Creche Seara está há 40 anos ajudando crianças de Santarém
Associação tem a missão de educar, combater a desnutrição de crianças e atender às necessidades da comunidade
Adalgisa Lima fala sobre os trabalhos realizados pela entidade
A Creche Seara (Associação Santarena de Estudos e Aproveitamento dos Recursos da Amazônia) é uma entidade que atende crianças de 1 a 5 anos de idade, localizada no bairro de Santana, em Santarém, oeste do Pará. Apesar da dificuldade e carência dos pais em saber onde deixar os filhos durante o tempo de trabalho, a creche tem a missão de educar, combater a desnutrição de crianças e atender às necessidades da comunidade por meio de diferentes atividades. A presidente da entidade, Adalgisa Lima, recebeu o jornalista Osvaldo de Andrade e a nossa equipe de reportagem, ocasião em que falou sobre os trabalhos realizados pela instituição. |
“A maneira de como nós estamos trabalhando não é diferente de 39 anos atrás. Agora já completando 40 anos, a Seara está fazendo um trabalho que iniciou com um grupo de pessoas, posso citar a Doutora Clara Brandão, médica que na década de 70 veio para Santarém e conheceu pessoas de famílias tradicionais da cidade, e ela muito se surpreendeu na ocasião por Santarém ser uma cidade com toda uma riqueza natural, com recursos naturais no que se diz respeito à alimentação, e via crianças desnutridas. Como ela na época tinha uma pasta de saúde, que era o INAMPS que fazia atendimento muito similar ao SUS que é hoje, então, essas crianças tinham esse atendimento onde ela percebeu o nível de desnutrição muito grande e grave, com risco de morte. Foi quando surgiu a ideia da Dra. Clara começar a fazer um trabalho, que foi justamente montar em alguns bairros a modalidade de um atendimento às crianças, chamado de “Casulo”, em cada bairro que ela visitava. Eu digo isso com propriedade, até porque eu fui uma das crianças que a Dra. Clara ajudou quando começou a fazer as primeiras multimisturas, eu provei; não que eu estivesse desnutrida, mas para testar o paladar. Outras crianças foram envolvidas e pela maneira de amizade com ela, encontrou meus pais e meus tios, que também são sócios-fundadores Veleida e Ivair Chaves, e junto com outras pessoas da sociedade, que realmente abraçaram a causa e ao longo desses anos passou a ser chamada Seara, foi registrada como uma sociedade civil, uma personalidade jurídica, para poder estar hoje no que é atualmente. Continuamos ainda com a essência, que é a busca ativa através de uma equipe pedagógica de multiprofissionais, que fazem visitas às casas que estão cadastradas e outras nos bairros periféricos, e diante dessa filtragem a gente consegue ainda detectar o nível de desnutrição em algumas crianças. Aí fica a pergunta: Não tem alimento? A gente percebe que hoje além do setor econômico das famílias, existe o erro alimentar, somado com aquela linha ainda de pobreza de não poder arcar com alimentos ou desconhecerem alimentos que, às vezes, está no seu quintal e que possa ser potencialmente um elemento bastante nutritivo. Então, a Seara nesses 40 anos, não perdeu a sua essência, que é justamente tratar as crianças desnutridas. O foco principal é esse. Também nós temos variedades dentro dos objetivos que estão constituídas no nosso estatuto, que é o combate à desnutrição, fomentar desenvolvimento com recursos na Amazônia, enfim, são muitas atividades que nós podemos desenvolver aqui na nossa região no qual a Seara há anos é muito bem reconhecida e com certeza ajuda”, disse Adalgisa Lima.
CRIAÇÃO DA MULTIMISTURA: Sobre a tradição muito comentada em relação a uma certa mistura, Adalgisa Lima relatou: “A multimistura, na realidade, é uma forma de um pó que a Dra. Clara estudou e continua sendo bastante estudiosa na área. Aquelas folhas de determinados alimentos que nós jogávamos, ela descobriu, há cerca de 39 anos, que a folha da macaxeira, por exemplo, tem um potencial valor nutritivo em aminoácidos que poderia servir de vitamina para as crianças, ou seja, quando você pega a macaxeira você só aproveita a raiz e aí ela passou utilizar a folha misturada com sementes de outros produtos, como farelo de arroz. Na ocasião era o farelo de arroz, a folha da macaxeira desidratada que passa por um processo sem perder o seu potencial nutritivo, e subsidia com um complemento alimentar. Nossa preocupação, é que muitas vezes as pessoas dizem assim: ´Ah! Eu vou deixar de comer carne, eu vou deixar de comer frango, comer feijão, porque eu só vou ficar na multimistura`. Não, ela entra na linha de um potencial complemento alimentar, para que possa realmente fazer um equilíbrio de absorção de proteínas, aminoácidos; vitaminas que muitas vezes nós jogamos fora. Por exemplo, cascas de hortaliças e de frutas, raízes, onde está realmente o valor mais acima do que está na polpa ou em determinadas partes de um fruto. Então, a gente também tem informações importantes sobre este valor nutricional, de tudo que está contido dentro dessa multimistura e é o nosso carro-chefe. Daqui a mais ou menos uns 6 meses nós estaremos fazendo outro projeto para que se possa provocar a sociedade a comer mais alimentos, frutas por estações da nossa região, pois é isso que está faltando. Muitas vezes você só compra maçã, no entanto, nós temos frutos que são mais baratos e que têm potencialmente o mesmo valor nutritivo que a maça, mas se torna mais caro para aquela pessoa que tem um valor econômico um pouquinho abaixo”, informou.
