, mais um mototaxista foi morto. Derik Natanael da Costa Lobo, de 24 anos, estava com um passageiro na moto e parou para abastecer, quando integrantes do carro prata efetuaram os disparos que acertaram a vítima, que desceu do veículo e tentou fugir, mas foi perseguido e executado.
Outro homicídio foi registrado, dessa vez no bairro Park Verde, na comunidade Santa Rita. Renildo Araújo da Silva, de 35 anos, foi assassinado na frente da esposa e de sua filha de dois anos. Os acusados estavam dentro de um carro prata. Segundo a mãe da vítima, esse seria o terceiro filho que ela perde para a violência – o primeiro filho foi morto há sete anos e o segundo, há dois anos.
Até o fechamento desta matéria, recebemos a confirmação de um último homicídio na Terra Firme, na rua Lauro Sodré, entre rua Canaã e Pracinha. Segundo informações, a vítima foi alvejada quando saiu de casa para comprar refrigerante; dois homens em uma moto foram os autores do crime.
RELEMBRE AS MORTES NA MADRUGADA
A madrugada de segunda (30) foi igualmente sanguinária. Foram registradas quatro mortes: a primeira vítima foi João Ricardo da Silva, 26 anos, morto na travessa Humaitá com Rua Nova, bairro da Pedreira. Ele foi atingido com pelo menos 13 tiros por pessoas que estavam em um carro prata.
Outra vítima da violência sem controle que toma conta do Estado foi Alexandre Farias da Trindade morto com, pelo menos, 10 tiros. Em uma prática cada vez mais comum por assassinos, ele teve a casa, no bairro Santa Lúcia, invadida. Ele foi executado, sem chance de reação.
Dois homicídios em Ananindeua também entraram na triste estatística: Dener Rafael de Almeida Coelho foi executado na rua da Providência, atrás do Shopping Metrópole, no bairro do Coqueiro. Segundo informações, dois homens em uma moto alvejaram a vítima, que morreu no local. As causas do crime são desconhecidas.
O segundo e triste caso na cidade foi de Adrielle Ferreira Monteiro, de 20 anos, morta na we 32, na Cidade Nova 5. Segundo informações, motoqueiros não identificados alvejaram a vítima, que morreu na hora.
27 MORTES EM 48H
Somente no domingo (29), foram confirmadas pelas nossas equipes 11 homicídios, além de nove baleamentos. Somado aos casos recebidos e apurados hoje, chegamos a 27 mortes em dois dias.
Procuradas pela reportagem do DOL, as assessorias da Polícia Militar e da Polícia Civil não responderam com informaçãos solicitadas sobre os crimes.
FAMILIARES PROTESTAM E IMPEDEM POLICIAIS DE SAÍREM ÀS RUAS
Revolta, tristeza e protesto. Esse era o cenário, na manhã de segunda-feira, no 6º Batalhão de Polícia Militar (BPM), no bairro da Cidade Nova 6, em Ananindeua, que marcava o velório da cabo Maria Fátima Cardoso e a indignação de esposas, mães e irmãs de policiais. Elas secaram os pneus de pelo menos 16 viaturas em protesto pelo descaso do Governo com os policiais militares. Elas também colocaram 23 cruzes representando os policiais assassinados em 2018.
Com a interdição da entrada do prédio, cerca de 400 policiais não saíram para os trabalhos de rua. Ao longo do dia, poucas viaturas realizaram a ronda na área. As esposas exigem ser recebidas por um representante do Governo, que possa dar uma solução para o problema da falta de segurança na atividade policial.
Do lado de fora do Batalhão, várias faixas demonstravam o sentimento de revolta por parte dos militares e das famílias deles: “Existe uma família atrás da minha farda, que me espera em casa todos os dias”, “Polícia desvalorizada, população ameaçada”.
Um grupo de esposas está desde o início da noite de domingo (29), em frente ao 6º BPM para impedir que os maridos saiam para as ruas. O tráfego na WE 72, onde está localizado o batalhão também foi bloqueado durante todo o dia de ontem com as viaturas que tiveram os pneus esvaziados e algumas barreiras de concreto. “Esse protesto é pelo descaso do governador. As faixas significam que atrás de uma farda tem um pai, marido, mãe de família que saem de suas casas para defender a sociedade e não sabe se vai voltar. Até mesmo dentro de casa, como o caso da cabo Fátima”, diz Maria dos Santos, de 43 anos, esposa de um militar há 4 anos na corporação.
Segundo ela, desde o ano passado as esposas se reuniram para cobrar do poder público melhores condições de trabalho. Mas até agora nenhuma medida foi tomada. “A gente não dorme quando eles estão trabalhando à noite, ficamos apreensivas quando passam do horário de chegar em casa. Perdemos a vida social para as facções. O policial está sendo caçado. É um misto de tristeza e revolta”, desabafa. Ainda segundo ela, o protesto no 6º BPM é por tempo indeterminado.
Fonte: DOL