Artigo – A luta pela hegemonia pós-pandemia
Por Oswaldo Bezerra
Em uma reunião entre líderes das Américas, o ex-presidente venezuelano Hugo Chaves defendia que a América Latina precisa de um “Plano Marshall” para sair do subdesenvolvimento. O ex-presidente norte-americano Bush o contrapôs e afirmou: “Esqueçam o “Plano Marshal”, o que fez a América hegemônica foi a guerra”.
Esta característica guerreira dos norte-americanos pode ser preocupante. O motivo é que agora os EUA podem perder a hegemonia global, obtida após Segunda Guerra Mundial, para a China em um possível cenário pós-pandemia.
Recentemente, as tensões entre os Estados Unidos e o gigante asiático têm crescido, sendo alimentadas principalmente pelas acusações de que Pequim teve envolvimento na proliferação da COVID-19. O presidente Donald Trump atacou o governo chinês da manipulação da pandemia de corona vírus. Trump ameaçou “cortar todo o relacionamento” com a China.
“Estou muito decepcionado com a China”, disse Trump durante uma entrevista à Fox Business Network. A Fox é Para Trump o que é a SBT ou CNN Brasil para Bolsonaro, uma emissora de propaganda governamental, conhecido como “chapa branca”. “Pedimos para ajudar e eles (os chineses) e disseram não”, continuou o presidente, referindo-se à oferta de assistência dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças da cidade de Wuhan, atingida pelo vírus. “Eles não quiseram a nossa ajuda. E achei que estava tudo bem, porque eles deveriam saber o que estavam fazendo”.
Quando perguntado sobre qual ação ele tomaria contra a China, Trump respondeu: “Há muitas coisas que poderíamos fazer. Poderíamos interromper todo o relacionamento”. Citando o déficit comercial dos EUA com a China, Trump disse que o rompimento dos laços diplomáticos com Pequim “economizaria 500 bilhões de dólares”.
O Partido Republicano está apostando em culpar a China pelo surto de corona vírus. De acordo com um memorando de estratégia divulgado no mês passado, as campanhas do Partido Republicano nos EUA deveriam “atacar a China” e pintar seus rivais democratas como “brandos” com a superpotência do leste asiático. Como tal, as mensagens de Trump lembram seus frequentes ataques à China durante sua campanha de 2016. Será se o partido republicano também pensa em culpar os EUA pelo surgimento em seu solo da AIDS, da gripe espanhola e pagar indenizações a outros países?
No entanto, dois dias antes de o presidente falar para a Fox, os importadores chineses compraram quase 250.000 toneladas de soja nos EUA. Foi o acordo comercial da Fase Um assinado em janeiro. Pelo acordo, a China prometeu comprar pelo menos US$ 200 bilhões em produtos norte-americanos nos próximos dois anos, em troca do relaxamento das tarifas sobre as exportações chinesas para os EUA.
Quando o acordo foi assinado, Trump elogiou esses compromissos de compra como “uma vitória sólida para os agricultores e fabricantes norte-americanos”. Com as autoridades chinesas a considerar em desistir do acordo e negociar um novo, Trump reiterou na quinta-feira que não renegociaria outro acordo.
O problema é que a economia norte-americana está desmoronando. O colapso econômico dos EUA é tão brutal que a perda da hegemonia global se tornou plausível. Com uma força armada maior do que a de todos os outros países do mundo juntos a reação bélica também parece provável. Por enquanto, as compras chinesas de produtos agrícolas mantém o relacionamento, apesar de difícil. Mais ogivas nucleares também podem esfriar a cabeça de um brigão.
RG 15 / O Impacto