Artigo – A era do próprio umbigo

Por Oswaldo Bezerra

Vivemos a era “do olhar para o próprio umbigo”. Isso é agora uma característica primeira dos “neo ativistas modernos” gostam de se ver como os herdeiros de Gandhi, Malkon X, Nelson Mandela, mas esses poseurs se preocupam muito mais com curtidas no Instagram, ou YouTube, do que com qualquer tipo de justiça de rápida que afirmam defender.

E isso tem dado votos. Muitos políticos preparados estão perdendo vagas em assembleias para jovens youtbers campeões de “like”. Sãos os “millennials e pós-millennials” que definem e impulsionam grande parte do debate político de hoje. Através de suas curtidas também definem que vai ser rico, ou não. Vimos uma destas pessoas, há poucos dias, campeões de “likes” se atirar de uma sacada e morrer tristemente em um hotel.

Aqui em fortaleza, um destes campeões de “likes” postava vídeos de depilação anal. Perto das eleições concentrou seus vídeos em notícias falsas para parecer bastante preocupado com política. Resultado, foi o vereador mais votado de Fortaleza.

Despreparado, tentou fazer do plenário, sempre com um celular na mão gravando vídeos para as redes sociais, fazer sérias acusações contra opositores. Foi condenado por isso, só não perdeu o mandando pois, seu talento para ganhar votos fez com que houvesse um conchavo para salvá-lo.

Quem se lembra dos abolicionistas 2 séculos atrás. Quem se lembra dos trabalhadores no início do século passado lutando por direitos trabalhistas mínimos? Dê uma olhada no sul dos Estados Unidos de 1961. Arriscaram suas próprias vidas para lutar pelo fim da injustiça. Rapazes e moças de origens variadas sofreram e sangraram por sua causa. Mais importantes ainda, eles venceram a luta.

Hoje, seus descendentes com sangue de barata não arriscariam nem perder a data de uma prova de meio de semestre ou perder a chance de acompanhar a série do Netflix. Pior ainda, os objetivos declarados do dia, como a mencionada “interrupção do ódio”, são tão vagos que são impossíveis de realizar de qualquer forma reconhecível. Em vez disso, os fins que os ativistas de hoje afirmam buscar são apenas os meios de colocá-los na frente das câmeras dos smartphones. O negócio é gerar conteúdo.

Essas cópias finas dos heróis dos direitos civis de ontem querem os olhos do mundo sobre si mesmos primeiro, deixando a própria causa para trás. É a jornada da aparição no buscador de holofotes das redes sociais. Como eles carregam seus sinais de protesto mal-acabados, é difícil acreditar que muitos deles investem seu tempo trabalhando por qualquer causa. Seus propósitos são trabalhar horas chamando a atenção para sua compaixão generosa de lives.

Pode-se dizer que não há mal nenhum se os jovens hipócritas quiserem brincar de lutador da liberdade fictício por alguns dias. Se eles procuram se apresentar online como um defensor da justiça por meio da mídia social, eles têm o direito de fazê-lo. No entanto, o custo em termos sociopolíticos vai ser enorme.

Uma vez que as causas são predominantemente para a autopromoção e carecem de compromisso emocional ou psicológico verdadeiro, não há energia para motivá-las. Os “egomaníacos” exploram os eventos atuais para garantir a contagem de visualização que os auto-engrandecem. Eles precisam de tempo para definir com sua sensibilidade inspiradora, antes de perambular por qualquer causa célebre que garantirá novos seguidores no Instagram.

O ciclo de notícias também contribui para essa sucessão de agendas frouxas. Por um tempo, uma dada crise ou tragédia nacional, como a chacina do jacarezinho aumentará a audiência, incentivará cliques e venderá jornais. Com uma pequena ajuda de redes politicamente polarizadas e de programas de rádio, o pote de receitas de notícias ganha o rebuliço adequado. No momento em que esses relatórios param de estimular as pessoas o suficiente para investir em uma determinada história, é hora de passar para outra coisa. No final das contas nada mudou. Nada foi realizado. É simplesmente seguir o fluxo do próximo assunto que bomba.

O resultado é uma atmosfera de manifestações passageiras mascaradas como causa política. Uma vez que o caminho de menor resistência insiste que é mais fácil fingir uma ação significativa do que dedicar o tempo, o sacrifício e o risco de se envolver genuinamente, os delicados e competentes jovens de hoje dançam de acordo com a melodia até que se cansem e partam para a próxima confusão.

Qualquer entidade que esteja realmente querendo a promoção da paz ou do progresso deve estar muito atenta a todos esses cosplays de justiça social temporária. Eles sabem que não há nenhum personagem envolvido. Não há senso de resolução, só há uma falsa indignação.

Nenhuma criança com fome come quando alguém tira uma selfie com um cartaz contra a fome. Nenhum morador de rua encontra uma cama ou recebe tratamento porque há um adesivo no vidro de um carro. Nenhum desempregado consegue um emprego porque uma conta do Twitter possui hashtags do governo incentivando a criação de trabalho.

Seres humanos verdadeiramente preocupados que podem estar dispostos e serem capazes de resolver alguns desses problemas recebe hoje muita violência da polícia. Muitos são enquadrados na Lei de Defesa Nacional. No vão das atenções eles perdem uma oportunidade genuína de fazer o bem porque todo mundo adora bombardeá-los no Facebook.

Será que os heróis do passado que tanto lutaram, fariam de novo tudo, sabendo que a geração seguinte seria estas de “influencers”? Temos que acreditar que aqueles homens e mulheres corajosos foram feitos de material ferro o suficiente para mantê-los na luta, mesmo que soubessem que seus descendentes, feitos de cristal, estariam ansiosos por desperdiçar a liberdade que lhes fora garantia.

 

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RG 15 / O Impacto

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