Artigo – Notícias falsas, notas falsas, a grande ameaça para a nossa sociedade
Por Oswaldo Bezerra
A Lava Jato tentou prender o Lula por roubar um Cristo. Não é piada. Havia um crucifixo no gabinete presidencial que sumiu após a saída dele. Uma fonte fez Dallagnol e Moro mobilizarem o Ministério Público, a Polícia Federal, com movimentações de agentes na rua. Foi uma operação que gastou muito verba pública no início de 2016. Acharam o crucifixo no cofre da esposa do Lula. Com isso, houve intensa comemoração de Dallagnol e Moro pois, prenderiam o Lula em flagrante.
Tudo foi por água abaixo. Descobriram que a fonte que serviu de base para a investigação não passava de uma notícia falsa, confirmado por um dos chefões da Lava Jato. Só depois de gasto milionário e abertura de cofres de bancos, Dallagnol e Moro descobriram a furada em que entraram. Essa estória você pode conferir no vídeo do Canal Meteoro abaixo:
Isso prova como notícia falsa pode enganar muita gente que se acha esperta. Quase nenhum investimento de capital é necessário para fofoca, já que as plataformas são inclinadas para informações falsas.
Plataformas de internet que distribuem notícias falsas ganham visibilidade com os algoritmos das redes sociais. E os donos passam a ganhar dinheiro. Os recursos para as plataformas de notícias consolidadamente verdadeiras e sólidas perdem.
No entanto, notícia sólida é o terreno necessário para decisões e opiniões sólidas e contribuem verdadeiramente para as escolhas do governo. A situação deve ser corrigida, ou a base da democracia será arruinada e isso dará início a uma tirania com gabinetes de ódio informando a população.
A questão das notícias falsas é tão antiga quanto a filosofia. Pensadores gregos como Platão se opuseram ao jogo de palavras dos sofistas, o que chamaríamos de maus advogados dos velhos tempos que transmitiram o termo sofisma. A filosofia antiga chinesa também se opôs à escola de nomes, que notoriamente tentava argumentar notícias falsas.
No entanto, as notícias falsas modernas estão objetivamente em uma escala muito diferente e criam um ambiente e uma economia totalmente diferentes. Grandes portais como Twitter, Facebook e gigantescos mecanismos de busca como Google, ou Bing juntam boa filosofia e sofismo em uma confusão descuidada.
Todo estudante de economia sabe o que perturba fundamentalmente a ordem econômica, pois o dinheiro ruim expulsa o dinheiro bom. Nesse caso, as notícias falsas expulsam as boas notícias. Isso não é apenas teoria; é uma prática diária.
É clara a diferença no número de acessos em uma notícia sem sentido de um gato nascido com três cabeças, em comparação com os acessos de uma longa história analítica publicada por, digamos, The New York Review of Books ou do The London Review of Books .
Por serem convenientes e fáceis, publicações sofisticadas estão nas mesmas plataformas em que uma criança cria seu último bate-papo. A plataforma deixou de ser um brinquedo; fornece de fato um serviço público, como água ou eletricidade.
No entanto, como a maioria dos sucessos e credibilidade acaba emprestada às histórias mais estranhas ao redor, há um curto-circuito. Não existe uma plataforma de distribuição que forneça, separadamente, uma boa leitura e outra que forneça uma má leitura.
Eles estão todos no mesmo nível, embora não sejam iguais. É difícil dizer qual é qual, e notícias ruins e falsas contaminam notícias boas e verdadeiras. O dano para uma boa informação, portanto para a democracia é estrutural.
O bom jornalismo precisa de grande cultura e anos de experiência além de padrões éticos para distinguir informações verdadeiras. Fofocas sensacionalistas não precisam de nada disso muito menos padrões éticos. Aquele que precisa de um grande investimento de capital é o bom jornalismo, mas acaba recebendo uma fração do que precisa.
O recurso do bom jornalismo migrou para fake news, contribuindo para um declínio geral no nível de informação. No Brasil, por exemplo, está ocorrendo um brutal desemprego para jornalistas além de salários mais baixos. Hoje poucos leitores sabem diferenciar o que é e o que não é jornalismo.
Quase nenhum investimento de capital é necessário para fofocas. O campo de jogo está terrivelmente inclinado para informações falsas. Acessos significam anúncios e certas informações conquistam leitores.
Menos pessoas leem jornais físicos e mais pessoas leem informações da Internet porque é muito mais conveniente. O preço da conveniência dificulta saber o que tem valor e o que não tem.
Os regimes autoritários podem resolver esse problema proibindo as más notícias? Sim no entanto ter o poder de estabelecer boas notícias é poder abusar dela. Imagine o gabinete do ódio como a única forma de notícia.
Por outro lado, nas democracias a falta de controle no mercado da informação há perda de padrões éticos e culturais. Esta tendência matará a democracia como a conhecemos.
Aqueles que compram o The Economist, o Financial Times, o Jornal O Impacto são, por muitos motivos, mais importantes do que aqueles que apenas leem os tweets. O mercado publicitário reconhece essas diferenças. Por isso, as plataformas devem fazer diferença entre fofoca e notícia, embora superficialmente possam parecer semelhantes, assim como dinheiro bom e dinheiro ruim.
A China é extremamente sensível ao tema de notícias falsas, portanto impõe-lhe o controle do Estado, que também pode funcionar como barreira de entrada contra verdades inconvenientes.
Podemos não gostar da solução chinesa, mas alguns dos problemas que a China levanta são reais. Caso as democracias não os abordarem, elas apenas darão justificativa ao controle estatal das notícias.
A dupla circulação de dinheiro bom e ruim é insustentável por muito tempo, assim como a dupla circulação de verdadeiras e falsas notícias. Eventualmente, o estado terá que intervir. A ação do Estado será o fim da liberdade e, eventualmente, os Googles e Facebooks deste mundo seriam colocados sob controle estatal, como o Alibaba de Jack Ma na China.
RG 15 / O Impacto