Xaropinho do Povo: “Prisão perpétua para crimes hediondos”

Ainda era um menino, mas já queria crescer bem rápido. Não pelo fato de apenas querer crescer como todos os meninos. O motivo era ajudar sua família nas despesas da casa e dar um melhor conforto para sua mãe. Por isso, aos sete anos de idade já estava na rua engraxando sapatos e entregando jornais. Foi aí, com os jornais que vendia que se apaixonou pelo jornalismo. Queria também fazer as notícias e hoje Hiromar Cardoso, o Xaropinho do Povo, se transformou em notícia.

Nascido em Santarém e casado há 35 anos com Maria do Socorro da Silva Cardoso e pai de três filhos: Giorgio Alecsandro (in memorian), Gigriola Aline e Gigriane Aluana e três netos, a Carol, Yuri, e Lia, que sãos as grandes paixões da vida dele.

 “A família é a base de tudo na vida do ser humano e a minha família, abaixo de Deus, é tudo pra mim”.

Algum dia o senhor pensou em ser candidato?

Nunca. Sempre estive perto da política, mas nunca fui candidato a nada. Nem pra associação de bairro.

Como a surgiu essa candidatura a senador?

Surgiu pela necessidade de se ter uma representatividade política melhor na região.  Nós vemos que a maioria dos que se elegeram pela nossa região só voltam aqui pra pedir votos. Até os que os que são daqui vão acabar morando em Belém e esquecem pra que foram eleitos. Agora corremos o risco de não elegermos deputados, por exemplo. Estou preocupado com isso. O povo está muito decepcionado. E a culpa é dos próprios políticos. Dos paraquedistas também. E a nossa região precisa mais do que nunca de representantes que sejam daqui e estejam dispostos a lutar pela nossa região. Sou o único candidato ao senado federal radicado em Santarém e pretendo representar legitimamente a minha região oeste do Para. Sou ficha limpa e esse é o meu compromisso com a minha região. Vou continuar morando aqui e defendendo as causas do meu povo.

Como a criação do Estado do Tapajós, por exemplo?

Essa e muitas outras que surgirem. É preciso rever o projeto de criação do nosso Estado porque com a perda do plebiscito esse projeto já era. Acabou. No entanto, precisamos defender que a consulta pública seja de fato aqui na nossa região e não na região onde não querem a nossa emancipação. O Estado é viável, ao contrário do muitos dizem por aí. Já somos de maiores, por isso podemos andar com as nossas próprias pernas. Já chega de sustentar um estado imenso e ficar somente com as migalhas que jogam pra nós.

O senhor é a favor ou contra a reforma trabalhista?

Da maneira como o presidente Temer quer, eu sou contra, porque vai diretamente contra os direitos fundamentais dos trabalhadores. Não é justo que as pessoas trabalhem tanto pra não terem garantidos seus direitos. Essa reforma suprime os direitos elementares do cidadão. Mas é preciso haver uma reforma nessa questão? Sim, com certeza. Mas não colocando a culpa da falta de desenvolvimento econômico nas costas do trabalhador.

O senhor fala muito nas suas redes sociais sobre duplicar o salário mínimo.  O senhor acredita mesmo nisso? Como e possível?

Minha nobre jornalista, eu acredito que tudo aquilo que você se empenhar de fato é possível sim. É possível que no senado haja outros políticos que estejam dispostos a defender o povo brasileiro, pois o que não é possível é o pobre trabalhador sustentar sua família com um salário desses. Enquanto eles recebem mais do que deveriam, fora as vantagens e privilégios que ganham. Isso sim é um absurdo dos bem grandes e uma injustiça também. Vamos lutar com toda a nossa força para que as pessoas tenham um salário digno e possam viver melhor.

E sobre a reforma da previdência?

E preciso reformar a previdência sim, mas não penalizando novamente o trabalhador que não tem culpa dos desmandos do governo. Nessa reforma do Temer o segurado só vai se aposentar quando morrer. Enquanto milhões e milhões de reais são desviados, são roubados da previdência. Precisamos adequar à nossa realidade e evitar que o dinheiro público vá parar nos bolsos dos políticos e servidores inconseqüentes. Os idosos são maltratados dentro do órgão que é para ampará-los. Muita gente que precisa não consegue receber auxílio, enquanto muitos que não precisam estão sendo contemplados. É preciso acabar com essa bandalheira. Os aposentados rurais devem ter seus direitos garantidos. São eles que põem o alimento na nossa mesa. E os trabalhadores urbanos também devem ser respeitados. Sou a favor que permaneça a idade como estava antes e os idosos sejam devidamente respeitados. Porque o governo não está dando nada pra eles não. Eles só estão recebendo aquilo que já contribuíram por anos e anos de trabalho.

