Artigo – Onde acabam nossos sonhos: uma história de patriotismo militar

Por Oswaldo Vasconcelos Bezerra*

Patriotismo, uma pesquisa da Universidade de Chicago classificou os americanos, venezuelanos, irlandeses e sul-africanos os mais patriotas. Os brasileiros nem foram citados na pesquisa. Os soldados, nunca são melhores que os cidadãos a que servem, já dizia o coronel Helio Fernando Rosa de Araújo. Humildade a parte, das fileiras das forças armadas saíram alguns dos maiores patriotas, que se tornaram peças chaves em diversos acontecimentos da história do Brasil como, por exemplo, na libertação dos escravos.

O fim da escravidão não foi decisão dos fazendeiros paulistas, nem uma dádiva da família imperial. Foi uma luta incansável de heróis como a do nosso maior Marechal. Deodoro foi quem afrontou à princesa Isabel, quando da declaração do exército em não marchar contra quilombos. Presidente do Clube Militar formou a base do setor anti escravista do exército. Foi tão pressionado pelas elites da época, quando presidente, que renunciou, e pediu pra ser enterrado sem homenagens militares. Deodoro representou bem a característica dos militares da época.

A característica dos militares se dividia em três vertentes. Uma agia sob influência do profissionalismo alemão e francês, através dos jovens oficiais que estagiaram na Alemanha e França. Esses seguiam o modelo das democracias liberais, onde o exército podia e devia dedicar-se primordialmente à defesa externa. Eram contrários à interferência do exército nos assuntos políticos nacionais.

Por outro lado, havia o grupo que defendia a hipótese de não se ligar às classes dominantes. Consideravam que havia momentos de instabilidade política que permitia, e quase exigia, a intervenção dos militares na política interna.

A terceira vertente era a dos militares mais radicais, desde praças a oficiais. Esses refletiam a influência do PCB (Partido Comunista Brasileiro), cujo prestígio, entre as Forças Armadas, crescera muito, após este partido ter conseguido a adesão do ex-capitão Luís Carlos Prestes, em 1931. Esse quadro defendia a ideia de um exército popular, que deveria ser um instrumento da luta de classes.

Nesse cenário surge um militar que talvez tenha sido o mais patriota de nossa história, o general Horta Barbosa. Entre julho de 1936 e janeiro de 1937 exerceu a presidência do Clube Militar e atuava com pauta nacionalista. Envolveu-se no debate sobre a existência, ou não, de petróleo no Brasil. Em 1938, alertou o alto comando do Exército sobre riscos de interrupção do fornecimento externo de petróleo, em virtude da iminência de um conflito mundial.

Horta Barbosa foi o grande precursor da Petrobras, e do sistema jurídico do petróleo com Getúlio Vargas. Empresa esta que receberia várias vezes o “OTC” Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations, and Institutions em reconhecimento ao conjunto de tecnologias desenvolvidas, o maior reconhecimento que uma empresa de petróleo pode receber.

Toda filosofia militar mudou com a criação da Escola Superior de Guerra (ESG), em 1948. A escola trouxe uma doutrina onde as Forças Armadas deveriam conduzir o processo político, a crença era que as elites são responsáveis pelos destinos da nação. As Forças Armadas evidenciaram alinhamento com ditames dos Estados Unidos, para a América Latina e Caribe.

Assim militares foram joguete na “Operação Condor” idealizada por Hary Kissinger. Documentos desclassificados da CIA e do Departamento de Estado dos Estados Unidos, tornados públicos nos últimos anos, mostraram que o governo americano, na gestão Lyndon Johnson, se arrependeu de ter criado o golpe de 64 pois, se tornou a ditadura mais sangrenta da época.

Nem tudo estava perdido para o patriotismo militar. Mesmo neste cenário de submissão ao capital estrangeiro, surge um dos militares mais importantes de nossa história, o Almirante Othon Pinheiro. Foi um militar absolutamente brilhante, um patriota comprometido com a ciência brasileira. Ele desenvolveu a tecnologia de centrífugas que o Brasil tem hoje, reconhecida como a mais avançada tecnologia do mundo, no domínio do ciclo de urânio.

O almirante Othon, pai do programa nuclear do Brasil, alertou já em 2004 que o Brasil precisava se precaver, havia muita pressão americana sobre pesquisas nucleares. Informou que o Brasil era um país infestado de espiões nortes americanos, atentos a todos os movimentos que o País fazia para ser independente. Afirmou ainda que os EUA não tinham o menor interesse que o Brasil se tornasse autônomo em termos de defesa.

