Pará é o segundo estado que mais fecha lojas
O comércio paraense ainda sofre para se recuperar da estagnação econômica em que o País mergulhou nos últimos anos. Prova disso é que enquanto o setor apresentou reação no País em 2018, com mais aberturas do que fechamentos de estabelecimentos comerciais em 15 dos 27 estados brasileiros, o Pará surge com um dos piores resultados da federação. No ranking de abertura líquida de lojas com vínculos empregatícios, o Estado só teve desempenho menos inglório do que o Rio de Janeiro, que tem acompanhado os investimentos atraídos pelos grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíadas, ruírem a cada dia.
O Pará, que não teve nenhuma anormalidade na economia local como o estado carioca, encerrou o ano passado com saldo negativo de 374 lojas fechadas, o que corresponde, em média, a um estabelecimento terminando as atividades a cada dia, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Se considerar os últimos cinco anos de derrocada da economia nacional, o saldo chega a quase a cinco mil estabelecimentos comerciais fechados no Estado.
Para Fabio Bentes, economista da CNC, a lentidão da reversão do fechamento de lojas no Pará está atrelado ao desempenho negativo de outros termômetros da economia. “O que faz o comercio se recuperar é o mercado de trabalho. A gente tem visto números muito ruins, os dados da última pesquisa do IBGE apontam uma população desocupada muito expressiva no primeiro trimestre, são 11,5% da população em idade de trabalhar no Pará. Também tem um grau de informalidade crescente, que atrapalha o comércio, porque a renda média do trabalhador informal é bem menor do que a do formal, cerca de 30%, pelo menos. Os números de subocupados e desalentados são recordes. A gente pode dizer que a subutilização da Força de Trabalho no Pará hoje atinge 21% da população. E tudo isso cria um empecilho para a recuperação do comércio”, explica.
“Um dos principais fatores que afetam as vendas é a falta de crédito para o consumidor, por exemplo. Se a gente olhar a taxa de juros do ano passado e comparar com abril deste ano, a gente observa que a taxa de juros ao longo de 2019 só fez subir, o que atrapalha o consumo a prazo. E o consumo a vista, como alimentos, remédios e combustíveis está sofrendo com uma inflação maior. A inflação acumulada entre janeiro e abril já está em 2,35% na RMB. Já é praticamente metade da meta de inflação, em apenas quatro meses. E qual o problema disso? Além de fazer com que as famílias evitem o consumo de produtos e serviços não essenciais, isso inibe a queda dos juros lá na frente. E o último ingrediente para a receita do comércio subir seria a confiança das famílias. Esse índice é mais um em queda em 2019. Então resumindo: a economia está andando para trás, o primeiro trimestre desse ano foi perdido, do ponto de vista do crescimento econômico”, completa.
Recuperação
Lúcia Cristina Lisboa, assessora econômica da Fecomércio do Pará, destaca que, apesar dos resultados negativos, 2018 não pode ser visto como um ano de dificuldade para o setor de comércio, se comparado com os desempenhos dos anos anteriores. Em 2015, por exemplo, o volume de vendas do comércio varejista do Estado regrediu 4,8%, com saldo de 1.010 lojas fechadas. No ano seguinte, as vendas decresceram 13,1%, com 2.259 estabelecimentos comerciais encerrados.
“A partir de meados de 2017 é que, finalmente, houve uma retomada dessa trajetória declinante, e as vendas do comercio varejista apresentaram incremento de 1,4%. Mas como a base de comparação era 2016, quando as vendas decresceram bastante, então esse número não foi de se comemorar. Já em 2018, as vendas do comércio foram maiores do que o ano anterior em 6,9%. Ocorre que ainda temos uma perda líquida de lojas em 2018. Entendemos que, após essa crise profunda de vendas em 2015 e 2016 e uma lenta recuperação da economia, esses estabelecimentos que entraram em dificuldade naqueles anos, não conseguiram se recuperar e não tomaram a decisão, naquela época, de encerramento das atividades. Então, eu acho que esse numero ainda é um rebatimento da crise vivida em 2015 e 2016, que deixaram algumas empresas com dívidas e sem condições de renovar estoques e de se manter no mercado”, avalia.
Apesar da análise positiva em relação ao resultado de 2018, a economista pede cautela para as perspectivas em relação a esse ano. Lúcia Lisboa observa que em 2015, o saldo de admitidos e desligados no mercado formal do Pará, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do governo federal, foi de redução de 37.828 postos de trabalho em todas as atividades econômicas. Em 2016, o Estado sofreu uma nova queda profunda, de menos 39.869 e, em 2017, continuaram negativos: -7.412.
“Então, uma redução nos postos de trabalho formal muito grande. Isso gera um impacto negativo para o comércio, porque a menor disponibilidade de emprego reduz a massa salarial. Em 2018, houve um incremento de 15.286. Então, olhando pra frente, a gente vê o Pará acompanhar essa lenta recuperação, o comercio vem apresentando uma trajetória positiva quanto ao volume de vendas, mas o cenário ainda requer cautela. Nós temos ainda no Pará, por exemplo, 50,4% das famílias endividadas, sendo que, destes, 20,2% estão com contas atrasadas. Então, temos que considerar essas questões para se projetar o desempenho a frente”, disse.
Fonte: O Liberal