Artigo – Principais países capitalistas do mundo se tornaram de Esquerda?

Por Oswaldo Bezerra

Quando milhares de empresas em todo o mundo enfrentam falência, mesmo os inimigos mais ferrenhos da intervenção estatal se rendem a possibilidade da nacionalização de empresas privadas falidas, total ou parcialmente. Acontece isso hoje com governos que não são esquerdistas. São os líderes das principais potências mundiais como a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o Presidente Francês Emmanuel Macron, o Primeiro-Ministro Italiano Giuseppe Conti, o Primeiro-Ministro Britânico Boris Johnson e Republicano Donald Trump nos EUA.

A questão é levantada diante dos planos massivos de resgate dos governos da Europa e dos EUA para suas principais empresas, diante das possibilidades muito difíceis de que eles possam pagar os empréstimos, posteriormente. Portanto, os governos discutem se devem obter parte de suas ações.

O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, disse que o Estado deve intervir com todos os meios à sua disposição, pode ​​ser capitalização, tomar ações, e pode até usar o termo nacionalização, se necessário. A mesma ideia foi expressa nos EUA por Larry Kudlow, consultor da Casa Branca, que em março sugeriu que se deveria dar ajuda participando das ações.

Na Alemanha, a Lufthansa acabou de fechar um pacote de auxílio estatal de US$ 9,9 bilhões, que daria ao governo 20% do controle da empresa, trazendo a situação de 20 anos atrás, quando a empresa foi privatizada.

Um grupo de economistas alemães do Instituto Kiel para a Economia Mundial declararou que, se não for possível impedir a severidade da insolvência corporativa, será necessário que o Estado participe das ações das empresas. No caso da grandes empresas de transporte alemãs tais medidas são inevitáveis.

Outroa países europeus seguem o mesmo rumo. Na Itália, o governo estatizará a Alitalia em junho. A empresa está sob administração do Estado desde 2017, mas a partir de junho o governo terá 100% de controle. A Norwegian Air concluiu um contrato com seu governo para receber um empréstimo em troca de ações da empresa. Em Portugal, discute-se a nacionalização da Tap Air e, na Bélgica, discute-se quanto das ações serão do Estado em troca do resgate da Brussels Airlines.

Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, a United Airlines recebeu 5 bilhões de dólares do governo para pagamento de salários. A maior parte deste dinheiro é a fundo perdido. O governo receberá o direito de comprar 4,6 milhões de ações.

Ainda falando do império norte-americano, no Reino Unido, o Chanceler da Exchequer Rishi Sunak está preparando o Birch Project, um plano ambicioso de resgate de empresas em dificuldade, como a Jaguar Land Rover, a Tata Steel e grandes empresas de aviação. Sunak está sendo pressionado a considerar um plano de médio prazo mais radical para o Estado se tornar proprietário parcial de empresas, a fim de evitar que colapsem sob uma montanha de dívidas. O valor dos empréstimos garantidos pelo Estado poderia ser superior a 100 bilhões de libras e muitas empresas não teriam condições de pagar essas dívidas.

Essa discussão está bem avançada na Europa e nos EUA, onde a pós-pandemia está revelando a magnitude da destruição econômica com uma série de grandes empresas falidas, mas a questão mal chegou à América Latina, onde o pico da doença ainda não atingiu o topo. No Brasil, onde já somos o epicentro da pandemia no mundo, o manejo econômico ainda é de cunho estritamente neoliberal.

Na reunião ministerial que ficou conhecida como a “Reunião do Cabaré” o ministro da economia afirmava que precisava vender logo a “porra do Banco do Brasil”, demonstando o direcionamento de vender tudo rápido e a preço de bananas. A pressa na privatização deve ser para que, o loteamaneto de nossas empresas, seja feita antes que a população perceba que estamos indo na contra-mão do mundo.

Na Argentina, recém saída de um neoliberalimso que destruiu economicamente o país, afirmações como a da vice-governadora Fernanda Vallejos causam alvoroço. Ela comentou sobre auxílios estatais as empresas só seriam razoáveis se feito em troca de uma participação no capital das empresas. O escândalo foi imediato. Dois ministros do governo peronista de Alberto Fernández afirmaram que não seria uma má ideia, mas, por enquanto, não há apoio oficial à proposta. No entanto, a simples menção da palavra nacionalização serviu para levantar, imediatamente, vozes alertando sobre o perigoso papel intervencionista do Estado.

Nacionalizações como recurso para salvar empresas em troca de ações não é socialista, comunista, populista ou anarquista: é o que os governos mais importantes do mundo, de todas as bandeiras políticas, estão fazendo e fizeram muitas vezes no último século para resgatar suas economias em face de crises agudas como essa.