CUSTO PARA MANTER A ENTIDADE: Ao ser questionada se há custo para manter a Creche, Adalgisa Lima informou: “A receita vem de doações e de projetos. Nós temos o projeto de uma instituição da rede bancária em que ela parte ela subsidiar a folha dos nossos colaboradores. Nós temos também outra unidade do contraturno escolar, que chama as crianças que estão fora do horário da escola. Ela tem uma outra atividade, numa outra área, que é unidade Siafi e os colaboradores recebem seus salários de um projeto feito com a Alemanha, através do doutor Rainer e a Gabi Hear; são duas pessoas que fazem a captação de dinheiro, sendo que trimestralmente eles mandam os valores para que possamos custear a vida desse vínculo empregatício que a gente tem. Quanto à Prefeitura, nós entramos em 2011, quando surgiu a necessidade de ter uma creche, como a Prefeitura não disponibilizava de um espaço, através de uma presidente e uma pedagoga que estavam na coordenação, fizeram tipo um ato de cedência, através de uma aceite da nossa diretoria, na ocasião, para que a área tivesse uma creche e o espaço seria na Seara. Houve um ato de cedência e nós fizemos todo o projeto na ocasião, projeto pedagógico para que pudesse atender à Seara na modalidade de educação, tipo creche integral, valorizando a criança desnutrida, após a triagem e o pré-escolar, sendo que os servidores que trabalham diretamente na área da educação creche e pré-escolar. Há também um vínculo de professores, através da Secretaria de Educação, no qual o espaço é da Seara, mas os servidores que trabalham com a creche e que são os professores e o pedagogo, passam a receber seus honorários através da Secretaria de Educação, mesmo porque tem o Fundeb que é um dinheiro destinado para que venha subsidiar essa modalidade de educação infantil”.
PARCERIAS COM EMPRESAS E PESSOAS FÍSICAS: A gerente da Creche Seara, Zélia Santos, também falou à nossa reportagem sobre as parcerias com empresas e com pessoas físicas: “A gente conta muito com a colaboração da sociedade santarena, e os nossos maiores recursos são essas doações que a gente recebe do comércio, dos empresários, dessas instituições. Não só doação de mantimentos e alimentos, como roupas, móveis e outros materiais; a gente promove bazar, feira de pechincha, de onde conseguimos subsidiar algumas despesas da entidade. A gente conta também, com o serviço comunitário de algumas instituições em Santarém, vindas com estagiários e também de pessoas voluntárias que querem contribuir com seu tempo disponível dentro da entidade. Essas pessoas vêm com a gente e acabam fazendo uma escalinha de serviço. Essas pessoas ficam conosco por um determinado período, colaborando com seu tempo com a entidade”.
A gerente da Creche disse que se alguém quiser fazer algum tipo de doação, o contato é pelo telefone fixo (93) 3523-2309 e também pelo telefone corporativo que é o (93) 99194-5016.
“Hoje, a Creche seara tem dois espaços, a unidade 1 que é o João de Barro, que atende 140 crianças de 1 a 5 anos de idade; e a segunda unidade, onde nós atendemos crianças de 6 a 12 anos e adolescente de 13 a 17 anos. Então, nós temos duas unidades que a gente acaba entendendo 200 crianças diariamente. Se alguém quiser levar seu filho ou filha para ser atendido pela Creche, deve procurar a entidade, pois temos uma coordenadora administrativa que vai lhe atender, um secretário que também pode lhe atender. Eles vão pontuar quais são os pré-requisitos para estar matriculado na Creche. Temos alguns pontos que são essenciais para estar aqui”, disse Zélia Santos.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto