Artigo – Do atrito chispam faíscas; das faíscas vem o fogo

Por Oswaldo Bezerra

Como chama que cresce rapidamente em galhos secos, um discurso anti Chino passou a ser a bola da vez nas redes sociais. Com efeito, a população em geral passou conversar mais sobre a China com um tempero de ódio. A coincidência deste tipo atitude também por membros dos governos do Brasil e dos Estados Unidos denota uma coordenação.

Tudo ganha uma escala ainda maior, e preocupante, quando o discurso sai da boca de nosso próprio presidente da República. Isso tudo ocorrendo mesmo com o alerta dos principais sinólogos (estudiosos sobre a China) brasileiros, de que o momento seria importante o fortalecimento da relação bilateral, e não a confrontação. Quando alguém não aprende por si só a vida se incube. Que diga isso a Austrália.

O país da “Matilda” poderia muito bem servir de exemplo para que não sigamos o mesmo erro. A Austrália descobriu que ser um auto proclamado “guarda-costas” dos EUA tem um preço alto. Neste caso, foi sua economia, afundando em uma recessão pela primeira vez em mais de 30 anos. Não foi a pandemia? Não há engano que a proibição ou restrição das exportações australianas pela China a exacerbou.

A China é o maior parceiro comercial do país dos cangurus. Além disso, este parceiro comercial é a maior fonte de estudantes e turistas internacionais que acabam por levar muitas divisas ao país.

A China compra mais de 70% dos produtos australianos. Enviou mais de 100.000 alunos para as Universidades australianas e um grande número de turistas. O impacto econômico sobre o povo é enorme. Mineradores, fazendeiros e Universidades estão tentando se recuperar da guerra comercial com a China, mas cada vez mais estressados financeiramente.

Os problemas econômicos dos australianos vão piorar. A proibição de importação da China rechaça os investimentos chineses. O pior ainda está por vir, a menos que haja uma melhora na relação China-Austrália. A última proibição chinesa de produtos australianos incluía lagosta, madeira, cobre, açúcar, e minério de ferro, que são os maiores produtos de exportação da Austrália para a China.

A Marinha australiana se juntou ao exercício militar de Malabar envolvendo os EUA, Japão e Índia na Baía de Bengala, na última terça-feira. Foi para enviar uma mensagem à China. Os australianos não vão aliviar a guerra comercial China-Austrália. O exercício militar é mais espetacular do que substancial, porque nenhum dos membros do Diálogo Quadrilateral de Segurança deseja realmente uma guerra contra o gigante asiático, e por boas razões.

Não se trata apenas do fato da China ser seu maior ou principal parceiro comercial de todos estes países, mas do fato de ser uma potência nuclear, capaz de levar a guerra aos quatro países do Quad. Conflito militar contra a China é levar à destruição mútua garantida.

A China não precisa realmente da Austrália, ela pode substituir os produtos australianos por produtos de outros países. Em vez de comer lagostas australianas, os chineses podem comprá-las do Canadá ou dos Estados Unidos. O minério de ferro, carvão, gás natural e outros recursos, que a Austrália vende para a China, estão disponíveis em outras partes do mundo. Os produtos não australianos podem não ter a mesma qualidade ou serem mais caros, não importa.

O mesmo não pode ser dito da Austrália, que é altamente dependente das exportações, turismo e estudantes internacionais para sustentar o crescimento econômico. Além da China, nenhum país pode ou será capaz de comprar tantos produtos e enviar tantos estudantes e turistas para a Austrália como o país comunista.

Muitos países com “mentalidade semelhante” estão em situação ruim ou pior que a Austrália. Todos projetados para afundar em uma recessão, nunca vista desde a Grande Depressão dos anos 1930, estimada entre 5% (EUA) e 11 % (Índia) pelo Fundo Monetário Internacional.

Além disso, a UE, o Canadá, a Índia, o Japão e os EUA estão atolados em questões da Covid-19, exigindo bloqueios de longo prazo, exacerbando suas recessões induzidas por políticas pandêmicas erradas.

O manuseio político incorreto da pandemia resultou na segunda ou terceira onda do surto, forçando os governos a impor medidas restritivas de bloqueio, como fechar empresas por períodos mais longos. O mal-estar econômico dos Estados Unidos, por exemplo, foi o resultado das políticas tarifárias do presidente Donald Trump e da reabertura prematura da economia.

Já que outras democracias não serão capazes de ajudar muito a Austrália, a China é o único país que poderia incluir a Austrália no “continente da sorte” novamente. A estratégia da demanda doméstica como o motor do crescimento pode levar a importações maciças de commodities. Por exemplo, construir centros urbanos, estradas e ferrovias para conectá-los às cidades existentes. Isso requer quantidades enormes ​​de ferro e outros materiais de construção.

Infelizmente, a Austrália escolheu brincar com fogo, provocando sem necessidade a China com “notícias falsas” e sendo um seguidor cego de seus “primos” norte-americanos. Por exemplo, o governo australiano repetiu o boato malicioso e não comprovado de Trump de que o Covid-19 foi fabricado na China que o espalhou pelo mundo, exigindo que a Organização Mundial de Saúde investigasse a alegação.

No entanto, os estudos científicos sugerem que, embora o corona vírus que levou ao Covid-19 tenha surgido pela primeira vez na China, ele pode não ter se originado no país. Além disso, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos revelaram que algumas mortes de setembro a dezembro de 2019, relacionadas à gripe, foram na verdade causadas por Covid-19.

O próprio primeiro-ministro australiano Scott Morrison disse que a maioria das infecções em seu país foi importada da Europa e dos Estados Unidos. Por último, mas não menos importante, o Covid-19 foi encontrado em um esgoto de Barcelona já em março de 2019.

Para colocar lenha na fogueira, alguns políticos, meios de comunicação e grupos de fake news norte-americanos recorreram à desinformação e comentários racistas (como na postagem do nosso ex-ministro da educação) para promover a retórica do “perigo amarelo” na Austrália.

Estudantes e acadêmicos chineses no país foram considerados espiões, a menos que se provasse o contrário, um caso grave de ataque a inocência presumida. Qualquer um australiano que dissesse algo positivo sobre a China era imediatamente massacrado pela mídia e redes sociais do país.

Com esse cenário, a Austrália não deveria se surpreender que estivesse dentro de uma grande fogueira de São João fora de época. O país foi queimado porque seus políticos, especialistas e mídia anti-China brincaram com fogo. É hora de entrar um adulto na sala e barrar a perigosa brincadeira incendiária.

Vendo esta fumaça ao longo, nosso governo tupiniquim precisa lembrar que o comércio sino-brasileiro não para de crescer. O saldo da balança comercial só em julho foi de US$ 8,1 bilhões, a maior na série histórica do mês. O superávit acumulado nos sete primeiros meses do ano atingiu US$ 30 bilhões.

A pergunta de 8 bilhões de dólares é, vamos manter este superávit ou, como fizeram os australianos, vamos deixar queimar nossa economia, do mesmo modo que nosso ministro do meio ambiente assim o fez com nossas florestas?

RG 15 / O Impacto

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