Artigo – Je ne parle pas français (Eu não falo francês)

Por Oswaldo Bezerra

As línguas europeias são as que mais se destacam no mundo devido à colonização. Uma delas é a língua universal, pois é falada internacionalmente, e é aprendida por muitos como segunda língua. É o inglês, com mais de 1,1 bilhões entre falantes nativos e segunda língua.

Foi por conta justamente do uso do inglês que se criou uma polêmica na União Europeia. Com a saída da Grã-Bretanha não restaram países falantes de inglês nesta comunidade. Por isso, jornalistas franceses reclamaram à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que o executivo está usando muito inglês em suas comunicações oficiais divulgadas à imprensa.

A Associação de Jornalistas Europeus disse em uma carta recente, aos chefes do bloco, que o uso crescente do inglês dá uma “vantagem competitiva” à imprensa anglicana.

Os líderes foram lembrados de que o uso de várias línguas europeias, na comunicação de qualquer instituição da União Europeia, é uma “obrigação legal”, consagrada nos tratados fundadores, de acordo com um relatório do Euronews.

A carta também foi dirigida ao presidente do Conselho, Charles Michel, e é assinada pelo jornalista Nicolas Gros Verheyde. Os jornalistas citam o exemplo de comunicações sobre o pacto de migração, recentemente proposto pela UE disponíveis apenas em inglês.

A associação disse na carta que este caso ilustra um hábito desde que Von der Leyen assumiu como chefe da Comissão, de acordo com uma reportagem da Euractive.

A carta afirma: “Nenhuma versão em qualquer outra língua de trabalho (francês ou alemão) estava disponível, mais de duas horas após a comunicação oficial. No final do dia, apenas o comunicado de imprensa de duas páginas estava disponível em francês.

O uso de várias línguas não é apenas uma obrigação legal ao abrigo dos tratados da UE, mas “tem um âmbito político e prático precioso”, escreveram os jornalistas. O Tratado da UE estabeleceu como regra a comunicação oficial em todas as línguas faladas na Europa.

As traduções não são uma faculdade das instituições europeias, mas uma obrigação que devem ser respeitadas pois, caso contrário, poderia resultar até na anulação das decisões tomadas.

A denúncia observou que países como a Rússia, Estados Unidos e China disponibilizam suas comunicações em outros idiomas, incluindo o francês, espanhol e alemão.

A associação dos jornalistas disse que, na prática, a comunicação em apenas um idioma cria a possibilidade de desinformação. Além disso, com um único idioma, é dada vantagem competitiva à imprensa de língua inglesa, que não precisa traduzir e pode simplesmente copiar e colar trechos.

A imprensa de língua francesa, e outras, são obrigadas a traduzir e, ao mesmo tempo, interpretar todos os comentários, bem como os termos técnicos. Há uma distorção clara da concorrência, contrária aos tratados europeus.

Trabalhei em uma gigante empresa francesa, por muitos anos. Mesmo dentro desta empresa, a língua oficial era o inglês. A bela língua francesa já foi a segunda língua em Belém, nos tempos da riqueza da borracha. Até nos anos 90, era comum ouvir pessoas nas periferias de Belém falando francês. Eram aquelas pessoas que trabalhavam sazonalmente na Guiana Francesa.

Mesmo com toda esta ligação da língua francesa com minha cidade, e eu tendo trabalhado em uma empresa francesa, nunca aprendi o idioma. Isso quase me colocou em apuros em uma viagem que fiz com conexão em Paris. Estava sentado em um restaurante quando um funcionário veio até mim e falou em bom francês: “O senhor precisa sair do restaurante, pois há uma ameaça de bomba aqui dentro”.

Não entendi nada e continuei sentado na mesa. Até que outro funcionário, muito chateado já que eles detestam falar em inglês me contou, na língua que eles não gostam o que estava acontecendo. Corri para fora do restaurante, e vi uns militares entrando, pegando uma bolsa que foi explodida no estacionamento. Como diz o título do artigo “eu não falo francês”, e isso poderia ter me custado à vida.

RG 15 / O Impacto

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