Descobriu-se, por informações vazadas da operação Lava Jato, que esta foi articulada com o Serviço Secreto americano. Por isso, uma das primeiras ações foi prender o homem que se negou a passar a tecnologia da centrífuga radioativa aos EUA. A Lava Jato trancafiou o Almirante com uma pena de 40 anos. Para um senhor de 70 anos foi como prisão perpétua. Por ordem da Lava Jato, o Ministério Público também foi obrigado a entrega todos os segredos tecnológicos e comerciais da Petrobras para os EUA. Desde o Marechal Rondon, ao general Horta Barbosa até o Almirante Othon teima o fim dos nossos sonhos de nos tornarmos uma nação soberana.

* É Geólogo pela UFPA e Mestre em “Administração e Política” pela UNICAMP.

RG 15 / O Impacto

2 comentários em “Artigo – Onde acabam nossos sonhos: uma história de patriotismo militar

  • 5 de agosto de 2019 em 15:26
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    …Ou quem sabe seríamos uma China e teríamos a Economia mais forte do mundo….Na China, tanto a renda média dos 50% dos adultos mais pobres (cerca de R$ 1.400 mensais) quanto a da classe média (R$ 5.100) já superou a brasileira.

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  • 3 de agosto de 2019 em 11:44
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    KKKKKK…ESSE “ENTENDE” DE EXÉRCITO/FORÇAS ARMADAS (EXÉRCITO COM E MAIÚSCULO, VIU ENTENDIDO?). ENTÃO OS OBTUSOS MILITARES BRASILEIROS SOMENTE VIERAM A INTERVIR EM 64 POR “ORDEM” DO LYNDON JOHNSON ? “ENTENDIDO”, JÁ EM 1935 OS MILITARES TIVERAM CONHECIMENTO DO QUE ERAM CAPAZES OS COMUNISTAS, QUANDO FUZILARAM FRIAMENTE COLEGAS DE FARDA, ALÉM DE INOCENTES CIVIS EM DIVERSAS CAPITAIS ( NATAL, RIO DE JANEIRO, JOÃO PESSOA,ETC) E TENTARAM IMPLANTAR UMA REPÚBLICA SOCIALISTA, NOS MOLDES DE MOSCOU. NÃO ERA NECESSÁRIO O AMERICANO ENXERGAR PELOS MILITARES O QUE FIDEL HAVIA ACABADO DE IMPLANTAR EM CUBA, O MARXISMO. EMBORA HOUVESSE DADO O GOLPE NO FULGÊNCIO BATISTA, PROMETENDO “NOVA DEMOCRACIA” AO POVO, DEU NO QUE DEU, CERCA DE 20 MIL FUZILADOS NO PAREDÓN ! PARE DE FANTASIAR ESTORIETAS ENVOLVENDO A PETROBRAS, ENERGIA NUCLEAR, ESPIONAGEM, SEGREDOS TECNOLÓGICOS, BLÁ,BLÁ,BLÁ , TUDO POR INVEJA E ÓDIO DOS USA. ALIÁS, SÃO TÃO “”MAUS E EXPLORADORES””, QUE APÓS 45 ANOS OCUPANDO A ALEMANHA E O JAPÃO, ESSES PAÍSES HOJE SÃO POTÊNCIAS TECNOLÓGICAS , VINDO A COMPETIR COM ELES NO MERCADO MUNDIAL ! BEM AO CONTRÁRIO DOS PAÍSES ESCRAVIZADOS PELA COMUNISTA RÚSSIA, QUE APÓS A IMPLOSÃO DA UNIÃO SOVIÉTICA, FORAM ALFORRIADOS MAIS MISERÁVEIS DO QUE ESTAVAM ANTES DA 2ª GUERRA MUNDIAL ! QUANTO À “DITADURA MAIS SANGRENTA DA ÉPOCA”, VC ESQUECEU DE CUBA, CHINA, CAMBODJA, ETC, COM MILHÕES DE FUZILADOS, COMO CONFESSOU TCHE GUEVARA EM PLENA ONU EM 65( “MATAMOS E CONTINUAREMOS MATANDO”…) E DO SEU IDEAL DE “”TRANSFORMAR TODA A AMÉRICA LATINA EM NOVO VIETNÔ” ! NO BRASIL O SALDO DA CONTRA REVOLUÇÃO FOI 400, ENTRE MORTOS E DESAPARECIDOS ! “ENTENDIDO”, PENA NÃO TER SIDO SEU ALUNO NA FACULDADE, PARA REBATER SUAS ESTÓRIAS; CERTAMENTE EU NÃO SERIA UM DISCENTE PADRÃO BOVINO, SOMENTE ASSENTINDO COM SUAS FÁBULAS DO LOBO MAU CAPITALISTA X OVELHINHAS COMUNISTAS !

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