E essa Lei Kandir? Todas as campanhas políticas são a mesma coisa. Vão revogar essa Lei e fica tudo na mesma….

Essa lei só pode ter sido criada pra beneficiar alguém, porque o Estado perde muito com isso.  E perder dinheiro significa deixar o povo sem investimentos. Essa é outra bandalheira que tem que acabar.

É a mesma coisa quando se tem um monte de empresas de exploração de minérios e as riquezas irem embora sem ficar nada pra região….

Exatamente. Fica aqui pra nós a miséria, a prostituição, o tráfico de drogas e a destruição ambiental. Está tudo errado isso. As mineradoras produzem, vão embora e deixam só a destruição pra nós. A mesma coisa acontece com as hidrelétricas no Estado do Pará.  Produzem energia pro País inteiro e até pra fora do País, mas nós pagamos a maior taxa de energia elétrica do mundo. Isso é outro absurdo que vamos interferir.  Já chega de virem buscar as nossas riquezas e nós ficarmos vendo os navios irem embora e ‘chupando o dedo’. São distorções enormes que precisam ser urgentemente corrigidas.

A sensação de insegurança vem se agravando a cada dia. O que o senhor propõe?

Primeira coisa é reduzir a maioridade penal. Fazer os detentos pagarem pelo sustento. Dar condições necessárias para que eles possam também sustentar suas famílias aqui fora. Nada de auxilio reclusão.  Aos menores lhes dar educação profissional para quando saírem das instituições possam ter uma profissão e a oportunidade de continuar suas vidas.  Mas eu não vejo a questão da segurança pública sem as condições mínimas para que as famílias possam viver dignamente. E isso perpassa também pela melhoria da qualidade da educação, acesso a emprego. A violência também é uma questão social, ela não está desvinculada disso.

Mas têm aqueles que parecem que já nasceram para o crime. A esses, então, prisão perpétua. Prisão perpétua para crimes hediondos. E aparelhar nossas polícias. Hoje o bandido anda melhor armado do que a polícia.  Nós temos que reverter essa situação que se encontra o País, relacionada à segurança pública.

O senhor me dizia a pouco que já participou de vários processos de emancipação política de municípios e que continua participando?  

Verdade. Estamos apoiando agora a emancipação do município de Castelo dos Sonhos, que é vinculado ao município de Altamira, mas tem uma distância de quase dois mil quilômetros. Apoiamos, também, a emancipação de Moraes de Almeida, em Itaituba; e Curuai, no Lago Grande.

Falando em municípios, a falta de água em Santarém continua do mesmo jeito. Pretende fazer algo?

Estou andando em vários bairros, conversando com as pessoas e a falta de água é o que mais reclamam. Santarém já era pra ter resolvido isso, mas continua sempre na dependência do governo do Estado. Nossas autoridades não têm problema de falta de água. Mas a população tem que carregar “cambão” na cabeça pra ter água em casa. Isso é outro absurdo. É uma vergonha pra nossa cidade. Vamos fazer sim o que for possível pra mudar essa realidade.

Se o senhor for eleito, vai ser um jovem senador. O que tem a dizer aos jovens?

Que aproveitem bem seus estudos, que se formem, pois terão lá no senado uma pessoa que irá brigar pelo acesso fácil do jovem ao primeiro emprego. Pois é o primeiro emprego que direciona a vida do jovem pra sempre. Dizer a eles que quero contar com o seu voto de confiança, pois irei brigar por melhores oportunidades de vida para eles.

O senhor sempre foi uma pessoa polêmica. Já foi ameaçado de morte várias vezes. O senhor vai ter o mesmo comportamento no Senado Federal?

Eu sempre briguei pelo que eu acho certo. Não gosto de mentiras. De gente que fala uma coisa na tua frente e por trás é outra. Não sei se vou ter o mesmo comportamento, pois o amadurecimento traz novos conhecimentos na nossa vida. Assim como o fortalecimento da Fé em Deus nos dá nova visão de vida. Mas se for pra ir pro senado, pra entrar em jogatas e grupinhos de gente hipócrita, eu não vou. Eu vou brigar pelos direitos da população. Pelo o que eu acho correto. E se isso for causar polêmica, então, eu vou ser polêmico (rindo).

Então, vamos a mais um assunto polêmico: extração de madeira e ouro ilegalmente.

