Artigo – Nazareno Nonato Ferreira, o pacificador

Por Oswaldo Bezerra

Na foto do título do artigo podemos observar uma reunião, em 1970, dos vereadores em Capitão Poço-PA. Na reunião há a presença de um único homem negro. Anos antes ele migrara para a cidade com uma mão à frente e outra atrás. Em pouco tempo se estabeleceu como importante figura naquela sociedade e atingiu um feito social histórico.

Seu nome era Nazareno Nonato Ferreira. Ele nasceu na localidade de Inhangapi-PA, em 1909. Era filho de negros escravizados. Após se casar foi morar em uma comunidade conhecida como Fronteira, nos arredores de Capanema-PA. Trabalhava em uma pedreira.

A pedreira pertencia a um poderoso fazendeiro da região. Nazareno teve um desentendimento com o administrador da fazenda. Ele foi expulso da comunidade da fazenda, tendo de sair de sua casa junto com sua mulher e filha, e esta proibida de estudar na escola comunitária.

Após a expulsão, o administrador José Lino não se deu por satisfeito. Ele juntou pistoleiros e seguiu até a nova moradia do Nazareno para queimar a residência e dar cabo de toda a família. Nazareno foi avisado, mas preferiu não arredar o pé de sua nova casa e enfrentar o inimigo, cara a cara.

Como por milagre, no meio do caminho o administrador sentiu uma forte dor abdominal. Ele teve de voltar pra casa e ficou acamado. O problema era que não havia profissional de saúde em quilômetros dali.

Na verdade, toda aquela região era atendida justamente pelo Nazareno Nonato Ferreira que atuava como enfermeiro. Depois de relutar, José Lino não aguentando mais tanta dor, mandou chamar o Nazareno.

Nazareno foi advertido que podia ser uma armadilha. Corajoso como era resolveu ir assim mesmo. Chegando lá tratou do administrador aliviando suas dores.

Nazareno resolveu partir para outra comunidade que estava crescendo as margens do igarapé Capitão Poço. No ano de 1953 já era uma comunidade grande.

Ao chegar lá um empresário do ramo de farmácias lhe propôs uma sociedade. Assim ele começou a trabalhar com farmácia ao mesmo tempo em que atuava como um “médico” na carente região.

No início dos anos 60, a cidade de Capitão Poço foi promovida a qualidade de município. Naquela época a região atraía cada vez mais nordestinos devido à facilidade de obter terras para a agricultura. Deste intenso fluxo começou um problema terrível, a rivalidade entre as famílias nordestinas.

Desta rivalidade se desataram muitos conflitos. Bastava um rapaz se enamorar por uma moça da família errada que sangue banhava aquela porção de terra do nordeste paraense. As famílias cada vez se armavam mais. Quanto mais se armavam mais sangue corria em vinganças sem fim. Todo dia vários assassinatos por arma de fogo eram cometidos.

Foi uma época onde os delegados de Polícia não possuíam uma carteira funcional de identificação. O que os identificava era a ostentação de uma estrela de ouro no colarinho. Eles eram nomeados pelo governador do Estado e não recebiam qualquer treinamento para assumirem os cargos.

Como o mais valente da região era o Nazareno, ele recebeu a estrela de ouro. O plano dele para acabar com os assassinatos foi o desarmamento. Não havia na época a criminalidade comum como roubos e assaltos. Também ainda não havia problemas com grileiros. Era um tempo em que se podia dormir com as janelas abertas. Para que ter armas? Concluiu Nazareno.

Assim, o Nazareno fez buscas nas residências e encheu uma enorme caixa com armas de fogo que guardava debaixo de sua cama. Até os caixeiros viajantes quando chegavam à cidade eram obrigados a entregar as armas e só as tinham de volta quando iam embora.

Foi assim que Nazareno reduziu o número de assassinatos para zero. Ficou tão respeitado e popular que se tornou o político mais amado da região. Era o único negro na câmara de vereadores e lá ele era o presidente.

O dono da fazenda de onde ele foi expulso foi ao seu encontro pedir desculpas pelo acontecido. Ele comunicou ao Nazareno que havia demitido o administrador da fazenda e que ele poderia voltar quando quisesse.

Passou pela vida e deixou sua marca como empresário, administrador do mercado municipal, delegado, agente de saúde e político. Hoje na cidade de Capitão Poço você pode passar pela Travessa Nazareno Nonato Ferreira e saber o que este nome significou para a região.

RG 15 / O Impacto

2 comentários em “Artigo – Nazareno Nonato Ferreira, o pacificador

  • 8 de junho de 2021 em 11:34
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    Esse sr. NAZARENO ERA MEU AVÓ AINDA TIVE A SORTE DE CONHECER O MESMO POXA MAIS ELE SÓ QUE NAO TIVE A OPORTUNIDADE DE CONHECER MEUS TIOS
    LUCIVALDO
    LUNALVA
    tive noticias que eles moram em Belém

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