Da fantasiosa hipocrisia carnavalesca à necessidade concreta dos empreendimentos logísticos estruturantes para o desenvolvimento socioeconômico do Tapajós
Artigo de Edward M. Luz (Antropólogo e Consultor Parlamentar).
Desconhecidos mesmo, foram aqueles heróis que há cinco séculos vêm tentando produzir num país hostil, ingrato e avesso à iniciativa privada e ao desejo de quem investe e produz. Celebrar os “heróis esquecidos, índio, o negro e o pobre”, além de barata estratégia oportunista de marketing político é a típica manifestação cultural resultado de décadas da miopia romântica esquerdista carioca que celebra a cigarra e condena e faz choça e pirraça da dedicação da formiga.
Perdedora da disputa democrática recente no Brasil, a esquerda dá provas de manter a narrativa histórica e cultural sobre o Brasil, apelando para a estratégia de manter o país preso ao atoleiro de seu passado conturbado. Um clarão interpretativo se abre quando se realiza uma análise contrastante atenciosa das manchetes de jornais do início do mês de março de 2019, que anunciavam tanto as manifestações culturais como o resultado dos desfiles do Carnaval Carioca, quando os desastrosos impactos sociais e econômicos das “águas de março”, as torrenciais chuvas que desabaram sobre diversas regiões do país.
Estampadas em todos os principais jornais nacionais, vinha a manchete redigida em diferentes formas a informar que a Estação Primeira de Mangueira fora a campeã do Carnaval Carioca em 2019. A escola adotou a estratégia marqueteira e populista de trazer um enredo fortemente politizado “História para ninar gente grande”, trouxe foliões e passistas empenhados em cantar uma versão ideologicamente enviesada para celebrar aqueles que chamou de “heróis desconhecidos da nação” os “Índios, Negros e Pobres”.
O resultado não podia ser outro: num período tão polarizado como o que o Brasil vive desde 2015, e com o espaço aberto para narrativas oposicionistas ao Governo Bolsonaro, e com a operação sempre eficiente da militância politicamente correta da esquerda, a escola verde e rosa conquistou 270 pontos, a nota máxima possível na apuração, e celebrou mais um título em sua longa história, nada menos que o seu 20º título.
O que as manchetes de jornais não contam é a forte mobilização da esquerda carioca em prol da Escola, nem a forma como figurões da esquerda carioca se apossaram da temática para politizar tanto o enredo, quanto o desfile e influenciar o julgamento final da escola. Os jornais não se importaram em noticiar a trégua climática no Carnaval Carioca, mas a efeméride é importante e merece nota: quando os primeiros passistas da Mangueira adentraram a Sapucaí, para percorrer os 700 metros mais filmados vigiados do Brasil na semana de carnaval, fazia poucos dias que as chuvas torrenciais caíam sobre o Rio, alagando bairros inteiros, arrastando carros e arruinando vidas, casas e estabelecimentos comerciais da capital fluminense.
Diferente dos poucos dias de intervalo gracioso que permitiu a apreciação de todo o esplendor do carnaval carioca, as águas de março fustigaram fortemente o restante do país. Provenientes do mesmo fenômeno climático que poucos dias depois também traria morte e caos em São Paulo e outras cidades do sudeste, as chuvas também trouxeram o caos e cobraram seu elevado preço àqueles que insistem em produzir e/ou transportar sua produção na região norte do país. Quase dois mil quilômetros ao norte da Sapucaí, as batidas ritmadas do samba-enredo da escola verde e rosa, eram uma referência distante, só recebidas pelos melhores radiotransmissores dos caminhões de centenas de heróis, verdadeiramente esquecidos e desconhecidos há mais de uma semana, permanecendo presos num dos rincões esquecidos e abandonados do Brasil: os vastos trechos não asfaltados da BR-163 entre o Mato Grosso e o Pará.
Esquecidos pelas autoridades do país, centenas de brasileiros, com seus caminhões, carretas e veículos de passeio já amargavam parados há quase uma semana, amargando sem comida, sem estrutura e condições mínimas de higiene e civilização, num trecho de pelo menos 10 quilômetros da rodovia federal, sem asfalto, entre as regiões de Novo Progresso e Moraes Almeida, no Pará (695 quilômetros de SINOP).