Primeiro nós tivemos o ciclo da borracha, depois do ouro. Aí veio o da madeira. Eu sou a favor da exploração, mas não irracional, a custo da destruição da nossa biodiversidade. E a madeira e ouro extinguem completamente coisas que nem nós não sabemos, de tão rica que é a biodiversidade. As leis sobre o meio ambiente são boas. Mas a exploração ilegal continua tão forte quanto antes de inventarem os planos de manejo. Os planos de manejo se tornaram meios para muitos ganharem dinheiro ilicitamente com a madeira. Muitos são sérios. Há exceções. Mas muitos planos de manejo são inventados com a conivência de alguns servidores do órgão que deveria proteger o meio ambiente: o IBAMA. Que por outro lado não tem estrutura suficiente para fiscalizar uma região tão extensa como a nossa. Basta dizer que o órgão em Brasília possui mais funcionários do que aqui, que tem a responsabilidade de fiscalizar todos os municípios da região oeste do Pará. É um contraste muito grande.

E sobre a exploração aurífera?

Sobre o ouro, eu não penso apenas na destruição que causa ao meio ambiente, mas penso também nas milhares de famílias que estão jogadas nas cidades, sem oportunidade nenhuma a emprego e condições vida adequadas depois das novas leis sobre a exploração de minérios.  Estão engrossando os níveis de violência e insegurança nas ruas muitas vezes. Eu creio que é possível haver um reordenamento de exploração. Eu não concordo em se dar  vantagens a empresas  em detrimento aos milhares de garimpeiros que estão sem trabalho hoje. Mas não podemos fechar os olhos para o envenenamento de pessoas e animais, o meio ambiente em si através do mercúrio.  Deve haver uma conciliação nisso. Nas duas situações, tanto em relação ao ouro quanto a madeira, o pequeno é obrigado a explorar ilegalmente. É empurrado pra clandestinidade. Vamos rever essa política de exploração de minérios.

Se não houver conciliação haverá a destruição total do meio ambiente que é rico também como potencial turístico ….

São economias de grande relevância, principalmente no nosso Estado. O potencial turístico da região, então, nem se fala. Basta olhar para os lados para ver como fomos contemplados com tanta a beleza. O Brasil inteiro é lindo e com potenciais turísticos de grande porte. Somos privilegiados por morar em um País tão bonito. Mas tudo é preciso de ordenamento e investimentos. A região Nordeste aproveita bem seu potencial. Aqui estamos ainda engatinhando. Mas eu creio que em breve vamos alavancar esse potencial e possibilitar novas alternativas de vida para todos aqui na região, economicamente falando.

Vamos colocar Alter do Chão como exemplo. O caribe brasileiro. É lindo. Mas na época do verão. E na cheia? Afora os eventos que como o festival do Borari não tem nenhum outro atrativo. Que tal melhorar as estradas que dão acesso às outras praias não menos famosas que Alter? Que tal implantar um parque aquático em Alter do Chao? Sim, porque na cheia as pessoas terão um atrativo e tanto para freqüentar o lugar hoje resumido apenas no verão.

Que tal facilitar treinamentos de vendas, cursos de línguas e outras situações para o pessoal diretamente ligado a questão? Incentivar os taxistas, a rede hoteleira, pousadas, enfim, são propostas que eu quero levar comigo para o Senado, claro com, apoio de todos.

Só mais uma questão polemica. O aborto?

Como cristão eu sou totalmente contra. Uma criança não pode pagar pela inconseqüência de sua mãe. Mas penso também que antes de apenas criminalizar deveriam se ampliar as redes de proteção às mulheres, principalmente no que se refere a saúde. As mulheres precisam de um atendimento mais direcionado. A saúde dela deve ser mais especifica que a do homem. Isso eu aprendi com a minha esposa. Devemos ter mais atendimentos de referências à mulher.  O aborto deve ser tratado como uma questão de saúde pública, não apenas como crime.  Antes é preciso dar condições a mulher para que ela sequer pense na possibilidade de abortar.

Hoje a maioria dos políticos fala contra a privatização, mas quando chegam no poder votam  a favor.  Qual vai ser o seu comportamento? O senhor é contra ou a favor de privatizar as empresas estatais?

Sou contra, e mesmo que eu chegue ao poder vou continuar sendo contra.  Há grades questionamentos sobre a competência das administrações públicas gerenciar essas estatais. Mas com a privatização, além de estarem entregando o nosso País nas mãos dos estrangeiros, a situação está cada vez pior.  Estamos batendo na mesma tecla, que e sempre entregar o ouro na mão do bandido. É assim que acontece com as privatizações. Tem gente vendendo o País e ganhando muito dinheiro com isso. Enquanto essas empresas poderiam estar a serviço da população brasileira.

Com essas estatais o problema maior é a corrupção. O jogo de propinas que rola solto até hoje nos grandes centros de decisões políticas. Mas isso a população já mostrou que pode muito bem ser o grande fiscal dessas estatais e impedir as privatizações e a corrupção dentro delas. A população já mostrou que é grande aliada contra corrupção.

Por: Gerciene Belo

Fonte: RG 15/O Impacto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *