Coordenadora do CAPS II alerta para casos de suicídio em Santarém
No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo e é a segunda principal causa de morte entre indivíduos com faixa etária entre 15 e 29 anos. Visando ajudar a combater tal mal que assola a sociedade, foi criado o Setembro Amarelo, mês dedicado a ações – também realizadas em Santarém – de combate ao suicídio.
Ainda que, de acordo com a OMS, mundialmente os casos tenham reduzido em quase 10% entre 2010 e 2016 (último ano da pesquisa), no Brasil é diferente: as taxas aumentaram 7% nesse mesmo intervalo de tempo. Em Santarém, os números são bem menores, mas ainda sim assustadores ao se levar em consideração o tamanho da cidade e da população.
De acordo com Ellinger Almeida, coordenadora do Centro de Apoio Psicossocial II (CAPS II) de Santarém, mais de 30 casos de suicídio foram registrados em Santarém de janeiro até o mês de setembro. Ainda que tais números sejam extra-oficiais, o alerta se faz necessário, tendo em vista a necessidade de mostrar a todos os santarenos como o problema é grave e de ordem de saúde pública.
“Não temos (números oficiais), mas por fora fiquei sabendo que já houve 36 casos esse ano só aqui em Santarém. Infelizmente não temos tantos dados, sendo informações extra-oficiais”, comenta a Ellinger Almeida.
OBJETIVO DO CAPS II: Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades especializadas em saúde mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e persistente. Os centros oferecem um atendimento interdisciplinar, composto por uma equipe multiprofissional que reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, entre outros especialistas.
“O Caps II trabalha com pessoas com problemas mentais severos e persistentes, então precisamos, junto com a sociedade, fazer uma chamada, um alerta na prevenção contra o suicídio. Não recebemos aqui dados da pessoa que se suicidou, mas da que tenta se suicidar, e são várias. Quase todo dia temos recebido pessoas que tentam se suicidar, sendo a demanda muito grande entre os jovens”, afirma a coordenadora.
AÇÕES DO SETEMBRO AMARELO: A campanha ‘Setembro Amarelo’ iniciou como parceria entre o Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
O intuito é criar um período no ano em que a sociedade possa debater, ter conhecimento sobre o tema e alertar a população sobre a prevenção do ato – que segundo a OMS, em 90% dos casos de suicídios, eles podem ser prevenidos. Em Santarém, algumas ações estão sendo realizadas na tentativa de diminuir o número de suicídios na cidade e ajudar aqueles que por algum momento pensaram em tomar tal atitude ou até mesmo tentaram.
“Esse ano nos reunimos e decidimos fazer três situações pontuais. Primeiro precisamos entender esses fenômenos que chamamos de suicídio, então no dia 13 de setembro fizemos uma palestra para profissionais e estudantes da área da Saúde, principalmente para os que atendem no CAPS, porque precisamos estar nos atualizando para lidar com situações. A segunda parte da programação vai ser uma roda de conversa sobre saúde mental e o terceiro momento será uma atividade chamada de ‘CAPS na escola’ e a primeira será o Colégio São Francisco. Vamos conversar com os adolescentes sobre a saúde mental deles, a qualidade de vida e bem-estar, a partir disso vamos a várias escolas no decorrer do ano”, relata Ellinger Almeida.
JOVENS SÃO GRANDE NÚMERO: A Coordenadora também alerta que o perfil das pessoas que cometem suicídio também mudou. Se antigamente casos assim eram mais comuns a pessoas mais velhas, atualmente grande número de suicídios é de jovens – desde adolescentes aos adultos quase na faixa dos 30 anos.
“Dados da Organização Mundial de Saúde têm demonstrado que existem três grupos de pessoas que estão adoecendo, com depressão e podendo chegar até o suicídio. São jovens de 15 a 29 anos, jovens negros e invisivelmente os idosos a partir dos 70 anos. Esses três grupos são considerados de risco, temos que estar observando eles. Antigamente tínhamos no Caps pessoas com transtornos mentais que adoeciam e eram na maioria adultos, mas hoje estamos recebendo muitos adolescentes e até com tentativa de suicídio. A campanha do Setembro Amarelo vem fazer um alerta, uma chamada para a sociedade sobre a prevenção”, afirma.
SINTOMAS DA DEPRESSÃO E OUTROS TRANSTORNOS MENTAIS: Bipolaridade, ansiedade, depressão são alguns dos transtornos que mais contribuem para o suicídio. De acordo com a coordenadora do CAPS II, faz-se necessário também que as pessoas estejam atentas a possíveis sinais emitidos por amigos e familiares. Quanto mais cedo se perceber que alguém está com problemas de saúde mental, mais rápido e eficaz pode ser o tratamento.
“A pessoa que se isola; que deixa de frequentar a aula e o trabalho, que não quer comer ou até come demais, que começa de deixar de fazer as coisas que achava prazerosa tem que ser observada. Tem alguma coisa errada com ela, a família tem que buscar ajudá-la e ir atrás de um serviço profissional e o CAPS está aqui para isso”, ressalta Ellinger Almeida.
CONTINUIDADE DO SETEMBRO AMARELO: De acordo com a coordenadora, problemas mentais que possam resultar até mesmo em suicídio são agravados pelo uso de drogas. Outras causas também muito frequentes são traumas de infância, abusos e violências físicas e psicológicas. Muitas vezes a pessoa não consegue se desvencilhar do trauma, sofre e comete tal ato por não conseguir se livrar da dor. Por isso, segundo a psicóloga, é necessário que ações de combate ao suicídio também se estendam pelo restante do ano.
“Temos que lembrar que o Setembro Amarelo tem que ser todos os dias, não apenas neste mês. Os transtornos mentais são a segunda maior causa de adoecimento, deixando as pessoas incapacitadas para trabalhar, a depressão está se tornando a primeira causa. Então temos que ter esse olhar para a saúde mental”, finaliza a coordenadora Ellinger Almeida.