A incessante chuva provocada pela frente fria que cobriu os céus do Brasil nos últimos dias de fevereiro, dezenas de caminhões carregados não conseguem subir uma serra e precisam ser puxados. Por isso, o Exército paralisou o tráfego para não piorar ainda mais a situação. a interdição é na Serra da Anita devido ao tempo chuvoso. A trafegabilidade ficou e ainda continua interditada em ambos sentidos.
Distantes de suas famílias, com cobertura precária de celular e em pouco tempo, sem energia, a única forma de conexão eram as ondas de rádio instaladas nas boleias dos caminhões. Vídeos começavam a circular revelando a realidade de centenas de caminhoneiros, heróis desconhecidos. Não só eles, mas todos que tomaram a BR-163 constataram com pesar que desde “a sexta-feira, 1º de março, o trânsito ao redor de Sinop está parado em uma fila que já ultrapassa os 40 quilômetros”.
Enquanto foliões do restante do Brasil entregavam-se e divertiam-se com os prazeres efêmeros do Carnaval, centenas de brasileiros da região Norte, padeciam presos num longo lamaçal da história de descaso e da ineficiência do estado brasileiro que marcam mais de meio século da BR-163. Já é passada a hora de superarmos o descaso, os empecilhos e, sobretudo, a hipocrisia discursiva carnavalesca socioambiental para atendermos a real necessidade dos verdadeiros heróis empreendedores desta nação, e de uma vez por todas concretizar e finalizar os empreendimentos logísticos estruturantes para o desenvolvimento socioeconômico da região do Tapajós. Chega do lamaçal histórico, é hora de ações práticas para mudar a realidade do presente e assegurar um melhor futuro para a região Norte.
É bem verdade que as equipes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), em Mato Grosso intensificaram desde a última semana de fevereiro a recuperação de trechos que têm buracos e estragos causados pelas fortes chuvas e tráfico intenso. Também é verdade que um dos aspectos mais auspiciosos desta nova era da administração pública nacional é o olhar diferenciado que tanto o presidente como os ministros de seu governo demonstraram já nos primeiros dias para com a região amazônica.
Também é verdade que os primeiros sinais são animadores, pois representantes do Governo Bolsonaro se alternam em frequentes visitas à região Norte. Primeiro foi o Vice-Presidente General Mourão, que inaugurou as visitas, indo a Sorriso, onde assegurou que a ferrovia Ferrogrão “vai sair do papel sim, vai ser construída. É fácil? Não é fácil! É difícil”. “As missões difíceis são para Jair Bolsonaro!”, declarou, em discurso para centenas de produtores rurais que acompanharam a solenidade do plantio da safrinha de milho e encerramento da colheita da soja. Também é verdade que o governo federal está fazendo os procedimentos de licenciamento para cumprir as etapas legais e quer fazer a concessão ainda este ano para a construção da Ferrogrão começar a ser construída, mas o vice-presidente não falou em prazos.
Além do vice, outros ministros do Governo Bolsonaro já estiveram na região fazendo promessas e avaliando medidas para tocar os projetos estruturantes da região. Sobre a BR-163, tanto o DNIT, quanto o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, declararam em fevereiro, que os 109 km da rodovia no Pará serão pavimentados até o final do ano e os recursos, de aproximadamente R$ 200 milhões, já estão disponíveis. “O trabalho vem ocorrendo há um ano e meio, e, na prática, significa que a BR-163 será totalmente restaurada de Sinop até a divisa do Pará”, observa o superintendente regional do DNIT, no Mato Grosso, Orlando Fanaia Machado. Os pontos críticos já estão sendo ‘atacados’ pelo DNIT. Já a restauração rodoviária será retomada tão logo acabe o período chuvoso. Quando for totalmente pavimentada, a BR-163 será a principal rodovia federal do Estado e receberá grande tráfego de veículos de carga. Além de interligar a capital, Cuiabá, ao Norte, também é via de acesso aos portos do chamado Arco Norte.
Premiar a escola que decidiu celebrar os “heróis esquecidos”, “índio, o negro e o pobre”, é a resposta “politicamente alinhada”, barata e oportunista que a esquerda requentou da manifestação cultural da miopia romântica esquerdista carioca que celebra a cigarra e condena e faz choça e pirraça da dedicação da formiga. Enquanto Brasil continuar criminalizando quem faz e produz e celebra quem e tratando os produtores com o descaso e a desimportância prática, o Brasil continuará atolado no lamaçal do passado.
Eis o veredito da atualidade.
Fonte: RG 15/O Impacto