Jackson do Folclore diz querer tomar a prefeitura e oferece cargos no governo

Em áudio, vereador disse que ‘’seria bom colocar pelo menos um membro dos grupos culturais no poder público’’

Possível candidato ao cargo de prefeito de Santarém em 2020, o vereador Jackson do Folclore teve um áudio amplamente divulgado nas redes sociais nesta segunda-feira, dia 9. Isso porque o parlamentar, em conversa com membros de grupos culturais locais, sugeriu a oferta de cargos no governo para ganho de votos. O áudio pode complicar a vida do vereador, que pode até mesmo responder por quebra do decoro parlamentar e corrupção eleitoral.

Em quase três minutos de áudio, o vereador usa termos possivelmente inadequados para uma um parlamentar, como “tomar a prefeitura”, afirmando existir uma articulação de níveis regionais e até nacionais para que isso aconteça. Após isso, ele dá a entender que seja necessário que todos os grupos culturais da cidade estejam empregados no governo, especificamente na Secretaria de Cultura, e recebendo valores em dinheiro. Para ele, empregar tais pessoas dentro da Prefeitura de Santarém também garantiria que o PSL se manteria por muito tempo no comando do município, pois nas próprias palavras do parlamentar: “só o folclore, se quiser, elege um prefeito”. Confira a transcrição do áudio:

“Meu partido, que é o PSL, que é o partido do presidente do País, apesar de que algumas pessoas não comungam com a ideia do presidente de trabalhar. O partido em si quer assumir a prefeitura de Santarém, querem tomar essa prefeitura, e isso é um estudo feito a nível nacional e estadual. Se bobear o PSL deve assumir em 2020 aqui, porque terá muito apoio, e agora há uma nova missão dentro do PSL de se unificar segmentos para que os segmentos possam tomar de conta do município. É um pedido pessoal meu, para o presidente estadual e nacional, que o segmento cultural, o folclore, tenha parte dentro desse trabalho. Eu iria conversar com cada coordenador, para que cada coordenador pudesse ser esse elo com a população santarena, porque nós somos muitos, e se tomássemos essa prefeitura, eu comungo da ideia que cada coordenador de Santarém deveria ser empregado dentro desse município, que a Secretaria de Cultura deveria ser nossa. Comungo dessa ideia, que além da Secretaria de Cultura, devíamos ter cada coordenador de grupo ou cada diretoria, se possível, empregado dentro do governo municipal, para que nós possamos ter uma vida melhor, pois trabalhamos de graça fazendo segurança, trabalhando com jovens, sendo psicólogo, sendo mãe, sendo pai e não recebemos nada.

Se pudéssemos empregar todos os coordenadores de grupos ou suas diretorias, ou aqueles brincantes – de repente o cara tem um emprego, aí botamos alguém do grupo – teríamos um seguimento mais forte, uma cultura mais forte e todo mundo estaria com seu emprego, com seu trabalho e nós nunca mais perderíamos eleição, porque só o folclore, se quiser, elege um prefeito”, afirma o vereador Jackson do Folclore.

REPERCUSSÃO

O áudio vazado do vereador não pegou bem entre muitos santarenos, que viram certo oportunismo do parlamentar em usar o nome do presidente para ganhar adeptos bolsonaristas, além de possivelmente estar oferecendo cargos em troca de votos.

“Como é que a pessoa com todas as características de vida dele ao invés de se valorizar, se presta a um papelão desses na Câmara?

O pior é propor cooptar lideranças dos grupos folclóricos como se fosse algo normal. Principalmente no cenário em que estamos onde o partido dele tem demonstrado a maior aversão à cultura. Acho triste e lamentável!”, comentou uma internauta.

No entanto, houve também aqueles que não viram nada de errado na fala do vereador, afirmando que ele acabou se expressando mal, não apenas quando fala em “tomar a prefeitura”, como também quando falou de membros de grupos folclóricos dentro da Secretária de Cultura.

“O ilustre Jackson Do Folclore é um lutador pelos irmãos do folclore. Escutei o material sob estudo. Na minha modesta opinião, ele apenas revela sentimento de tristeza pela realidade dos amigos que optam pelos movimentos culturais. No mais, sonhos. Aproveito o ensejo, para expressar solidariedade aos nossos guerreiros do folclore”, comenta outro internauta.

POSICIONAMENTO DO VEREADOR

Em sessão na Câmara dos Vereadores de Santarém, Jackson do Folclore emitiu sua versão oficial sobre o caso do áudio vazado. Segundo ele, o áudio é de novembro de 2018, quando Jair Bolsonaro ainda não havia ganhado as eleições, afirmando que alguém soltou a fala de forma a denegrir sua imagem, tendo em vista que tal áudio estaria fora de contexto.

“Hoje pela parte da manhã eu fui surpreendido com um áudio de novembro do ano passado, onde em uma reunião de Whatsapp, a gente, na forma de expressão, brincava que todos os donos de grupos – que são 500 em toda a região – deveriam ter um partido ou participar do que eu estava, como já vinha conversando com o presidente estadual, quando dizia que poderíamos juntar todos e teríamos condições até de ter um prefeito. Na forma de expressão falamos em tomar a prefeitura, porque é uma forma de se falar entre todos, em novembro”, afirma Jackson. Mais tarde, no mesmo dia, o parlamentar usou suas redes sociais para afirmar que o áudio foi editado e que procuraria as medidas cabíveis para encontrar quem fez isso. “Só quero dizer a você que editou meu áudio, juntando pedaços de vários momentos de meses diferentes e fazendo do jeito que quis, que agora vamos pra justiça. Só pra avisar”, afirma o vereador.

CORRUPÇÃO NA LEGISLAÇÃO

De acordo com a legislação brasileira, “corrupção eleitoral consiste em dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita”. Se for investigado por corrupção eleitoral, o vereador poderá sofrer penalidades como até mesmo quatro anos de prisão.

 

Por Michael Douglas

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