Historicamente os países fazem isto. Em 1º de março deste ano, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson nacionalizou a maioria das linhas ferroviárias inglesas. Foram duas estatizações em dois anos. Isso não é novo na Inglaterra, Em 1971 outro governo conservador nacionalizou a Rolls-Royce. A Suécia nacionalizou os bancos nos anos 90, em um modelo que muitos governos elogiaram e copiaram durante a crise de 2008-2009. Há dez anos, Berlim comprou 15% do segundo maior banco do país, o Commerzbank.

Nos EUA, durante a crise de 2008, o Programa Financeiro de Ajuda aos Negócios (TARP) permitiu ao Estado tomar ações de inúmeras empresas, o que rendeu, por mexemplo, o apelido para a General Motors de “Government Motors”, uma vez que o estado passou a deter 61% das ações em 2009.

O debate sobre nacionalizações se acirrou no século em que o capitalismo quase desapareceu. Foi após o triunfo da Revolução Russa, em 1917, e a ascensão da União Soviética com sua economia planejada. Enquanto o mundo capitalista estava mergulhado na terrível crise de 1929, a URSS alcançou um impressionante desenvolvimento econômico na década de 1930.

É por isso que, após o desastre da Segunda Guerra Mundial, quando a Europa ficou em ruínas e os governos temeram que seus povos seguissem o exemplo da URSS, muitos Estados recorreram às nacionalizações em massa e aumento de direitos trabalhistas como último recurso.

Na França, bancos, fábricas, minas de carvão e, em particular, a montadora Renault, cujo proprietário colaborou com o fascismo, foram nacionalizadas. O livro Capital de 1950, mostrava que os ativos públicos franceses e alemães eram equivalentes de 25 a 30% do patrimônio nacional. Nos setores industrial e financeiro, a participação do Estado francês excedeu 50% entre 1950 e 1970. Isso mudou mais tarde, durante os períodos de liberalismo desenfreado das décadas de 1980 e 1990, quando as privatizações diminuíram novamente o peso do Estado na economia.

Hoje Merkel, Macron, Monti, Johnson e Trump, nenhum deles é comunista ou socialista, mas caminham para as nacionalizações parciais para salvar empresas. Eles sabem da gravidade mortal da crise que o capitalismo está sofrendo, comparável às duas guerras mundiais ou a grande depressão de 1929.

Claro que hoje não apenas se discute a participação de ações em troca de empréstimos de resgate, mas também se fala da possibilidade de que essas empresas ou partes importantes delas permaneçam como propriedade do Estado, por meio de fundos soberanos.

O ex-ministro do Tesouro britânico, Jim O’Neill o criador do termo BRIC, propôs a criação de um fundo estatal para a participação de empresas. O modelo a seguir seria algo como a Corporação Financeira Industrial e Comercial criada após a Segunda Guerra Mundial. Seria algo como o capitalismo de Estado implementado pelo partico comunista da China.

A proposta de participar das ações de algumas empresas em troca de auxílios estatais é um recurso para salvá-las. O que assusta é que nós brasileiros continuemos a seguir a política neoliberal de Paulo Guedes, a do vende tudo, justamente logo em seguida de termos sofrido a maior desindustrialização, da história dos países, ocorrida em função da operação Lava Jato.

RG15/O Impacto

2 comentários em “Artigo – Principais países capitalistas do mundo se tornaram de Esquerda?

  • 1 de abril de 2022 em 10:37
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    O argumento estava indo muito bem, pois no Brasil o Estado sempre sustentou as grandes empresas, com isençoes, estímulos e emprétimos com baixas taxas de juros, o sistema bancário suga toda nossa riqueza financiando a dívida pública, mas evocar a União Sóviética, uma barbárie, um desastre que qualquer comunista idôneo derveria repudiar pelas atrocidades e fracasso que produziu, a China evoluiu pegou o útil dos dois lados e se tornará a maior potência global, mas será que por não ser européia, um produto branco, querendo ou não as idéias comunista é um produto de exportação do imperialismo europeu, mas deixa pra lá, os fins justificam os meios, não há uma independência, nem financeira, nem intelectual brasileira.

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  • 29 de maio de 2020 em 23:28
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    KKKKKKK…vai sim, esquerda de araque, porque marxista não, haja vista que ninguém passa fome, não há ditadores perpétuos, a imprensa é livre, as pessoas são livres para ir e vir, as estatais não são cabides de emprego, com prejuízos monumentais, há eleições democráticas e o mercado é neoliberal, pois o autêntico marxismo provou e comprovou seu fracasso, já havendo proibição de funcionamento de partido comunista em vários países da Europa, principalmente naqueles que já estiveram sob o tacão comunista, quando da nefasta União Soviética !

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